Por Nuno Fonseca*
A minha ligação ao INESC Porto teve início em Setembro de
2001. Logo a seguir a terminar a Licenciatura de Engenharia
Electrotécnica, na área de Energia entrei para a Unidade de
Sistemas de Energia, mais conhecida nos torneios de futebol
por PAS (Power All Stars).
Certamente que não foi por minha influência, mas nesse
ano fomos campeões, pelo que não estranhei a alegria e
espírito de grupo desta unidade. Afinal de contas era uma
equipa de campeões!
De lá para cá nunca mais voltámos a ganhar o campeonato,
mas a alegria e espírito de grupo continuaram a existir...
isto pode parecer um pouco estranho! No entanto, a
explicação é bem simples: esta equipa continua a ter grandes
campeões, com muita energia e que têm ganho outros
campeonatos não menos científicos e técnicos que o futebol!
É por isso que também a mim se aplicam as palavras do novo
Papa BentoVI “... não estou só. Não tenho de levar eu só, o
que na realidade, nunca poderia suportar sozinho.”
Em relação ao tema propriamente dito desta conversa, eu
sou apenas um exemplo e por isso ninguém poderá tirar
conclusões em relação ao que de facto significa para um
engenheiro tirar um mestrado em Finanças.
Frequentar um curso de mestrado é sempre um grande
desafio e é-o ainda mais quando ele está de alguma forma
deslocado em relação ao que seria natural. Parece-me, no
entanto, que muitas vezes alguns engenheiros têm
dificuldades em domínios mais relacionados com as ciências
sociais, o que os impede de desempenhar outras tarefas que
não as “meramente” técnicas.
No meu caso posso dizer que o mestrado em finanças na
Faculdade de Economia me alertou para realidades diversas e
fez-me olhar para as organizações, em particular para as
empresas, do ponto de vista global. Os aspectos técnicos são
muito importantes, mas eles não ditam só por si o sucesso
das organizações.
As finanças são uma área cuja autonomia científica é
ainda muito recente. Só em 1964 é que William Sharpe publica
o modelo de avaliação de activos financeiros (CAPM),
trabalho que lhe valeu em 1990, em conjunto com Harry
Markowitz e Merton Miller, o Prémio Nobel da Economia. Este
modelo descreve a relação entre risco e retorno esperado e é
por isso fundamental para analisar a viabilidade financeira
de um qualquer investimento, projecto, etc.
Como gosta de dizer o Prof. Oliveira Marques, um dos meus
professores de mestrado na Faculdade de Economia, o CAPM
pode ser utilizado até para avaliar a viabilidade financeira
de um casamento... que em geral não é um projecto rentável!
O estudo de alguns conceitos financeiros, como são o caso
dos contratos derivados (opções, swaps, futuros,
etc.), foi um dos aspectos interessantes do meu curso de
mestrado. E é precisamente neste ponto que se estabelece uma
primeira ponte entre os sistemas de energia e os mercados
financeiros.
A organização e funcionamento dos sistemas de energia
está em convergência para um modelo de mercado onde a
electricidade é tratada como uma commodity, isto é,
um produto que pode ser transaccionado num mercado spot,
praticamente em tempo real, ou então a prazo através de
contratos de futuros e forwards.
Uma das consequências deste modelo de organização é a
evolução estocástica dos preços da electricidade que
introduz um conjunto novo de desafios, por exemplo, na
avaliação de activos afectos aos sistemas eléctricos de
energia, como são o caso das centrais produtoras. Outro tipo
de oportunidades existem na gestão do risco, nomeadamente
através da comercialização e avaliação de contratos de
cobertura, nomeadamente opções.
Penso que também o INESC Porto, e em particular a Unidade
de Sistemas de Energia, deve estar atenta a todas estas
oportunidades. Quanto a mim, espero poder contribuir!
O CONSULTOR DO LEITOR COMENTA
Caro Nuno, o entusiasmo com que escreves é contagiante.
Claro que te dou os parabéns pelo teu êxito mas,
fundamentalmente, deixa-me sonhar: que vais poder ser uma
ponte efectiva entre a engenharia e a economia, para que se
robusteça entre nós essa ciência e possamos alargar as
competências do INESC Porto.
Há um espaço livre à tua frente, descobri-lo depende da
tua criatividade e do teu arrojo. Sigam outros o teu
exemplo. O terreno fecundo da multidisciplinaridade é um dos
nichos mais naturais onde a nossa competência se poderá
afirmar mundialmente.
Agora, que já és pós-graduado, mesmo que a nível de
Mestrado, compete-te pensar em orientar outros, em
entusiasmar jovens no caminho que abriste, para se
consolidar massa crítica na área. Mostraste que eras bom
aluno - mostra agora que sabes ser um líder.
* Colaborador da Unidade de Sistemas de
Energia (USE)
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