A V Ó S A R A Z Ã O
A Prestação de Serviços no INESC Porto
Por António Correia Alves*
A actividade de Prestação de Serviços no INESC Porto, e muito em particular na UESP, resulta duma lógica de pôr à disposição da comunidade o conhecimento adquirido do decurso da realização de actividades de I&DT.
Na UESP, a prestação de serviços tem assumido a forma de especificação e desenvolvimento de sistemas e software, realização de estudos e de consultoria, maioritariamente para entidades privadas do tipo PMEs (a UESP oferece serviços de consultoria especializada em organização industrial, sistemas de produção, sistemas logísticos e sistemas de informação empresariais).
Entendo consultoria externa como apoio dado por um terceiro na resolução de problemas ou realização de projectos numa entidade. A actividade de consultoria no INESC Porto justifica-se por variadas razões. Uma delas é sem dúvida a necessidade de maior independência dos sistemas de apoio público na realização da nossa actividade e consequente aumento do volume de prestação contratual directa às empresas. E a capacidade de o fazer representa também o reconhecimento público da nossa capacidade de intervenção, pois como bem sabemos o nosso tecido empresarial é muito selectivo quando se trata de contratar este tipo de serviços.
O nosso posicionamento no mercado tem sido uma preocupação constante. Procuramos actuar em domínios que a cada momento se assumam como clara inovação e que, dada a sua emergência, ainda não sejam disponibilizados por entidades comerciais de forma sustentada e com qualidade adequada. Tal normalmente acontece enquanto o mercado não está suficiente maduro, sem dimensão para exigir intervenção de forma interessante para a actividade privada. Aqui também existe uma oportunidade de ajudar o mercado a emergir com novas ofertas, nomeadamente através da formação aos prestadores de serviços ou no licenciamento das nossas metodologias. E quando a oferta comercial se generalizar é tempo de partir para outros desafios.
Outro papel importante da consultoria é o de assegurar um melhor conhecimento das necessidades do país real, nem sempre coincidentes no tempo ou nas temáticas com aquilo que possamos pensar ou desejar. Mantendo um contacto estreito e permanente com as empresas mais facilmente nos apercebemos das suas dificuldades e necessidades, o que pode e deve constituir uma fonte importantíssima para a maturação de ideias de projectos de I&DT. Desta forma poderemos reduzir alguns dos riscos associados a projectos, garantindo uma melhor adequação dos resultados ao mercado.
O inverso também não é menos importante: a Área de Consultoria pode e deve ser um cliente da actividade de I&DT, ajudando na exploração de resultados dos projectos em que o INESC Porto participa. Recomenda-se pois que cada vez mais se acautele os direitos de propriedade intelectual relativamente aos resultados dos projectos, salvaguardando eventuais interesses da nossa instituição na sua utilização.
Também gostaria de referir o impacto que a actividade de consultoria tem tido na formação de jovens licenciados. Devidamente enquadrados e orientados, um número muito considerável de jovens tem tido oportunidade de realizar trabalhos de estágio de licenciatura e teses de mestrado com base em projectos reais, permitindo o desenvolvimento de novas competências científicas, técnicas, de gestão e desenvolvimento pessoas.
A consultoria é muito exigente em termos de multidisciplinaridade de conhecimentos e competências, não apenas técnico-científicas, mas também de gestão, muito em particular no que respeita aos recursos humanos. Lembremo-nos que, na grande maioria das intervenções que fazemos estamos a actuar na organização de processos, o que envolve mudança. Esta multidisciplinaridade, se bem que seja uma vantagem competitiva que o INESC Porto oferece, é também um desafio para o nosso modelo de organização em Unidades.
E para terminar, uma anedota corrente na gíria: “Um consultor é um tipo que nos pede o relógio e depois nos diz as horas.” Saibamos nós dar-lhe corda e mantê-lo acertado.
* Colaborador da Unidade de Engenharia e Sistemas de Produção (UESP)
O CONSULTOR DO LEITOR RESPONDE
Caro António,
Uma actividade de consultoria é uma expressão nobre do conhecimento. Eis uma pequena história.
Um motorista tem uma avaria no seu carro. Como não é ignorante, lê o livro de instruções, verifica os fusíveis da caixa: tudo bem, mas a luz no tablier avisando que a bateria não está a ser carregada não se comove, está acesa e é vermelha. Resigna-se a ir a uma oficina, o mecânico diz-lhe: é do fusível, abre o capot e, de local inesperado, saca um fusível que não vinha assinalado no livrinho. Reposto um novo, milagre ou não, nenhuma luz no tablier alarma o condutor. Entre indignado e aliviado, o motorista pergunta: quanto é?, pensando no preço de um fusível, ao que o mecânico responde: quer ouvir uma história? E, sem esperar resposta, arranca. Uma vez um mecânico foi chamado a averiguar que causa impedia o motor de um camião de arrancar. Vários especialistas tinham rondado o bicho e nada, nem se comovia, a solução parecia ser desmontar e dar-lhe o destino de sucata. O mecânico pegou numa chave inglesa, debruçou-se sobre o motor, aplicou a ferramenta numa porca, rodou um quarto de volta, disse ligue o motor e vrrrruuuummm, tremeram os cavalos e ei-lo bufando como novo. Quanto é, perguntou o dono do camião e o mecânico respondeu em voz átona: um milhão. O quê?, um milhão só por apertar uma porca?, ao que ele respondeu: não, um milhão por saber qual porca apertar. Imagina-se o suor frio do motorista ao pensar no preço que lhe iria sair o fusível, mas o mecânico, depois do seu minuto sádico, bate-lhe no ombro e diz: não é nada, vá-se embora. Ainda hoje deve estar a pensar no susto que me pregou.
Consultor, é o que pega nos dados mas devolve informação. É preciso muita competência para se ser competente. Se isto sabe a Monsieur de la Palisse, seja. Bom trabalho, António.
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