B O L E T I M Número 81 de Março 2008 - Ano VIII

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O p i n i ã o  

  • A Vós a Razão
  • Colaboradora afirma: "Quando todos “vestem a camisola” o desfecho é verdadeiramente excepcional"...

  • Asneira livre
  • Colaborador revela: "Por vezes os “openspace” dão a sensação de serem uma autêntica passerelle onde alguns personagens se passeiam exibindo os seus dotes vocais enquanto seguram o telemóvel"...

  • Galeria do Insólito
  • Todos temos o direito de ter as nossas superstições, mas há quem as leve demasiado a sério…

  • Biptoon
  • Mais cenas de como bamos indo porreiros...

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E D I T O R I A L


A propósito da descida do IVA

Numa casa onde entrem 1000 Euros por mês, do salário do papá e da mamã, digamos, e onde se gastem 1100 Euros por mês, quanto tempo se pensa que a família aguenta?

A estratégia já foi por demais experimentada: a nobreza empenhou-se e arruinou-se. Vão-se os anéis, fiquem os dedos, aguentou-se o fausto e a pose à custa da progressiva ruína e dívida e, no final, os dedos foram-se na mesma.

Corrigir as contas pode ser difícil: e é sempre doloroso. Há que cortar na despesa, que o salário não estica: mas onde? E ainda que o salário estique, não é de imediato.

Cortar na despesa, porém, implica privações – mesmo o supérfluo, quando virou hábito, custa a largar. Se é na nossa casa, compreendemos a relação entre causa e efeito, vemos onde se dissolve a chapa ganha. Mas no todo colectivo, essa relação fica esbatida, imprecisa. É, pois, mais perceptível o golpe duro e menos sólida a percepção do que se pode conseguir com o sacrifício, quando se trata do cidadão comum e das contas da nação.

É por isso que os símbolos se avolumam e adquirem valor quase místico, se a discussão em causa é sobre o Estado, ou seja, sobre o nosso património e empenhamento colectivo. Seria o caso da anunciada descida do IVA, então.

Vivem-se, porém, tempos impropícios. Parece ter-se forjado uma santa aliança entre comentadores, políticos e o negócio dos media que visa apurar, em Portugal, quem consegue ser mais céptico, depreciador ou pessimista – do que quer que se anuncie, fale, pense ou deseje.

Se quisermos ter uma boa panorâmica do que é esta histeria grupal, leiam-se os comentários que são inscritos por voluntariosos cidadãos nos sites da Internet dos nossos jornais, a propósito das várias notícias. O tom é quase sempre excessivo e quase sempre exprimindo descrença.

Se Portugal passou a ser país exportador líquido de tecnologia, isso não significa nada, é treta.

Se um cientista português alcançou alguma notoriedade, é porque é a excepção, aqui não há condições para fazer nada de jeito.

Se uma empresa portuguesa consegui algum êxito internacional, olhem mas é para o Bairro do Lagarteiro, essa é que é a realidade.

Se a informática chega aos tribunais, isso não vai adiantar coisa nenhuma. Democracia electrónica? Balelas.

Se um imposto desce 1%, nada significa, subir 1% é que seria um escândalo.

É por isso que é mesmo difícil ir construindo Portugal: parece que só somos mesmo bons é a dizer mal.

O que espanta a quem não nos conhece, ou só nos conhece por nos ouvir e ler, é que vamos indo e progredindo. À custa, certamente, de alguns de nós, mais silenciosos, talvez. Ou, noutra maneira de dizer, com menos ruído.



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