Por Teresa Andrade *
"E argumenta-se frequentemente que não conseguimos inovar
porque o investimento em I&D não é suficiente. Este
argumento, na minha opinião é apenas parcialmente verdade.
... . A mudança deveria ser implementada nas várias camadas
da organização e não liderada do topo, uma vez que isso cria
uma atitude complacente na organização."
"... a emergência de lideranças é o factor chave. As
lideranças, no nosso meio, necessitam em simultâneo de
competências técnicas e em outros saberes, como comunicação,
trabalhar em grupo, responsabilidade, sentido de
organização, autonomia, flexibilidade e polivalência de
funções. Nós temos um enorme défice de lideranças.”
Estas afirmações apareceram na última edição do BIP,
nesta mesma coluna. Pensei em estender estas linhas e
pensamentos porque os considero suficientemente pertinentes
para "valerem" uma segunda aparição no BIP.
Não conseguimos inovar, ou pelo menos não tanto quanto
desejaríamos, porque em parte nos falta espírito de
liderança nas várias camadas da organização e em parte meios
(factores humanos) para assumir essa liderança. Quero dizer
com isto dizer que o problema está espalhado verticalmente
ao longo de toda a organização.
Por um lado, nas camadas mais baixas PARECE haver um
certo "acomodar" à situação mais ou menos estável em que nos
encontramos, a qual não comporta grandes responsabilidade ou
riscos. Aqui e ali aparecem uns atrevidos e vão saltando
umas faíscas, mas raramente o atrevimento é grande ou a
faísca “perigosa”, de modo que as repercussões são pequenas.
Por outro lado, da parte das camadas de topo PARECE haver
uma certa inércia para encorajar e ajudar a crescer ideias
novas e formalizar lideranças emergentes nas camadas mais
baixas, ajudando a ultrapassar obstáculos que surgem noutras
camadas intermédias da organização. Isto é, ainda que surjam
centelhas, a fogo não chega a ser ateado.
Paralelamente, a muitos de nós falta precisamente as tais
competências não-técnicas anteriormente mencionadas, as
quais apenas alguns conseguem adquirir pela experiência, mas
para as quais efectivamente não existe formação cá dentro.
Tendo dito isto, penso que urge dar suporte e explicação
a estas afirmações, as quais, longe de pretenderem ser
verdades absolutas, exprimem apenas opiniões não
formalizadas, um fluir de pensamentos até agora por
concretizar.
Na minha opinião, um factor que tem influência vertical,
desde o topo até às camadas mais baixas, é o factor “ensino”
e a própria essência do INESC Porto. Não digo o factor
feupista, porque há muitos de nós que não leccionam nem são
leccionados na FEUP. Mas se analisarmos de uma forma
objectiva, vemos que o facto de estarmos envolvidos em
outras actividades que frequentemente ocupam o topo das
nossa prioridades, ainda que com alternâncias, mina
seguramente o nosso empenho e eficácia dentro do INESC
Porto.
É claro que esse mesmo factor também traz os seus
benefícios, directa ou indirectamente, para a instituição.
Nomeadamente os contactos com outros grupos de investigação
e troca de conhecimento, identificação de potenciais
parcerias (e sua concretização), alargamento do mercado de
potenciais futuros colaboradores, etc.
A quantos de nós já não aconteceu ver “morrer” óptimas
intenções ou ideias após uma fase de actividade(1) intensa,
cheios de boas, concretas e decididas intenções e energia,
porque entretanto tivemos de nos dedicar de corpo e alma a
uma outra actividade, na altura, prioritária?
Penso que isto é uma realidade com a qual temos que
viver, enquanto investigadores/docentes/alunos. É claro que
podemos tentar minorar “os estragos”, começando por reforçar
a formação nas tais componentes ditas não-técnicas.
Isto é, se formos capazes de comunicar melhor, trabalhar
melhor em grupo, organizar e gerir com mais eficiência o
nosso tempo e recursos e sobretudo assumir, cumprir e
exigir, partilhar e atribuir responsabilidades, penso que
teremos “meio-caminho andado” para conseguirmos ser mais
eficientes e assumir a tal polivalência de funções para
dessa forma liderar e participar na inovação.
Será necessário estabelecer regras e metodologias de
trabalho para chegarmos lá? Será necessária formação
específica? Eu penso que sim! Temos que criar cá dentro do
INESC Porto uma “engrenagem” que por um lado nos facilite a
vida e por outro nos impeça de descarrilarmos e voltarmos ao
mesmo caos (que no entanto alguns defendem com “unhas e
dentes”), em que tantas vezes não vemos esforços individuais
a somarem-se nem a darem os frutos desejados.
Quais em concreto? ... não me peçam a resposta, eu sou
uma das tais que adorava adquirir essas competências e
polivalência.
(1) entenda-se, falatório!
* Colaboradora da Unidade de
Telecomunicações e Multimédia (UTM)
O CONSULTOR DO LEITOR COMENTA
Cara Teresa, se queres o meu parecer, eu acho que nem
hoje se esgota o tema que em boa hora quiseste repescar.
Estamos a construir um modelo explicativo: faltam as
lideranças porque: a) faltam vocações: b) faltam
oportunidades de se exprimirem.
Poderíamos elencar que faltam meios, só para poder dizer
que este factor é de segunda ordem. Arrumêmo-lo, pois.
Parece-me que falta qualquer coisa, uma cola entre esses
factores identificados: falta uma dinâmica interna, nas
próprias unidades, que promova as vocações e ofereça as
oportunidades.
Falta, no INESC Porto, uma cultura de reunião para livre
discussão. Com honrosas excepções, quase não há reuniões de
área ou unidade que sejam mesmo para debate e discussão, são
mais missa cantada e às vezes sem responso - ou estarei
equivocado?
Algumas das consequências revêem-se no reinventar de
certas rodas, quando doutorandos não aproveitam do trabalho
dos doutorandos ao lado ou dos que os antecederam.
Acho ainda mais evidente este défice nas actividades de
desenvolvimento e contratuais.
Proponho um novo modo de funcionamento. Em cada unidade,
para cada novo contrato, antes de ser entregue a uma equipa
para execução, que se abra um debate científico e técnico
livre. Façam uma reunião, enviem convites. Aberta a todos,
internamente, e (porque não?) aberta a outras pessoas de
outras unidades. Que cada um seja livre de opinar, sugerir
métodos, modelos; de dar contribuições pessoais científicas
ou de gestão do projecto; de oferecer a colaboração pessoal,
ou apenas a experiência em problemas parecidos.
Depois, mãos à obra, a equipa é definida. Fica-lhe a
responsabilidade de aproveitar o que for dito.
Já viste o que poderia trazer de vantagem a aplicação
deste sistema? O sentimento de coesão interna que iria
gerar? As sinergias que poderiam resultar?
Começa pela tua casa, então.
Os líderes, as lideranças, só podem emergir em sistemas
dinâmicos, percebes?