A S N E I R A L I V R E
Destinos
Por Dionísio Pereira*
Para quem gosta de viajar e conhecer novas realidades fora do expediente do “enlatado” turístico, os programas de doutoramento, o programa Erasmus ou outros sempre constituiram uma excelente oportunidade para que tal aconteça.
No meu caso pessoal tive a oportunidade de no período entre 2005 e 2007 passar a maior parte do tempo na Finlândia no âmbito do meu programa de doutoramento.
Desengane-se o leitor se pensa que as linhas que se seguem são um desbobinar do alto padrão de vida e tecnológico daquele país quando comparado com o nosso. Resolvi isto de uma maneira muito simples: eles têm tudo isso e nós o melhor jogador do mundo. Sinceramente, acho que dá ela por ela.
De facto, prefiro debruçar-me sobre alguns estereótipos e curiosidades fora daquilo que seria esperar ouvir do país da Nokia e do Linux. Uma das ideias e das generalizações quase fossilizadas entre nós é que no norte da Europa as pessoas são todas muito fechadas e que nós do “sul” é que somos uma malta porreira.
Com efeito, aquilo que se passa é que por vezes a atitude tão inesperadamente descontraída e informal do pessoal lá de cima como que gera em nós um mecanismo inconsciente de auto-defesa habituados que estamos ao: “Sr. Doutor...Sr. Engenheiro como é que tem passado?....”.
Um dos outros grandes mitos tem naturalmente a ver com a meteorologia. Afinal as temperaturas não raramente chegam aos -20C tendo eu próprio experimentado -32C na minha deslocação pedestre diária entre a casa e a universidade.
A este propósito peço-vos para não acreditarem mais na história de que se fizermos aquela necessidade cá fora fica um arco no ar. Eu mesmo fiz questão de numa dessas madrugadas polares vir cá fora de calções e chinelos e de arco nada. Se calhar só funciona mesmo para lá do círculo polar ártico!?
O local de convívio nacional na Finlândia são as saunas que reclamam como uma invenção sua, mas que na verdade tem a sua origem na Rússia. É claro que muita coisa se poderia dizer sobre as saunas, mas decidi destacar a regularidade com que no centro onde estava ORC - Optoelectronics Research Centre eram realizadas reuniões científicas de verdade na sauna instalada no 3º piso.
Devo confessar que obviamente me pareceu estranho, mas seria sequer possível imaginar uma reunião de projecto ou de unidades do INESC Porto algo de semelhante sucedesse? Não me parece.
Deixei para o fim dois dos items clássicos de sobrevivência nesse grande país que é o Estrangeiro: o idioma e a comida (secção Finlândia, claro). De uma forma honesta, o mínimo que se pode dizer é que o idioma finlandês (suomi) é completamente impenetrável e até perigoso.
Vejamos, por exemplo, a inocente pergunta “Como estás?”, o que em finlandês se traduz por “Mitä Kuuluu?”. Ora cá está, isto perguntado a um português das Caldas dava logo direito a qualquer coisa do género: “met... ...meu... do... ...alho”, o que bem poderia gerar uma situação desagradável.
Voltemo-nos por isso para a comida local. Bem, sobre isto ainda bem que me resta pouco espaço para completar a página A4 porque na verdade não consigo destacar nada de entre o marasmo finlandês nesta matéria. É caso para dizer que bem podíamos trocar um pouco da nossa gastronomia pela sua tecnologia e ficávamos certamente ambos a ganhar.
Ainda assim recomendo uma visita ao país da Lapónia, dos mil lagos e do sol da meia-noite. Façam as malas e Boa Viagem!
* Colaborador da Unidade de Optoelectrónica e Sistemas Electrónicos (UOSE)
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