B O L E T I M Número 67 de Dezembro 2006 - Ano VI

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A  V Ó S  A  R A Z Ã O


Uma luta pela igualdade

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Por Andreia Passos *

A Associação Portuguesa de Mulheres Cientistas (AMONET) e o Departamento de Sociologia da FLUP promoveram, há dias, um encontro para debater o lugar da Mulher na Política Científica. Uma das conclusões a que se chegou foi a de que, muito embora persistam, em Portugal, naquela como em tantas outras áreas, mecanismos de reprodução de práticas discriminatórias em relação às mulheres, as estatísticas mais recentes publicadas pelo EUROSTAT e pelo INE posicionam o nosso país no conjunto de Estados europeus com maiores taxas de mulheres cientistas e de diplomadas em áreas científicas e tecnológicas.

Estes indicadores inscrevem-se,aliás, numa tendência mais ampla que aponta claramente para uma feminização do ensino superior em Portugal e para a entrada das mulheres em domínios que constituíam autênticas fortalezas androcêntricas.

Estes dados têm sido bastante divulgados e não foi aqui, a meu ver, que residiu o maior interesse do encontro, mas antes na situação que passo a descrever: questionada a audiência sobre aqueles resultados, todos os que se arriscaram a intervir justificaram a melhor performance do sexo feminino no ensino superior com base em argumentos que remetiam para construções de género muito “naturalizadas” na consciência de uns e de outros: as mulheres teriam e têm assim mais sucesso, porque são “mais metódicas”, “mais responsáveis”, “mais aplicadas”, “mais estudiosas” do que os homens.

A violência dos estereótipos impôs-se, porém, à capacidade de interpretar aqueles valores de modo mais objectivo: as mulheres são cada vez mais bem sucedidas naquelas áreas porque também são inteligentes! É que a inteligência não é propriedade exclusiva dos homens, embora, durante séculos, tenha sido considerado um verdadeiro apanágio masculino, uma matriz configuradora da sua identidade individual e social. E se, no plano teórico, é inegável que tenhamos chegado ao patamar do reconhecimento de que as competências intelectuais não são biologicamente determinadas, mas socialmente construídas, a verdade é que, no plano das práticas sociais, das representações simbólicas, da linguagem e do discurso, por vezes de forma dissimulada, invisível ou até inconsciente, se sentimentaliza (e inferioriza) a inteligência e a intelectualidade femininas.

Caberá, por isso, a homens e mulheres trabalharem para assegurarem condições de igualdade na construção daquelas competências para o bem de uns e de outros, porque, efectivamente, a sociedade fica mais pobre quando a igualdade não passa de um mero princípio cristalizado na lei arredado da verdadeira vivência humana.



* Colaboradora do Departamento de Informação e Logística

CONSULTOR DO LEITOR COMENTA

Cara Andreia,

Excelentes notícias nos trazes. Fazem-nos, de alguma forma, sentir um certo orgulho na sociedade portuguesa, ao arrepio da prática lusitana tão interiorizada da auto-flagelação. Do que tu falas, descrito em linguagem técnica, é da derivada.

As análises estáticas são, em regra, tendenciosas, inadequadas, não rigorosas. Que não estamos numa situação de paridade, é inegável. Que a situação tem mostrado uma evolução no tempo no sentido correcto, isto é, do estabelecimento de equilíbrios na repartição dos direitos e do seu exercício, no protagonismo e na assunção de poder na sociedade, é do mesmo modo inegável.

Mais: seria profundamente injusto não o reconhecer – porque é um mérito extraordinário da sociedade portuguesa. Acredito que em muitos (muitas) há uma honesta impaciência, quereriam andar mais depressa, quereriam a utopia para ontem, mas quem negará que a transformação social é um objectivo geracional?

Agora, no resto da tua mensagem, revela também em ti um estereótipo que te turva o entendimento na mesma escala que te parece reconhecer nos demais. Porque eu te solicito: define-me inteligência.

Todo o psicólogo, todo o psiquiatra moderno te dirá que ser metódico, ser responsável, etc., aquelas virtudes que tua achas menores, são componentes da inteligência.

Têm aparecido cada vez mais estudos científicos demonstrando, sem tabus, que os cérebros das mulheres não funcionam da mesma forma que os dos homens, em várias funções cognitivas. Já passámos o tempo da frenologia e o tempo dos estudos destinados a demonstrar as conclusões que se queriam tirar.

Aquela diferença no modo do processamento cognitivo tanto permite explicar certas vocações que são tradicionalmente reconhecidas de forma empírica como está a permitir propor, ainda incipientemente, abordagens de ensino, treino, formação distintas para homens e mulheres, rapazes e raparigas, meninos e meninas.

A igualdade é um imperativo global na escala dos valores que se transforma em meta estratégica. A paridade tout court e a todo o custo, granularmente verificada, é um contra senso, especialmente à luz dos conhecimentos mais recentes. O que importa, é que a sociedade seja justa nas oportunidades para os seus membros todos.

Em suma: diferenciar o tratamento para proporcionar igualdade.



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