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A cooperação entre Instituições de I&D da Universidade do Porto


Por Augusto Barata da Rocha*

Agradeço ao INESC Porto este convite para escrever algumas linhas sobre a cooperação entre Instituições de I&D da Universidade do Porto e mais particularmente entre o INESC e o INEGI.

Gostaria também de felicitar o INESC Porto pela sua integração no Pólo da Asprela e todos os seus colaboradores pela última avaliação levada a cabo pela FCT e pela atribuição do estatuto de Laboratório Associado do MCT.

Ao receber este convite fiquei naturalmente preocupado. Tinham-me pedido para escrever sobre uma cooperação que não existe. As dificuldades que senti decorriam de não conseguir descortinar quaisquer razões sérias que justificassem tal situação.

Comecemos então por aceitar o facto de que esta cooperação não existe. Será porque os dois ramos da engenharia (Mecânica, Electrotécnica e Computadores) têm poucos pontos em comum, ou será simplesmente porque, por tradição, não cooperamos.

Se recuarmos apenas duas décadas e fizermos uma comparação entre a Engenharia Mecânica de então e a actual, ficaremos surpreendidos.

Com efeito, o estirador, os desenhos a duas dimensões feitos à mão e passados a tinta, as máquinas ferramentas convencionais, os cálculos estruturais, o empirismo na análise de processos tecnológicos foram substituídos, com surpreendente naturalidade e rapidez, pelo CAD/CAM, pelo projecto 3D, pelas máquinas ferramentas de comando numérico (CNC), pela simulação numérica de processos tecnológicos capaz de prever o sucesso ou insucesso de tais processos sem necessidade de os implementar, em computadores cada vez mais rápidos e com "software" cada vez mais exigente.

As ferramentas da Engenharia Mecânica de hoje nada têm a ver com o passado. Do mesmo modo, raros são os produtos ou os processos a desenvolver meramente mecânicos, estando a electrónica e a informática hoje presentes em todos eles.

A resposta está então dada. Há muitas áreas de intersecção, pelo que todos reconhecemos que a cooperação é essencial, tornando-se difícil compreender por que motivo não é mais efectiva.

Há que encontrar então uma explicação e definir o caminho que conduza a grandes sinergias e a uma forte cooperação.

Parte do distanciamento entre as Instituições pode decorrer de serem distintas as suas missões: umas enfatizam as ligações internacionais, outras, uma investigação mais fundamental, outras, uma vertente mais aplicada com ligações privilegiadas ao meio empresarial.

No caso da FEUP, os Institutos são herdeiros de uma enorme estanquicidade interdepartamental. As fortes ligações à FEUP podem também, nalguns casos, ofuscar as ligações entre Institutos.

Existe também uma certa tradição de maior abertura à cooperação com centros distantes do que com centros próximos (o programa ERASMUS é um bom exemplo).

É, no entanto, possível apontar outras causas. Um profundo desconhecimento recíproco das competências e da actividade de cada um dos Institutos é talvez o factor mais inibidor de cooperação.

A Reitoria da Universidade do Porto tomou a iniciativa, na última feira da Exponor, de apresentar um stand com a apresentação dos vários Institutos de interface, com a exibição de alguns dos seus projectos mais relevantes. Medidas como esta poderão dar um importante contributo na divulgação da respectiva actividade.

A criação do IRIC-UP Instituto de Recursos e Iniciativas Comuns pela Universidade do Porto poderá fornecer um suporte institucional importante e deve merecer toda a nossa atenção. A realização de workshops ou de um dia aberto na FEUP, mais para consumo interno do que externo, seria também uma medida positiva.

Como foi referido num número anterior do BIP, "a cooperação não se força: nasce quando existe oportunidade e quando as pessoas lhe sentem a vantagem". Concordo plenamente, apesar de saber que nalguns casos é necessário despertá-la. Por isso seria bom identificar quem são as pessoas, de um lado e do outro, que, pela sua experiência na gestão de projectos, por experiências passadas de cooperação, por razões históricas, afectivas ou outras, possam ser facilitadores do processo de aproximação. Medidas de descriminação positiva relativamente a projectos de cooperação, por parte dos Institutos, poderão também ajudar a florescer uma actividade partilhada.

Por fim, e não menos importante, a questão da proximidade geográfica. O INEGI tem como prioridade a construção das suas novas instalações nos terrenos da FEUP, junto aos Institutos. Esta prioridade, acarinhada por muitos (alguns, poucos, não têm esta opinião, sabe-se lá porquê?), poderá ser um passo decisivo para uma maior interpenetração entre a FEUP, o INEGI e os restantes Institutos de interface. Contamos com o INESC para nos apoiar!

Como em muitos outros domínios da nossa actividade, qualquer observador atento subscreveria a afirmação de que está quase tudo por fazer...
Por isso, mãos à obra... Marque-se a primeira reunião.

* Presidente da Direcção do INEGI (Instituto de Engenharia Mecânica e Gestão Industrial)

 

Tribuna

Artigo de opinião de convidado da Redacção do BIP.