Por Rui Diogo Rebelo
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Um dos principais
papéis do INESC Porto é a transferência de novas tecnologias para a
indústria, principalmente para a nacional.
No nosso tecido
industrial existem potenciais receptores para os resultados dos nossos
projectos, quer nacionais quer europeus, que não tiveram oportunidade
de participar nos consórcios dos projectos.
É da nossa
competência identificar as oportunidades cruzando as necessidades da
indústria com os resultados dos nossos projectos.
A identificação das
necessidades da indústria requer uma ligação contínua e estreita
com os diversos sectores industriais. Graças ao sucesso do projecto
LogicStore, esta aproximação tem sido possível com um leque
alargado de empresas.
Sem entrar em grandes
detalhes, pois não é o propósito deste texto, até ao momento foram
identificadas diversas áreas de intervenção. Uma foi concluída com
sucesso e existem outras em fase de apresentação. Curiosamente, os
projectos a que me refiro, e para os quais eu identifiquei as
indústrias com carências nessas áreas, foram desenvolvidos na
unidade em que trabalho.
A questão que eu
coloco é: Será que estamos a rentabilizar ao máximo os resultados
de todos os nossos projectos? Conhecemos os projectos de todas as
unidades?
O Dia das Unidades é
uma medida excelente, com reflexo interno, e que ajuda a responder à
minha questão. Devia continuar.
Um dos problemas que
tenho enfrentado ao propor a utilização dos resultados dos nossos
projectos é o custo. Os nossos industriais, salvo raras excepções,
estão habituados ao custo zero aproveitando, e muito bem, os
financiamentos existentes.
Os tempos que se
avizinham, com o alargamento da Europa, apontam para a redução dos
fundos estruturais. Assim sendo, e não pondo em causa o valor dos
nossos projectos, vai ser cada vez mais difícil transferi-los para a
indústria.
Será que não
deveríamos ter uma postura mais agressiva na divulgação dos
resultados dos nossos projectos junto da indústria, reforçando
assim, a nossa imagem para futuras iniciativas.
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Colaborador da Unidade de Engenharia de Sistemas de Produção (UESP)
O CONSULTOR DO
LEITOR COMENTA
Caro Rui Diogo,
Gostaria de te fazer
saber como me senti satisfeito de ler a tua interrogação final - se
não deveríamos ser mais agressivos na divulgação de resultados
junto da indústria.
A minha resposta é,
genericamente, sim. O problema está em: de que forma?
Nós temos no INESC
Porto uma oportunidade de ouro de fugirmos do clássico paradigma de
pensamento académico, que caricaturalmente poderíamos descrever por:
"eles não compreendem que temos na mão a solução miraculosa
para a salvação deles". O nosso contexto permite-nos ter outra
visão da realidade, e ganhar humildade. A nossa capacidade de
trabalhar com a indústria depende da nossa percepção em procurar
servir os interesses desta - e falar-lhe com a sua linguagem, em vez
de "academiquês".
Por isso, eu não
gosto completamente da palavra "divulgação" - parece que
temos na mão a solução, e a indústria só não lhe pega porque
está cega na sua ignorância.
Temos que afirmar
IMAGEM. Isso faz-se pela obra feita, e pela credibilidade dela.
E temos que oferecer
capacidades - de inovação e de oferta de bens e serviços.
Mas essa oferta tem
que se articular com uma percepção aguda da realidade e dos
mercados. Temos que ter "antenas" para detectar
oportunidades. E temos que entender como é que a nossa vocação se
exprime nessas formas de actuação.
Para sermos
prestadores de serviços completamente profissionalizados, para a
indústria, temos que compreender essa actividade na forma de
negócio, circunscrevê-la a um projecto de risco mas realista, e
avançar (se parecer viável) num projecto empresarial. Isso
representa uma saída (legítima) da esfera fulcral do INESC Porto, de
harmonia e sem comprometer a sua missão.
Se queremos ser
ofertadores de inovação, poderemos fazê-lo integralmente dentro do
INESC Porto - mas temos então que, do mesmo modo, seleccionar alvos,
segmentos de mercado, reunir competências e desenvolver as adequadas
campanhas de marketing e imagem. Ser mais profissionais nisto também.
Abandonar os gestos
avulsos e substituí-los por planeamento deliberado. Identificar
agentes, aliados, oposições. Ser persistente. Ir buscar os meios de
financiamento que possam sustentar essa acção. Não sermos só
"técnicos", no sentido redutor do termo.
Organizar workshops,
com base em projectos de sucesso. Com seriedade, afirmar competência.
Tornar-se interlocutor indispensável, tornar-se uma referência
incontornável.
Construir, na Área
ou Unidade, uma cultura de comunicação.
É, também, para a
erecção dessa visibilidade e dessa credibilidade que o INESC Porto
se candidatou ao reconhecimento como Laboratório Associado do Estado.
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