E D I T O R I A L
O NOVO REGIME JURÃDICO E A ANTECIPAÇÃO DO FUTURO Disse Maquiavel, que os preconceitos têm mais raízes que os princípios. Que o mesmo é dizer que as emoções se sobrepõem à razão quando as circunstâncias não lhes evitam o conflito.
Quando podemos ter ideia de mudar algo, o que é mais difícil é conseguir que as pessoas descolem das ideias pré-concebidas em que ancoram a sua existência. É como se certas coisas fossem objecto, no espírito humano, de processos de impressão análogos aos descritos por Konrad Lorenz nos animais: uma estrutura mental, uma vez fixada, vira dogma e toda a racionalidade se perde como vaga de encontro a essa falésia.
A racionalidade impõe-nos a análise do nosso sistema de ensino superior, mas quanta dessa análise está enviesada pelas impressões que nos comandam?
Admiremos, portanto, os homens e mulheres corajosos que vêem mais longe e com mais lucidez, e constroem soluções transgressoras, que chocam com o dogma e estremecem os acomodados.
O engessamento a que está votada a organização e o espartilho legal que envolve a gestão da Universidade são racionalmente indicados como factores de atraso, ineficiência, imobilização, irresponsabilidade. Porém, quando um novo figurino é sonhado ou proposto, a primeira agressão vem daqueles que nele vêem logo uma violação do dogma, do “como deveria ser” que não é mais do que o que já conhecem.
Os tempos são o que são e não o que deveriam ser. O contexto é o que é e não o que se gostaria que fosse. As pessoas reagem como reagem e não como seria bom que reagissem. Mas, se estivermos atentos e formos lúcidos, constataremos que nunca como dantes convergiram os factores necessários para conseguir uma evolução triunfadora e que rasgue, rompa, subverta virtuosamente o paradigma anterior de gestão académica.
A Universidade, a FEUP não pode continuar autista e ignorar a mudança de contexto com a nova lei de regime jurídico das instituições de ensino superior.
Temos, urge discutir o futuro para podermos antecipá-lo.
Disse Victor Hugo que nada é tão poderoso no mundo como uma ideia cuja oportunidade chegou. Pois é. Mas apetece responder-lhe com Einstein, que o único local onde o sucesso vem antes do trabalho é no dicionário.
|