Número 7 Público / 21 Interno (Setembro 2002)
Ficha técnica
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Um passo importante nos Açores em defesa do ambiente

INESC Porto ajuda a intensificar utilização de energias renováveis


 

A Unidade de Sistemas de Energia está a dar um passo importante no sentido de rentabilizar os resultados obtidos em projectos europeus. Na sequência do projecto MORE CARE, que inclui a instalação do "Sistema de Controlo para Redes Eléctricas Isoladas com Grande Penetração de Renováveis" nas ilhas da Madeira e de Creta, a USE prepara-se agora para colocar o sistema na ilha das Flores. "Esta contribuição técnica é mais efectiva para a melhoria do ambiente do que discursos ou manifestações de preocupação ambiental", afirma Manuel Matos, o coordenador da Unidade.
 

Os antecedentes
Tudo começou em 1997 com o arranque do projecto europeu CARE - "Sistema de Controlo para Redes Eléctricas Isoladas com Grande Penetração de Renováveis" - ao que se seguiu, em 2000, o projecto MORE CARE, mais elaborado e com um grande aproveitamento dos resultados obtidos no primeiro. O sistema desenvolvido está a ser instalado nas ilhas de Creta e da Madeira.

É na sequência do projecto MORE CARE, desenvolvido num consórcio europeu em que também participa a Empresa de Electricidade da Madeira (EEM), que surge agora uma nova versão do sistema, a pedido da Electricidade dos Açores (EDA).

 

O prestígio
Nos Açores, o trabalho da Unidade de Sistemas de Energia é conhecido e reconhecido, devido especialmente a trabalhos anteriores realizados para a EDA e conduzidos por João Peças Lopes. Além disso, "a EDA já tinha acompanhado o projecto CARE e tem participado em workshops que organizámos no âmbito desses projectos europeus", afirma o coordenador da USE.

Quando se identificou, na Ilha das Flores, a necessidade de um sistema semelhante ao MORE CARE, a EDA resolveu contactar o INESC Porto, que deu início a todo o processo. "Como perceberam que este sistema os podia ajudar a aumentar em segurança o uso de energias renováveis na ilha, pediram-nos uma proposta e falámos com os outros parceiros", explica Manuel Matos.

 

As vantagens
Segundo o coordenador da USE, "a EDA confiou na nossa recomendação de que aquele sistema os podia ajudar a gerir uma rede de uma ilha pequena onde vão ter uma grande quantidade de energia renovável a funcionar".

Devido às características específicas da ilha, há sempre problemas do ponto de vista do funcionamento da rede eléctrica, pois as variações de vento causam problemas que podem prejudicar o funcionamento da rede. "Este sistema evitará, por exemplo, os indesejáveis cortes de energia", realça o professor.

 

A oportunidade
Com a sua habitual modéstia, Manuel Matos considera o "projecto satisfatório", dado que nem sempre há "a oportunidade" de se aproveitarem os resultados. "O normal é as empresas, que entram nos projectos europeus, ficarem com o produto e utilizarem-no ou venderem-no", completa.

O coordenador salienta ainda que, nos projectos europeus desenvolvidos no INESC Porto, os produtos finais são normalmente utilizados. "O que há de novo é uma hipótese de comercializar, fora do âmbito do projecto, a ferramenta produzida no projecto", especifica.

A novidade
O usual é que a comercialização dos produtos desenvolvidos reverta para as universidades ou institutos apenas em termos de royalties. Manuel Matos lembra o caso de alguns projectos que a Unidade de Telecomunicações tem com a Ericson, os quais "não ficam na gaveta", pois é a empresa que detém os resultados e os vai utilizar.

De acordo com o coordenador da USE, "a Unidade tem vindo a fazer um esforço para, pelo menos durante o consórcio, saber se o produto se vai poder vender e em que condições".

 

Os parceiros
O sistema que está a ser actualmente desenvolvido para a ilha das Flores procura ser uma simplificação do sistema obtido com o MORE CARE, embora mantenha as mesmas características fundamentais.

"Relativamente aos parceiros do projecto, estamos a trabalhar para a Electricidade dos Açores, tendo a Empresa da Electricidade da Madeira como nossa sócia e o POE, que avança com o financiamento", indica o professor.

 

A generalização
Manuel Matos não exclui a possibilidade de esta solução se poder generalizar noutras ilhas, defendendo contudo que isso dependerá das condições colocadas pelas empresas envolvidas em parceria. "Há sempre custos porque estes sistemas têm partes baseadas em mecanismos de inferência, redes neuronais ou árvores de decisão. Tudo isto requer um processo de treino, estudo e recolha de dados para criar então a tal inteligência que o sistema depois utiliza no seu funcionamento", justifica.

Por exemplo, para se fazer a previsão do vento é preciso estudar uma determinada série temporal, com medições dos ventos, para depois caracterizar um sistema que a partir do passado, consegue prever o futuro. "Não é um sistema que se possa pousar no local e ficar logo a funcionar, requer um processo de instalação e adaptação a cada uma das redes", salienta o professor.

 

O primeiro passo
Questionado sobre se considera esta oportunidade como um primeiro passo para a reutilização dos produtos dos projectos europeus, Manuel Matos mostra-se igual a si próprio: "Só se pode saber se é o primeiro passo, depois de darmos o segundo".

"Não colocava as coisas nesses termos porque creio que, nas outras Unidades, os projectos europeus também têm tido sequências", esclarece o professor. "Será então um pouco exagerado dizer que este é um primeiro passo, mas claro que estamos satisfeitos com esta oportunidade e, na Unidade de Energia, é o primeiro projecto deste tipo", prossegue.

 

O ambiente
Um dos aspectos mais interessantes do projecto é o facto de contribuir para a melhoria do ambiente. "O uso destes sistemas permite utilizar em maior quantidade as energias renováveis, em particular a energia eólica sem aumentar excessivamente os riscos de funcionamento dos sistemas isolados", justifica Manuel Matos.

"É bom que este tipo de sistemas se generalize, visto que permite utilizar mais a energia eólica e esta contribuição é mais efectiva do que discursos sobre essas questões ou manifestações de preocupação ambiental", finaliza o professor.

 

A equipa
Da equipa do MORE CARE, que se mantém no actual projecto, fazem parte Manuel Matos (coordenador da equipa e responsável pela gestão económica do sistema), João Peças Lopes (análise de segurança), Helena Vasconcelos (segurança), João Luís Pinto (software) e Nuno Fidalgo (redes neuronais).