B o l e t i m Número 46 de Dezembro 2004 - Ano IV
Início Destaque Editorial Especial Arquivo
   

D E S T A Q U E

Experiência de Teletrabalho no INESC Porto

Trabalhar de pantufas

No âmbito do projecto Pêndulo, nove colaboradores do INESC Porto participaram numa experiência de Teletrabalho. O aumento da produtividade em tarefas que exigem maior concentração, a diminuição do stress das viagens e a maior conciliação com a vida familiar são apenas algumas das vantagens. Todos os teletrabalhadores envolvidos são unânimes em fazer um balanço muito positivo desta experiência.

 

O enquadramento do projecto
Como tem vindo a ser noticiado no BIP, o INESC Porto, através da Unidade de Sistemas de Informação e Comunicação (USIC), é um dos parceiros do projecto Pêndulo, co-financiado pela Iniciativa Comunitária EQUAL. O grande objectivo deste projecto é promover a igualdade de oportunidades entre Homens e Mulheres através de iniciativas que visam a conciliação da vida familiar e profissional, contribuindo para a qualidade de vida dos cidadãos trabalhadores.

Segundo Paulo Monteiro, coordenador deste projecto, uma dessas iniciativas é implementar nas organizações empregadoras novas formas de organização do trabalho, nomeadamente o teletrabalho. O INESC Porto participou na elaboração de uma metodologia de implementação de teletrabalho nas instituições e empresas, bem como na sua implementação através de uma experiência real de Teletrabalho. “Neste momento, o projecto Pêndulo está na sua fase final, terminando a fase de experimentação da metodologia criada para a implementação de teletrabalho nas instituições e empresas”, esclarece.

 

A adesão positiva
A Direcção do INESC Porto reagiu bem à realização da experiência e foi entusiasta desde o início. De acordo com Mário Jorge Leitão, director do INESC Porto, a instituição opera de forma muito distribuída, com múltiplas localizações dos seus colaboradores. Assim, o conceito de Teletrabalho, embora muitas vezes associado à ideia de trabalho a partir do domicílio, que é igualmente importante e está na base da candidatura, acaba por ser aplicável a todas as situações de grupos geograficamente distribuídos, como ocorre frequentemente no caso do INESC Porto.

Por outro lado, o INESC Porto desenvolve trabalhos de consultoria tecnológica e organizacional em que o Teletrabalho pode estar incluído. “Seria assim essencial trabalhar as soluções tecnológicas que viabilizam este novo modo de operação, tirando daí as ilações adequadas de modo a constituir internamente um "saber fazer" apoiado em experiência própria”, admite o director. Na Reunião de Unidades foi decido que os responsáveis das Unidades proporiam alguns colaboradores cujo perfil se enquadrasse para a experiência de Teletrabalho. Foram consultadas as Unidades e Serviços e três responderam positivamente.

 

A importância da informática
Toda esta experiência de Teletrabalho tem por base a utilização de instrumentos informáticos. O ambiente de Teletrabalho apoia-se essencialmente no e-mail, suportado pelo servidor Exchange, na VPN, mas também no Microsoft Messenger.

O coordenador da USIC considera esta última ferramenta tão útil que a utiliza durante as Reuniões de Unidades para interagir com a Secretária e com todos os colaboradores da Unidade, mesmos com os "remotos" (FEUP, ISEP e teletrabalhadores). O Messenger é também usado por colegas ausentes em reuniões de projectos europeus, permitindo trocar impressões durante o decorrer da reunião, diminuindo o impacto da ausência.

 

Os benefícios do Teletrabalho
Quanto aos benefícios do Teletrabalho, Paulo Monteiro não hesita em nomeá-los: maior motivação, maior produtividade em tarefas que exigem maior concentração, diminuição do stress das viagens de e para o local de trabalho, e maior conciliação com a vida familiar.

Também António Gaspar acredita nos benefícios do Teletrabalho, “desde que seja usado criteriosamente e com flexibilidade”. O coordenador, que participou nesta experiência, aproveita para dar um exemplo da vantagem deste tipo de trabalho. “Hoje ia para o INESC Porto e, ao entrar no acesso à Ponte do Freixo (moro em Gaia), deparei com uma fila enorme totalmente parada (segundo a rádio, chegava aos Carvalhos). Tentei a Ponte do Infante e, a algumas centenas de metros, encontrei nova fila. Como não tinha nenhuma reunião marcada, voltei para casa e em menos de 10 minutos estava online a trabalhar”.

 

As dificuldades desta experiência
Apesar ser um entusiasta do Teletrabalho, o coordenador da USIC admite que nem tudo foi fácil nesta experiência. António Gaspar ficou surpreendido com alguns problemas técnicos que surgiram, uma vez que contava com o perfil técnico do INESC Porto para os minimizar. “A VPN demorou algum tempo a afinar, o que limitou o acesso a várias aplicações, como o SAP. No entanto, agora tudo funciona, combinando acessos via Modem de Cabo, ADSL e Satélite”, esclarece o engenheiro.

O coordenador do projecto aponta ainda o isolamento em excesso e a tendência para trabalhar demasiadas horas como desvantagens possíveis no Teletrabalho. “É também difícil criar o melhor ambiente técnico para que as pessoas possam sentir pouca diferença pelo facto de estarem a trabalhar remotamente”, admite. Paulo Monteiro sustenta ainda que é necessária uma grande colaboração dos serviços técnicos de apoio. Por outro lado, a banda larga ainda é "pouco larga", e cada pessoa precisa de configurações técnicas personalizadas.

 

Os resultados promissores
Esta experiência de Teletrabalho terminará no final do mês de Dezembro, estando os seus resultados a ser avaliados nesta altura. O balanço é portanto muito positivo. “A produtividade, no mínimo, não foi prejudicada e houve ganhos importantes ao nível da qualidade de vida dos diversos participantes da Unidade”, garante o coordenador da USIC.

A adopção de novas ferramentas para apoio ao trabalho distribuído aumentou a operacionalidade da USIC. Foi necessário criar um ambiente virtual que integrasse não só os teletrabalhadores, mas também os restantes colaboradores. Desta forma, evitou-se a criação de uma barreira entre ambos, sendo transparente, para grande parte das actividades, se a pessoa está presente ou não. “Este é um resultado inesperado, que deverá conduzir a ganhos de produtividade no futuro”, prevê António Gaspar.

 

A aplicação ao INESC Porto
O coordenador da USIC lamenta não ter havido, nesta experiência, uma maior participação de outras Unidades e Serviços, mas acredita que esta nova infra-estrutura, entretanto testada, poderá vir a ser mais uma ferramenta na gestão dos recursos do INESC Porto. Nesse sentido, António Gaspar considera que a Direcção devia analisar atentamente os resultados da avaliação conduzida por peritos externos e trocar impressões com as outras Unidades e Serviços envolvidos.

Paulo Monteiro concorda com esta ideia. “Neste momento há todas as condições para que o INESC Porto possa adoptar este regime de trabalho”, defende, recordando a título de exemplo, que no âmbito do projecto foi adquirido um servidor de VPN de grande capacidade, que permite aceder aos recursos informáticos internos do INESC Porto de forma segura. Por outro lado, o coordenador do Pêndulo admite que nem todas as funções se proporcionam para o teletrabalho e que, por isso, cada caso deverá ser estudado individualmente.

 

O futuro em aberto
A parte mais positiva do Teletrabalho é a motivação extra que as pessoas ganham pela sua melhoria de qualidade de vida, o que também é positivo para a instituição pela produtividade acrescida. Por este motivo, Paulo Monteiro recomenda que o INESC Porto pense na adopção deste regime de trabalho em tempo parcial e voluntário, nas funções que a isso se prestassem.

Por seu lado, António Gaspar planeia rentabilizar a experiência obtida em actividades futuras de prestação de serviços, pois acredita que o Teletrabalho será cada vez mais usado pelas empresas, para colaboradores a tempo inteiro ou a tempo parcial, particularmente tendo em conta a tendência para a subida dos custos de combustível. “Esta poderá ser mais uma ferramenta para aumentar a competitividade das nossas empresas”, defende.

 

As opiniões dos teletrabalhadores

 

Vanda Ferreira (DIL) - Globalmente faço um balanço bastante positivo da experiência. Serviu para demonstrar que através de novas formas de organização do trabalho, e com recurso às novas tecnologias de informação, é possível conciliar da melhor forma aspectos da vida familiar com a profissional, tornando-se assim uma alternativa perfeitamente viável à organização comum de trabalho.

Um aspecto negativo, mas que poderia ser melhorado, são as condições técnicas do Teletrabalho, que em determinados aspectos eram inferiores às condições na instituição. Refiro-me à velocidade de processamento e transmissão de dados. No entanto, gostaria de salientar que o facto desta ser uma experiência em apenas 1/5 dos dias de trabalho poderá conduzir a diferentes conclusões.

 

 

Hugo Ferreira (UESP) - Durante este curto período, tenho tido a oportunidade e o privilégio de poder comparar e reflectir sobre o trabalho que tenho vindo a desenvolver, tanto em open space no INESC Porto, como no sossego do meu lar. Constato que, de facto, o ambiente em que muitos de nós desenvolvemos as nossas actividades é essencial para um bom desempenho.

O Teletrabalho exige, no entanto, algum cuidado no que diz respeito à preparação e organização de tarefas. Neste campo tenho tido um balanço positivo. Esta experiência tem-me ensinado a identificar e organizar as tarefas relativamente à sua prioridade, risco de sucesso e tempo de execução, para conseguir assim um melhor desempenho. No entanto, sinto que ainda tenho muito que aprender e que o INESC Porto poderia ter dado um maior contributo através de formação adequada.

No campo pessoal também tenho tido vantagens. Tal como muitos outros colegas, faço longas viagens para casa. Esta pequena redução de 20% de viagens tem-me proporcionado significativamente mais tempo, que tem sido aproveitado para o trabalho e para a família. Só o simples facto de reduzir o desgaste inerente a estas viagens permite-nos desempenhar as nossa tarefas de melhor forma.

Cada um dos teletrabalhadores no INESC Porto tinha os seus próprios objectivos para participar neste projecto. Todos desempenharam variadas tarefas e tiveram diferentes expectativas relativas a esta experiência. Penso no entanto que, tal como eu, independentemente de usufruírem mais ou menos desta passagem, o saldo é positivo. Tanto nós como o INESC Porto enriquecemos com este novo conhecimento.

 

 

José Correia (USIC) - A experiência correspondeu ao que eu esperava, ou seja, demonstrou que é possível continuar a desenvolver um trabalho de qualidade, inclusivamente aumentando a produtividade (não ser interrompido pelo telefone, ou por quem bate à porta, quando se está a fazer um trabalho que exige concentração é uma mais-valia) e, paralelamente, melhorar a qualidade de vida das pessoas (não perder tempo e a paciência no trânsito do Porto é óptimo). Por isso, foi uma experiência motivante, que gostaria de repetir.

 

 

Ricardo Henriques (USIC) - O balanço da experiência de teletrabalho é francamente positivo. A nível pessoal, saliento a melhoria da gestão e conciliação da vida pessoal e profissional. Este é talvez o aspecto mais gratificante do Teletrabalho, o que se reflecte em termos de produtividade.

Notei incrementos na produtividade relativa (produção/hora), absoluta e no número de horas dedicadas. Contrariamente ao que eu próprio pensava, o número de horas aumenta em Teletrabalho, principalmente por troca do tempo gasto em viagens.

A infra-estrutura funcional de apoio veio minimizar as dificuldades inerentes ao trabalho remoto, nomeadamente por poder aceder em tempo real aos mesmos recursos que disponho quando trabalho no próprio INESC Porto.

 

 

Rui Barros (USIC) - Foi muito interessante, pois permitiu comprovar as expectativas iniciais, bem como demonstrar que não se trata de uma utopia e que já é possível adoptar este método de trabalho, sem prejuízo na rentabilidade.

 

 


Informações mais detalhadas poderão ser obtidas no site do projecto em http://www.pendulo.org



<< Anterior | Seguinte >>