Diz-se que dizem os Chineses (quem sabe quantos ditos destes
não serão apócrifos...) que um peixe não conhece a sua água.
Afirmação misteriosa, contraditória com o senso comum:
então o peixe não vive mergulhado nela? Não depende dela
para respirar, e para se locomover, e não é nela que
encontra alimento e acasalamento?
Eis a iluminação que a frase nos proporciona - pois é, a
intimidade é excessiva, e tudo o que é excessivamente íntimo
se torna natural e depois invisível. É um adquirido que não
se questiona, nem se valoriza. Faltasse a água: ver-se-iam
os peixes sufocando, abrindo a boca para reclamar o bem
precioso; regressasse a água, testemunharíamos declarações
enfáticas de apreciação, loas tecidas à indispensável linfa,
mas por pouco tempo, só enquanto durasse o susto, tudo
retomaria rapidamente o fluir natural, recuperaria a água o
seu estar silencioso e voltariam os peixes ao seu modo
pastoril de ir existindo.
Não haverá também, no nosso ambiente, excessiva água que
desconhecemos?
Ocorre-me este pensamento a propósito do nosso INESC
Porto, ao tentar ganhar consciência do que temos, do que
construímos, do que somos e do que sonhamos ser.
Feliz 2005.
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