B O L E T I M Número 65 de Outubro 2006 - Ano VI

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O p i n i ã o  

  • A Vós a Razão
  • Colaborador questiona-se: “Que polémica ou crítica lançar quando estamos numa instituição que tem a coragem de ter no BIP, penso que com consulta pública, uma secção aberta à crítica?”

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E D I T O R I A L


O choque cultural

Que um país, com a dimensão e importância de Portugal, tenha decidido formar um enorme consórcio das suas melhores universidades e institutos de investigação para firmar um convénio com uma universidade de referência norte-americana como o MIT, é notável.

Dimensão e importância de Portugal: não menosprezamos. Falamos de um país englobado no bloco dos mais ricos do mundo e não dos empobrecidos, referimo-nos a um país industrializado e não a um carente de assistência internacional, temos em conta um país com política planetária graças à história e língua e não uma potência meramente regional e com interesses locais.

Portugal surpreende-nos, é um país admirável. É tão admirável a sua vocação para produzir soluções originais e extremamente efectivas como é notável a sua contínua capacidade de auto-flagelação.

As soluções mais originais das últimas décadas, e que habitualmente nos orgulhamos a ponto de as citar como exemplos aos estrangeiros que nos pedem contas, todas resultaram de visões de grande escala e de cooperação, onde outros apenas experimentaram a fragmentação.

O Multibanco: uma rede única em resultado da associação dos nossos bancos principais que, em vez de competirem e criarem cada um a sua rede própria, se associaram para gerir uma infra-estrutura e serviços comuns, com evidentes benefícios dos cidadãos. A Via Verde: em vez de cada concessionário adoptar o seu sistema próprio de pagamento e a sua fidelização, todos recorrem ao sistema comum colocando Portugal como o país com os cidadãos melhor servidos do mundo nesta matéria. A b-on: um enorme consórcio de instituições públicas e privadas e um contrato colectivo com as maiores editoras do mundo, em vez de cada biblioteca efectuar o seu contrato individual e as suas aquisições próprias, com evidentíssimo benefício para todos os cidadãos recorrendo às bibliotecas universitárias.

Estas grandes ideias, aliás de simplicidade meridiana, conseguiram cada uma oferecer a possibilidade de saltos qualitativos apreciáveis em Portugal. Com uma eficiência de uso de meios notável, com uma eficácia invejável.

A forma final do convénio com o MIT tem o mesmo potencial, oferece-nos a oportunidade de beneficiar em escala nunca antes experimentada na área do conhecimento e da ciência. Só depende de nós. Só depende de nós agarrar a sorte agora que ela está domesticável. Não é que nos faltasse ciência (embora possa faltar), mas é que a contaminação cultural com o pragmatismo americano e a necessidade de cooperação nacional vão-nos ser um choque terapêutico estimulante. Para não falar do que este consórcio com o MIT alavanca na forma de prestígio internacional.

Claro que temos que levar com os discursos dos cépticos de fé ou profissão. Quando se propõe algo em Portugal, quando alguém quer fazer alguma coisa a sério, não falta que logo avance com opiniões do tipo “esta medida só por si não resolve”, “o problema é muito mais complexo”, “os efeitos nefastos vão-se fazer sentir aqui e ali”, “fez-se precipitadamente”, “mais uma obra de propaganda”, “devia-se começar por outra coisa”, “faltam as condições”, “não vai adiantar nada”. Há um prazer quase orgásmico em prever a desgraça: se estiverem certos, terão sido profetas e se estiverem errados a euforia do bom resultado vai ser tanta que ninguém se lembrará dos seus negros prognósticos.

Assim é Portugal. Porém, no caso presente, é tão fabulosa a oportunidade que até encontramos em nós paciência para os agoureiros do costume.



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