USE
ajuda a formar Mercado Ibérico da Electricidade
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A USE tem
vindo a apoiar a Entidade Reguladora do Sector Eléctrico em
questões técnicas ligadas à criação do Mercado Ibérico de
Electricidade. João Peças Lopes, Manuel Matos e José Pereira da
Silva (com a ajuda de Manuel João Aguiar) são, para já, os
consultores de serviço na construção do modelo que permitirá
em breve juntar a energia eléctrica de Portugal e Espanha num só
mercado. O objectivo é unir esforços para embaratecer a energia
nos dois países e evitar desperdícios. O INESC Porto é a única
instituição de I&D com papel consultor neste processo.
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Fase de discussão
"Na prática, a tarefa da USE neste processo é acompanhar a
definição do modelo segundo o qual o sistema integrado de
Portugal e de Espanha vai funcionar em termos de mercado
relativamente à comercialização da energia eléctrica e em
termos técnicos em relação à forma de operação". Quem o
diz, com a boa disposição que o caracteriza, é João Peças
Lopes, que coordena a actividade de consultoria que a Unidade tem
vindo a prestar à ERSE.
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Todo
este processo teve início em Novembro de 2001, com a assinatura
de um protocolo pelos ministros da Indústria e Energia de
Portugal e Espanha. Na sequência desta decisão política, os
Reguladores elaboraram um documento de discussão onde
explicitaram várias perguntas comentadas para, assim, lançar uma
discussão pública alargada.
Às questões responderam as grandes empresas que
operam no sector eléctrico em Portugal, como a REN, EDP, Ecociclo,
Fenacoop, CP e Tejo Energia. O contributo da USE tem sido, para
já, interpretar as respostas destes agentes e procurar encontrar
um modelo teórico equilibrado para o funcionamento do sistema.
"Nesta interpretação, é obrigatório que sejamos muito
consistentes e rigorosos naquilo que dizemos", realça o
coordenador-adjunto da USE. "Com base nessa análise,
começaremos depois a construir um modelo, explorando consensos e
utilizando, naturalmente, o bom senso e o conhecimento que
adquirimos de experiências que decorreram no mundo nos últimos
anos", explica.
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Exemplos internacionais
De acordo com o investigador da USE, é importante conhecer o que
se passa, nomeadamente, nos países nórdicos (modelo Northpool).
"Procuramos perceber o que se passa com eles porque aquilo
que queremos fazer aqui tem algumas semelhanças", afirma
Peças Lopes.
"A percepção do que se passa nos mercados de energia em
termos internacionais e a análise dos problemas associados à
especificidade do caso português constituirão um auxílio
precioso para a construção do modelo do Mercado Ibérico",
reflecte o professor.
Funcionamento do sistema
Tudo aponta para que, quando estiver em funcionamento, o sistema
tenha um Operador de Mercado com a função de gerir todas as
transações comerciais realizadas no Mercado Ibérico. Como
explica o investigador da USE, "estas transacções podem ser
de dois tipos: através de contratos bilaterais físicos ou
através de encontro de oferta e procura em Bolsa".
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Além deste Operador, existirão provavelmente dois Operadores de
Sistema: um em Madrid (que corresponderá às funções da Rede
Eléctrica de Espanha) e outro em Lisboa (que desempenhará as
funções de gestão técnica atribuídas à Rede Eléctrica
Nacional). Segundo Peças Lopes, "a estes operadores caberá
validar os contratos físicos definidos na Bolsa, ou seja, validam-nos
tecnicamente e gerem operacionalmente o sistema em tempo real,
entrando em consideração com aspectos relacionados com serviços de
sistema".
Situação actual do sector
Outro trabalho que tem preenchido o tempo destes investigadores é o
de caracterizar a situação actual do sector eléctrico em Portugal e
Espanha. Por outras palavras, procuram descobrir quais as semelhanças
e diferenças nos sectores eléctricos dos dois países (em termos
técnicos, físicos, de concentração empresarial e de volume de
transacções comerciais).
"A ideia é sabermos até onde é que podemos ir e o que é
que podemos explorar, sabendo desde já que a balança tende para o
lado de Espanha", explica Peças Lopes. O investigador realça
ainda que "em todo este trabalho, existe a preocupação de
harmonizar-se os modelos, mas não os uniformizar".
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Em busca do consenso
Ao que parece, a fase de conflitos de interesses entre Portugal e
Espanha ainda vem longe. De acordo com Peças Lopes, "a
próxima etapa é analisar as opiniões de Espanha (já trabalhadas pelo
Regulador espanhol), e começar a "casá-las" com as
portuguesas para identificar os pontos de consenso e desacordo entre
Portugal e Espanha ao nível global. Em seguida, avançar-se-á para
um modelo mais completo, do conjunto".
Pode perceber-se que este trabalho de consultoria ao mais alto nível
envolve uma grande procura de consenso, o que, segundo o professor da
USE, é difícil de se conseguir. "Pode imaginar-se que é muito
complicado fazer valer certas opiniões contra aquilo que a Endesa ou a
Iberdrola (empresas maiores do que a EDP) pensam", exemplifica.
Quando os consensos não existem, "tem que se tentar jogar, fazer
propostas e fazer um trabalho que se pode chamar de "gestão de
equilíbrio"", afirma Peças Lopes.
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Ganhos para todos
Quanto aos benefícios do futuro Mercado Ibérico, o investigador da
USE não tem dúvidas: "ganha Portugal e ganha Espanha, ganhamos
todos".
Peças Lopes exemplifica, "o sistema eléctrico português é
em geral caracterizado por uma produtividade hidroeléctrica muito
grande, enquanto em Espanha, essa componente, sendo grande, não é
tão elevada em termos percentuais". "O que pode vir a
acontecer é que, num funcionamento em termos de mercado, possamos
vender energia à Espanha nas horas de ponta e receber energia de
Espanha nas horas de vazio", indica.
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O professor explica que o Mercado Ibérico permitirá uma melhor
gestão do parque produtor português. Os espanhóis, por seu lado,
têm todo o interesse em produzir durante as horas de vazio, até
porque as centrais térmicas que queimam o carvão espanhol não podem
vir abaixo de determinados mínimos técnicos.
Nessa altura, explica Peças Lopes, "Espanha colocará no
mercado, a preços muito interessantes, energia que pode ser utilizada
pelos portugueses para fazer bombagem e armazenamento".
Avançar para um mercado
Segundo o coordenador-adjunto da USE, "os portugueses foram
avançando muito timidamente e devagar no domínio dos mercados de
electricidade". No entanto, a sua crítica não é negativa.
"Avançámos devagar porque se calhar tínhamos que o fazer,
senão éramos absorvidos, ou seja, o que fizemos foi tentar criar
condições para que hoje a passagem não seja tão dolorosa",
explica.
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Outro benefício para Portugal será aprender com os problemas de
Espanha. Na opinião de Peças Lopes, "já que vamos mudar,
tentaremos não repetir os problemas que os espanhóis já detectaram
no funcionamento do seu modelo de mercado".
Reforçar interligações
Um outro aspecto importante deste processo é a necessidade de se
reforçarem as interligações entre Portugal e Espanha. De acordo com
o professor da USE, "é necessário que as linhas existentes
passem a ter maior capacidade, isto é, há investimentos que têm que
ser feitos em simultâneo com tudo isto". Peças Lopes acredita que só fazendo desaparecer as restrições
às trocas de energia com Espanha é que será possível ter um Mercado a
funcionar correctamente.
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Período transitório
Outro factor que "é consensual e todos percebem", é que
não é possível avançar para o Mercado Ibérico sem se considerar
um período transitório. "Esse período servirá para, por um
lado, evoluirmos tecnicamente e explorarmos a capacidade de
interligação em pleno e, por outro, passarmos progressivamente do
modelo que temos para o modelo de mercado", afirma Peças Lopes.
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Segundo o professor,
"a grande razão para essa dificuldade de transição reside no
facto de o modelo português ser muito diferente do que existe em
Espanha". Nas palavras de Peças Lopes, "o modelo espanhol
é mais avançado em termos do que se chama o "mercado
livre", enquanto o modelo português é mais próximo dos
conceitos tradicionais de operação do sistema de energia, onde
coexiste um sistema tradicional com uma mini-Bolsa, que não funciona
por ser demasiado pequena".
A ideia é
"passarmos a funcionar como um modelo integrado de mercado",
afirma o investigador da USE, salientando que Portugal só está a
seguir as recomendações da União Europeia, nomeadamente do Conselho
Europeu de Lisboa, quando Portugal esteve na presidência da UE.
"Nessa altura, houve aconselhamento no sentido de estender os
conceitos de mercado ao sector eléctrico e nós estamos precisamente
nesse caminho", recorda.
Alargamento à
Europa
Pensando sempre no futuro do sector eléctrico em Portugal, o
consultor já consegue antever os problemas que surgirão numa fase
posterior à criação do Mercado Ibérico. "Uma vez que, depois
do Mercado Ibérico, queremos chegar ao mercado europeu, vai
colocar-se a questão "Como é que vamos explorar também as
ligações Espanha - França?"", reflecte.
"Para já"
- afirma Peças Lopes - "um grupo de peritos da União Europeia
(do qual faço parte) tem vindo a definir quais devem ser as
prioridades de investigação na área da energia para o VI Programa
Quadro, incluindo temas científicos que irão contribuir para
viabilizar, à dimensão europeia, este paradigma". "Em todo
este processo, temos tido uma preocupação em conseguir também
manter na agenda a integração das energias renováveis, nomeadamente
a eólica", realça o professor.
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INESC Porto
privilegiado
Peças Lopes considera que os portugueses são quem mais beneficia em
termos de aquisição de conhecimentos com a criação do Mercado
Ibérico. "Espanha está muito mais avançada em termos de "know
how" sobre a forma como os mercados de electricidade
funcionam", reflecte.
Há instituições de
I&D em Espanha com algumas semelhanças com o INESC Porto - como
é o caso do "Instituto de Investigaciones Tecnológicas",
ao qual pertence o professor Tomás Gomez, que faz parte da Comissão
de Acompanhamento Científico do INESC Porto -, que têm um
conhecimento muito avançado destas matérias. No entanto, segundo
Peças Lopes, "até ao momento, não têm sido envolvidas
instituições de investigação do lado de Espanha neste
processo".
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Por sua vez, do lado de
Portugal, só o INESC Porto é que está a colaborar com o Regulador,
não há outras instituições de I&D envolvidas. Até ao momento,
além de Peças Lopes, participam igualmente como consultores da ERSE,
Manuel Matos e José Pereira da Silva (com a ajuda de Manuel João
Aguiar). Espera-se que, daqui a algum tempo, a equipa venha a ser
reforçada com João Tomé Saraiva e Teresa Ponce de Leão.
Em relação aos
prazos para o funcionamento do Mercado Ibérico, apesar da vontade
política apontar a data de 1 de Janeiro de 2003 para o arranque,
Peças Lopes está convencido que, mesmo ao nível dos Reguladores e
das Direcções Gerais dos dois países, já se começa a perceber que
não será fácil respeitar esse prazo. "Pelo menos, seria
positivo que nesse dia começasse o período transitório e estivessem
acordadas as etapas de transição", finaliza o professor.
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