Por
Rui Pedro Morais *
Pergunta-me o meu
futuro sogro há uns dias atrás:
- Ouça lá, esse
sítio onde você trabalha, que posição do mercado ocupa?
Respondo eu:
- Bem... o INESC,
essencialmente, faz investigação e desenvolvimento em alguns
sectores ligados às ditas novas tecnologias.
- Então quer dizer
que vocês desenvolvem coisas para a indústria?... E com que empresas
trabalham?
- Empresas... pois!!
Realmente o ideal seria isso que acaba de dizer mas sabe, as empresas
nacionais não têm coragem para investir em investigação e
desenvolvimento. É mais fácil comprar tudo feito...!!
- Mas..., se não
são as empresas..., onde é que arranjam o dinheiro?... É o Estado
que paga tudo?
- Nem tudo. Mas, de
facto, a grande maioria das despesas é o Estado que as suporta.
...
Resolvi partilhar
convosco este meu curto diálogo porque achei curioso o facto de
alguém tão distante do nosso universo inesquiano ter conseguido, com
duas ou três perguntas, tocar em pontos tão fundamentais da nossa
realidade.
Aproveitando as
deixas anteriores, atrevo-me a opinar sobre o futuro do INESC...
Já que temos dos melhores profissionais nas respectivas unidades,
julgo inevitável uma aposta forte na comercialização de produtos
finais totalmente concebidos pelo INESC. Claro que isto poderá pôr
em risco as ideias fundamentais da instituição mas, conhecendo o
espírito dos meus colegas e a forma como estes o transmitem às novas
gerações, não creio que tal venha a suceder. De qualquer maneira,
este será, a meu ver, um modo de fazer crescer e atrair mais pessoas
para participar neste nosso INESC.
Muito obrigado ao BIP
e a todos os inesquianos.
* Colaborador da
Unidade de Optoelectrónica e Sistemas Electrónicos (UOSE)
O CONSULTOR DO
LEITOR COMENTA
UM EQUÌVOCO TERRÍVEL
- MOSTRA ESTA RESPOSTA AO TEU SOGRO, JÁ!
Caro Rui Pedro
Morais, a história que nos contaste é útil, não pela correcção
que exiba mas precisamente pelo grosseiro equívoco que
contém.
Não é verdade,
absolutamente NÃO é verdade que a maior parte das despesas do
INESC Porto, seja o Estado que as suporta.
Parece que não tens
andado a ler o BIP!!! Então não te dás conta das notícias, todos
os meses, sobre contratos e projectos com empresas?
Para que
consciencializes, em 2001, os proveitos do INESC Porto foram de cerca
de 6.521.306,22 €, distribuídos pelas seguintes rubricas:
Rubrica |
Percentagem |
Contratos
de prestação de serviços |
42% |
Contratos
de I&D europeus |
20% |
Contratos
de I&D nacionais |
19% |
Outros
proveitos operacionais |
19% |
A contribuição do
Estado, sem directa contrapartida contratual, foi apenas de cerca de
6% e encontra-se incluída nos 19% da rubrica "outros proveitos
operacionais".
Todos os restantes
proveitos resultaram de actividades contratualizadas. Em particular,
chamo a tua atenção para a rubrica "prestação de
serviços", que representa contratos directos com empresas. Faz
as contas.
Eis agora uma lista,
não exaustiva, de empresas nacionais e estrangeiras que tiveram
contratos de inovação, transferência de tecnologia e consultoria ou
de parceria com o INESC Porto, em 2001:
APCNP |
ARRI |
AICCOPN |
Arquivo
Histórico Municipal do Porto |
BIBA |
Ateca |
ATB |
BMT |
Câmara
da Maia |
BBC
R&D |
EDP |
CARSA |
CIMERTEX |
ERSE |
Cimru |
CMMaia |
Expandindústria |
CPCis |
CMPorto |
Formula |
CTC |
Companhia
Portuguesa do Prado |
FUB |
Druid |
CTC |
GAMESA |
EEVM |
EFACEC |
IC |
GMD |
ENGIL |
JEFER |
Invescorte |
Filobranca |
Lirel |
MDN |
Intracom |
Louis
Lengrand et Associés |
MDN |
Italtel |
Metro
do Porto |
Philips
DVS |
J.Gomes |
RTP |
Porto
2001 |
APCMC. |
Alcatel |
ADENE |
Lucent
Technologies |
SICS |
PT
Inovação |
Pararede |
Snell
& Wilcox |
RTP |
REN |
Telefonica
I+D |
Siemens |
Thomson
Broadcast Syst |
Thomson
CSF |
SONAFI |
Há duas ideias que
têm que ser combatidas:
1. Que as empresas não se interessam por
inovação e investigação.
Este tópico daria
para um excelente debate - mas é uma ideia feita e datada, e é
simplista equacionar as coisas desta forma. Além do que é uma forma
sem esperança.
2.
Que o INESC Porto viva subsídio-dependente do Estado.
O INESC Porto é uma
instituição PRIVADA, como poderia sobreviver se não tivesse contas
equilibradas? É uma instituição PRIVADA, não recebe, pois, verbas
do Orçamento do Estado, como poderia sobreviver sem contratos?
É disto que te podes
orgulhar: o INESC Porto representa a demonstração da
viabilidade de um modelo não ortodoxo e não conformista de
associação de investigação científica com desenvolvimento do
país. E tu trabalhas nele. Beneficias dele.
Tu, que usufruis da
obra das restantes 259 pessoas que aqui dão o seu melhor, tens que
sentir que a imagem que dás da própria casa que te acolhe não pode
estar contaminada do vício nacional de dizer mal ou ser pessimista ou
derrotista. É também tua obrigação ser positivo e afirmativo na
criação, nos outros, de opinião sobre o INESC Porto.
Tu vives envolvido
num grupo privilegiado, que todos temos gosto de acarinhar no INESC
Porto. Esse grupo tem características muito especiais, e que têm que
ser apoiadas, mas na realidade do INESC Porto esse grupo é apenas um
subconjunto, que subsiste porque se integra afirmativamente na
própria lógica da instituição.
Deverias sentir quão
imperioso é que conheças a tua própria realidade.
Já agora, dá-a a
conhecer ao teu sogro. E não precisas de fazer como o Egas Moniz e
andar descalço e de corda ao pescoço, mas ficava-te bem.
Aceita um abraço
amigo e sincero do teu confessor, ups, consultor.
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