B o l e t i m Número 51 de Maio 2005 - Ano IV
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O p i n i ã o  

A Vós a Razão
Colaborador licenciado em Engenharia reflecte: “O mestrado em Finanças na Faculdade de Economia alertou-me para realidades diversas e fez-me olhar para as organizações, em particular para as empresas, do ponto de vista global. Os aspectos técnicos são muito importantes, mas eles não ditam só por si o sucesso das organizações.”

Galeria do Insólito
Depois da inoportuna janela do Messenger que se abriu durante visita do ex-Secretário de Estado do Desenvolvimento Económico, Manuel de Lancastre, às instalações da FiberSensing no INESC Porto, eis que novo caso de insólito acontece numa visita oficial - e, temos que desabafar, é sempre na mesma sala...

Asneira Livre
Leitor sugere: “A proposta é simples: definir um objectivo para o registo de patentes para um horizonte temporal alargado, criar um método expedito e rápido de triagem de propostas de registo que valide as mais relevantes e, last but not the least, a título de “cereja em cima do bolo”, criar um incentivo para o registo de patentes.”

Biptoon
Bamos Indo Porreiros

Carpe Diem
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A  V Ó S  A  R A Z Ã O

Um engenheiro a fazer um mestrado
em Finanças

Por Nuno Fonseca*

A minha ligação ao INESC Porto teve início em Setembro de 2001. Logo a seguir a terminar a Licenciatura de Engenharia Electrotécnica, na área de Energia entrei para a Unidade de Sistemas de Energia, mais conhecida nos torneios de futebol por PAS (Power All Stars).

Certamente que não foi por minha influência, mas nesse ano fomos campeões, pelo que não estranhei a alegria e espírito de grupo desta unidade. Afinal de contas era uma equipa de campeões!

De lá para cá nunca mais voltámos a ganhar o campeonato, mas a alegria e espírito de grupo continuaram a existir... isto pode parecer um pouco estranho! No entanto, a explicação é bem simples: esta equipa continua a ter grandes campeões, com muita energia e que têm ganho outros campeonatos não menos científicos e técnicos que o futebol! É por isso que também a mim se aplicam as palavras do novo Papa BentoVI “... não estou só. Não tenho de levar eu só, o que na realidade, nunca poderia suportar sozinho.”

Em relação ao tema propriamente dito desta conversa, eu sou apenas um exemplo e por isso ninguém poderá tirar conclusões em relação ao que de facto significa para um engenheiro tirar um mestrado em Finanças.

Frequentar um curso de mestrado é sempre um grande desafio e é-o ainda mais quando ele está de alguma forma deslocado em relação ao que seria natural. Parece-me, no entanto, que muitas vezes alguns engenheiros têm dificuldades em domínios mais relacionados com as ciências sociais, o que os impede de desempenhar outras tarefas que não as “meramente” técnicas.

No meu caso posso dizer que o mestrado em finanças na Faculdade de Economia me alertou para realidades diversas e fez-me olhar para as organizações, em particular para as empresas, do ponto de vista global. Os aspectos técnicos são muito importantes, mas eles não ditam só por si o sucesso das organizações.

As finanças são uma área cuja autonomia científica é ainda muito recente. Só em 1964 é que William Sharpe publica o modelo de avaliação de activos financeiros (CAPM), trabalho que lhe valeu em 1990, em conjunto com Harry Markowitz e Merton Miller, o Prémio Nobel da Economia. Este modelo descreve a relação entre risco e retorno esperado e é por isso fundamental para analisar a viabilidade financeira de um qualquer investimento, projecto, etc.

Como gosta de dizer o Prof. Oliveira Marques, um dos meus professores de mestrado na Faculdade de Economia, o CAPM pode ser utilizado até para avaliar a viabilidade financeira de um casamento... que em geral não é um projecto rentável!

O estudo de alguns conceitos financeiros, como são o caso dos contratos derivados (opções, swaps, futuros, etc.), foi um dos aspectos interessantes do meu curso de mestrado. E é precisamente neste ponto que se estabelece uma primeira ponte entre os sistemas de energia e os mercados financeiros.

A organização e funcionamento dos sistemas de energia está em convergência para um modelo de mercado onde a electricidade é tratada como uma commodity, isto é, um produto que pode ser transaccionado num mercado spot, praticamente em tempo real, ou então a prazo através de contratos de futuros e forwards.

Uma das consequências deste modelo de organização é a evolução estocástica dos preços da electricidade que introduz um conjunto novo de desafios, por exemplo, na avaliação de activos afectos aos sistemas eléctricos de energia, como são o caso das centrais produtoras. Outro tipo de oportunidades existem na gestão do risco, nomeadamente através da comercialização e avaliação de contratos de cobertura, nomeadamente opções.

Penso que também o INESC Porto, e em particular a Unidade de Sistemas de Energia, deve estar atenta a todas estas oportunidades. Quanto a mim, espero poder contribuir!
 

O CONSULTOR DO LEITOR COMENTA
Caro Nuno, o entusiasmo com que escreves é contagiante. Claro que te dou os parabéns pelo teu êxito mas, fundamentalmente, deixa-me sonhar: que vais poder ser uma ponte efectiva entre a engenharia e a economia, para que se robusteça entre nós essa ciência e possamos alargar as competências do INESC Porto.

Há um espaço livre à tua frente, descobri-lo depende da tua criatividade e do teu arrojo. Sigam outros o teu exemplo. O terreno fecundo da multidisciplinaridade é um dos nichos mais naturais onde a nossa competência se poderá afirmar mundialmente.

Agora, que já és pós-graduado, mesmo que a nível de Mestrado, compete-te pensar em orientar outros, em entusiasmar jovens no caminho que abriste, para se consolidar massa crítica na área. Mostraste que eras bom aluno - mostra agora que sabes ser um líder.

 

* Colaborador da Unidade de Sistemas de Energia (USE)



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