A S N E I R A L I V R E
Licença para a Maternidade
Por Lídia Vilas Boas *
Quando me pediram para escrever umas linhas sobre a minha experiência de recém-mamã, pensei (pouco :-)) em não o fazer. Não por questões pessoais de fundo, mas simplesmente porque a minha experiência não seria, nem das mais excitantes nem das mais inovadoras para partilhar. Além disso, também tenho uma opinião muito radical em relação a determinadas situações e para algumas pessoas mais sensíveis, posso parecer um bocadinho áspera e muito pouco sensata!! Mas agora que a Maternidade está na moda, e que contribuí (pouquinho) para o aumento da natalidade, aqui vão algumas ideias soltas.
Eu e o meu marido resolvemos ter um bebé em fins de 2004, depois de já estarmos casados há alguns anos. Não é que o relógio biológico (que eu nem sei o que é, confesso) apertasse, mas porque decidimos que estava na hora. Estávamos certos que iríamos abdicar de muita coisa, pelo menos nos primeiros anos, mas nunca imaginamos que seria tão complicado. A gravidez correu muito bem, fiz a preparação para o parto, como é da praxe (pelo menos nos casos de 1º filho) e perto do fim do mês de Novembro, finalmente chegou a Inês.
A preparação para o parto pouco adiantou e parece-me que pouco adiantará para a generalidade das pessoas. Se o sistema - entenda-se profissionais de saúde em hospitais públicos – funcionasse, não seria preciso preparação. É difícil prepararmo-nos para uma surpresa. As aulas são úteis para aprender a tratar do bebé e conhecer experiências de outras mães. Nada mais. Deviam existir “Aulas de Preparação para a Maternidade” que se deveriam alongar durante a licença. Já que temos o benefício de termos uma licença longa, porque não aproveitar bem estes dias e prepararmo-nos para bem desempenhar mais uma missão, a de sermos mães? Por mim falo: eu não aproveitei bem a minha licença. As cólicas da minha filha não deixaram. Foram meses, dias, horas muito longas. :-(
A verdade é que a maternidade é uma opção que carrega muito medo e ansiedade e tudo é muito nosso, muito da mãe - perdoem-me os homens, os pais que estão a ler :-). Depois, é uma abnegação que não é tomada em sã consciência. Quando pensamos em aumentar a família, nunca pensamos em todas as consequências nem nos momentos maus. E depois, os amigos só nos alertam para o aumento do encargo financeiro e alguns, para as noites mal dormidas. Vá lá, sejam sinceros. Deixem o pudor de lado! Há tanta coisa que se perde. Eu digo que para muitos a opção de não ter filhos é simplesmente por gostarem muito do tempo que dedicam a eles próprios. E há que respeitar, assumir essa opção e dizê-lo, sem medo de olhares esquivos.
Qual incentivo do governo, qual penalização, qual quê!!! Nem só de incentivos vive o mundo! :-); Vejo-vos agora a rir, com toda a certeza. Ou então a pensar “Esta gaja é maluca!” Mas não sou. Uma família grande ou pequena, exige uma grande organização, dedicação (em particular da mãe), trabalho de grupo, entreajuda, muuuuiiitttttaaaa paciência e abnegação total. É certo que um sorriso e um bocejo fazem esquecer muita coisa, mas sejamos sinceros. Depois, também há que lidar com a pausa, que nós mães do século XXI, temos que fazer em termos profissionais. Lidar com a pausa e com o regresso! Em certas profissões, é fácil retomar o dia-a-dia. Noutras, nem por isso. Para alguns é fácil aderir ao tele-trabalho, para outros nem por isso. E já que em termos de produção de licenças lideramos o mercado, aproveito para pedir que sejam tolerantes com as recém-mamãs, que regressam perdidas em papéis, regras novas, horários e preocupações diferentes. :-)
Portanto, já sabem: cansados de dormir até às 10h, ir ao cinema, jantar a horas normais, ler, ver televisão, namorar, passear, ir à ginástica, ficar na preguiça.... tenham um filho! O vosso mundo ganhará um novo colorido! :-)
P.S.: A minha menina é das coisas mais importantes e especiais que eu ganhei nos últimos tempos, sublinho. Além de tudo é linda e, segundo dizem, parecida comigo! :-)
* Colaboradora do Departamento de Informação e Logística (DIL) |