B O L E T I M Número 81 de Março 2008 - Ano VIII

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D E S T A Q U E

Artista residente desenvolve projecto de música experimental

INESC Porto promove sinergia entre arte e ciência

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Em Dezembro de 2007, o INESC Porto acolheu Simão Costa que desenvolveu durante três meses na Unidade de Telecomunicações e Multimédia, o projecto iAVi (instalações Áudio Vídeo interactivas), no âmbito do Programa Rede Residências: Experimentação Arte|Ciência e Tecnologia, financiado pela Ciência Viva e a Direcção-Geral das Artes. Músico, pianista e compositor com ferramentas de informática musical, o artista tirou o bacharelato na Escola Superior de Música de Lisboa e tem desenvolvido projectos inter-disciplinares em áreas tão diversas como a dança, vídeo, fotografia, cinema, teatro e actividades que se ligam com a tecnologia.

O projecto iAVi
O projecto do artista Simão Costa, denominado iAVi - instalações Áudio Vídeo interactivas, teve origem em Fevereiro, em Visby na Suécia, no VICC- Visby International Center for Composers, mas foi no INESC Porto, e com o apoio dos investigadores Fabien Gouyon e Carlos Guedes, que ganhou forma e características inovadoras: uma bola de espuma com 30 centímetros de diâmetro suspensa por um elástico podia à partida servir para muitas coisas. Acrescentem-se sensores que permitem a produção musical através do toque e chega-se a um instrumento musical de características inéditas, pronto para aguçar a curiosidade e convidar o público a dar largas à imaginação.

Concebidas para funcionar em espaços públicos, as iAVi procuram criar circunstâncias específicas aos espaços em que são instaladas, ao apropriarem-se de imagens e sons desse mesmo espaço como materiais audiovisuais de base. As actividades que o projecto envolve são distintas e passam pela procura, análise e desenvolvimento conceptual para futuras implementações de módulos iAVi; recolha de materiais, que inclui filmagens, captação de áudio, edição e tratamento dos materiais, composição e processamento áudio-visual; e programação informática Max/Msp/ Jitter e implementação dos sistemas interactivos. 

O conto de fadas das iAVi
Simão Costa gosta de imaginar que alguém possa pegar em coisas "feias" sem valor e transformá-las em algo que suscite interesse e intriga. Conseguir usar a sensação do inusitado que nos atinge quando somos tomados em falso e puxar a sensibilidade do público incauto a partir daí. “É assim que pego em sons e imagens "pobres" retirados de circunstâncias potencialmente presentes no quotidiano de qualquer pessoa e as redesenho, mudando-lhes o enfoque”.

“É mais ou menos como construir um conto de fadas: estão lá as referências à realidade "normal", mas esta sofre desvios "expressivos". Interessa-me desenvolver um trabalho que torne possível mexer no som e em imagens com a mesma propriedade com que nos relacionamos com objectos físicos”, justifica o músico.

A inovação na área 
Como explica o compositor, a inovação é uma questão complicada em termos artísticos. Ainda assim, Simão Costa arrisca dizer que prefere pôr as coisas em termos dos pressupostos gerais subjacentes ao projecto. As iAVi são um grupo de trabalhos que procura uma proximidade com o quotidiano, tem um universo imagético e sonoro que recorre a materiais presentes no nosso quotidiano, é projectado para locais públicos, numa estratégia em que os conteúdos vão ao encontro do público, em vez de procurar chamar o público para tomar contacto com os conteúdos (numa sala de concertos ou galeria por exemplo).

“Estou absolutamente convencido do potencial expressivo e da riqueza das expressões artísticas ligadas à arte contemporânea, mas estou também interessado em perceber porque razão os conteúdos produzidos nesta área estão tão afastados da sociedade em geral. Esta é uma questão muito lata, mas que me interessa muito”, afirma Simão Costa. O músico explica ainda que construir peças e desenvolver de base um trabalho que coloca conteúdos de uma arte geralmente entendida como "experimental" no espaço público é um desafio de base. As ferramentas como a informática e a interactividade são também nelas próprias um desafio e uma mais-valia. Ainda assim, tenta nunca se esquecer do seu estatuto: "são só ferramentas".

O futuro nas Instalações Áudio Vídeo Interactivas
Quando questionado acerca do que espera fazer no futuro na área das iAVi, Simão Costa explica que o fim do período de trabalho no INESC Porto corresponde mais a um início de que um final para este projecto. Nesta fase aparece, então, a primeira versão das iAVi, chamada Metro4#1. Esta versão está concluída, outras ficaram desenhadas e projectadas, algumas só com esboços, outras em desenvolvimento avançado.

O músico encontra-se neste momento a fazer contactos para estabelecer parcerias com instituições que tutelam os espaços para os quais algumas das versões das iAVi foram projectadas, tais como o Metropolitano, a CP, ou discotecas. Como músico e compositor, Simão Costa diz que está interessado em percorrer o caminho, mas onde vai chegar nem sempre é o mais interessante. “A resposta é um pouco idealista e lamechas, pois planeio geralmente a médio prazo, um passo de cada vez”, admite.

A contribuição do INESC Porto
Segundo Simão Costa, o INESC Porto foi um local privilegiado para desenvolver este projecto. “Para além das questões de ordem prática e de ter sido muito bem recebido por todos com quem tive a oportunidade de me cruzar, o ambiente de trabalho e a especificidade das áreas de investigação desta instituição instigaram desde logo a minha curiosidade, principalmente nas áreas mais próximas do meu trabalho. Gosto de conseguir criar contextos de trabalho que sejam em si um desafio e aqui foi com certeza o caso”, garante o músico.

Apesar da curta duração da bolsa (três meses) e da condição mais ou menos “satélite” do músico em termos do enquadramento que o Programa Rede de Residências - Arte Ciência e Tecnologia proporciona em relação aos projectos já em curso no INESC Porto, Simão Costa esclarece que a experiência acabou por ditar uma estratégia pessoal que privilegiou um registo de autonomia e auto-suficiência, nomeadamente no que respeita à escolha de equipamento e hardware a utilizar no projecto.

A ligação da música às crianças
A vontade de criar projectos tão variados e diversos entre si levou o músico a desenvolver projectos pedagógicos por achar que estes são estratégicos em todas as áreas, e a música não é excepção. “As crianças têm povoado desde sempre o meu trabalho, como professor de piano, como pai. A inclusão desse universo nos projectos como compositor/criador surgiu de uma forma relativamente espontânea, como uma consequência quase inevitável”, clarifica Simão Costa.

Na prática, o projecto Alto&Falante consiste na apropriação, por parte do músico, das vozes das crianças que participam nos ateliers (gravando ou processando em tempo real as suas vozes). “O impacto do factor surpresa é brutal e muitas vezes perguntam "mas tu és mágico?”. A partir daí esboçam-se personagens, lugares, construindo uma narrativa ao longo de uma hora de brincadeira com o som. As crianças percebem os desenvolvimentos e quebram totalmente as barreiras culturais que se poderiam levantar para rejeitar os conteúdos sonoros que vão aparecendo nos seus ouvidos. "É assim, de forma lúdica, que pretendo diversificar e quiçá enriquecer os seus relacionamentos com o mundo acústico que as rodeia", explica o músico.

O sucesso do projecto
Depois da apresentação dos resultados do projecto iAVi no Fórum FNAC de Sta. Catarina, no dia 7 de Fevereiro, onde o músico pôde contar com a participação do director do INESC Porto, Artur Pimenta Alves, foi a vez da apresentação na cidade do Porto. Assim, no dia 1 de Março, o projecto foi apresentado no contexto do "dia das galerias" na Rua Miguel Bombarda, em colaboração com a Galeria Fernando Santos, e contou com uma afluência de público entre 300 a 600 pessoas.

Simão Costa realizou ainda uma apresentação prática do projecto no auditório do INESC Porto, no dia 13 de Março, a que se seguirão as apresentações no dia 24 de Março do iAVi - metro4#1 em Seia, Festival Dias da Música Electroacústica e, no dia 28 de Março, no Bairro Alto em Lisboa, na Casa dos Dias da Água.

Conheça melhor Simão Costa

Simão Costa nasceu em 1979, na Lapa, em Lisboa. Vive e trabalha na capital como músico independente.

BIP – Como prefere passar os tempos livres?
Simão Costa - Com as minhas filhas, regra geral ao ar livre, não poucas vezes em cima de uma bicicleta. Adaptei a minha bicicleta para me poder transportar a mim e às minhas duas meninas na mesma bicicleta. É um sucesso!

BIP – Livro que mais gostou de ler?
SC - O mais que... Não é fácil… A Jangada de Pedra do Saramago marcou-me bastante.

BIP – Filme preferido?
SC -
Tenho uma relação difícil com o cinema, pois tendo a adormecer descontroladamente. O visionamento do cinema é demasiado passivo e em diferido, não está muito dentro das minhas preferências. Mas o Shrek faz-me rir, tem uma tradução para a língua portuguesa óptima e está no top, meu e das minhas filhas.

BIP – Tipo de música preferido?
SC - O meu tipo preferido é a "diversidade". É impossível destacar géneros ou autores. Sou obcecado pela apropriação e manipulação de som. Há muitas pessoas a fazê-lo de forma sublime, sendo que os resultados finais podem ser muito, muito díspares. Gosto de pessoas que mexem no som de forma sublime. (Não quero fugir à pergunta, mas já fugi).

BIP – Um prato preferido?
SC - Sou guloso e gourmê, adoro pesto no Verão e boa sopa portuguesa no Inverno.

BIP - O que acha da cidade do Porto? Tem algum local preferido?
SC -
Fiquei fã do Porto, adorei a cidade. Tive sorte com o clima, adoro o vosso metro :). Morei no centro, na Rua 31 de Janeiro, sempre a ouvir a estação de S. Bento em eco lá atrás. Tem uma boa dinâmica cultural, sou fã da Casa da Música. A cidade reserva a sensação de que se pode ir a pé para todo o lado, Nunca andei de carro nesta cidade, o que é perfeito. Não sei qual o meu local favorito. 
 
Para saber mais sobre o artista pode consultar a sua página pessoal: http://www.maosimmao.com/.



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