B O L E T I M Número 62 de Maio 2006 - Ano VI

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E D I T O R I A L

Nada de tabus

AVALIAR, AVALIAR

O anúncio de que a avaliação dos professores no ensino secundário iria ter componentes de avaliação com origem na opinião expressa dos pais vai, com certeza, fazer agitar de novo as águas da nossa educação.

Discuta-se. Nada de tabus. Com uma cautela: separe-se o princípio dos detalhes de implementação.

A implementação é importante, pode afeiçoar, condicionar a aplicação. Mas essa verificação só deve ser efectuada depois de aceite o princípio numa forma razoável e que faça sentido.

Infelizmente, têm ainda força na nossa sociedade as estruturas organizadas que invocam de imediato possíveis dúvidas ou detalhes de organização para tentar inviabilizar a discussão dos princípios. E a discussão essencial é a que tem que ser colocada nos exactos termos de um projecto de engenharia: avaliar pelos resultados.

As unidades do sistema científico nacional beneficiaram extraordinariamente da introdução do princípio da avaliação no seu desempenho colectivo. O INESC Porto beneficiou extraordinariamente da introdução do princípio da avaliação do desempenho dos seus colaboradores. Ninguém no uso pleno das suas faculdades hoje o contesta.

É com tristeza que observamos o papel retrógrado, conservador, reaccionário de alguns sindicatos na defesa do indefensável: um sistema de avaliação-de-faz-de-conta, que foi o que até agora subsistiu no nosso sistema escolar. Estas posturas fazem mais pela ruína do país que a subida do barril de petróleo. Sem tabus: é com tristeza que observamos o papel heróico e nobre da actividade sindical ser caricaturado por esta atitude corporativa e perniciosa ao país.

Nesta discussão, não pode haver tabus. Em engenharia, avaliam-se os desempenhos, é assim que estamos habituados e é assim que somos formados. Ora a máquina pedagógico-ideológica que tem sustentado o nosso ensino primário e secundário, se sujeita a avaliação, já não há manutenção que a salve.

As pessoas não são más ou incompetentes; em regra, as estruturas organizacionais em que têm que se movimentar é que as levam a ser ou não produtivas. Isto aplica-se aos professores, sem hesitação. Mas as regras condicionam ou sugerem comportamentos; e a falta de esquemas credíveis de avaliação do desempenho e dos resultados significa que não há malha de retroacção no sistema. Como qualquer engenheiro sabe, isto significa que o sistema não tem controlo.

Ou pior, que está entregue a si mesmo e normalmente desgoverna-se.

Avalie-se a máquina. Se não funciona, ou funciona perversamente, mude-se. Introduza-se o controlo necessário. E sem tabus.



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