Por Jorge Pereira *
Tendo acabado
recentemente o Doutoramento na FEUP e como estou no INESC Porto desde
que terminei a minha licenciatura na FCUP, proponho-me a falar sobre
pós-graduações nesta instituição. Será que o INESC Porto é um
bom local para se fazerem Mestrados e/ou Doutoramentos? Claro que,
quando eu estou a falar de Pós-Graduações no INESC Porto, não é
ele que atribui um determinado grau de pós-graduação, mas sim ser
uma instituição de acolhimento a alunos de cursos de Mestrado ou
Doutoramento nas diversas instituições que atribuem estes graus.
A esta pergunta vou
dar a minha resposta baseando-me na experiência de mais de 10 anos
ligado a esta instituição. Entrei para o INESC em 1991, após ter
terminado a licenciatura, e desde logo o meu objectivo era frequentar
um mestrado. Depois de contactar o INESC, achei que aqui seria um bom
local para atingir esse objectivo. Ao longo destes anos conclui o
mestrado e, como já referi, o doutoramento, ambos na FEUP. Desde que
aqui entrei já fui bolseiro da JNICT (actualmente FCT), bolseiro do
INESC e universitário na FEP (não me enganei, é mesmo FEP -
Faculdade de Economia do Porto). Em qualquer uma destas categorias
senti-me aqui bem e penso que quando se está a trabalhar num projecto
em equipa não há uma discriminação pelo facto de se ter uma
determinada categoria. Pelo menos eu nunca senti qualquer tipo de
discriminação!
Neste momento posso
afirmar que as pessoas que contacto mais directamente no INESC Porto
sempre me apoiaram no meu percurso e que o benefício pessoal que
obtive é muito, muito grande. Todavia, penso que o INESC Porto como
instituição, assim como muitas das pessoas com que trabalho, também
tiveram benefícios com a minha investigação. Se assim não fosse,
já não estaria aqui! Mas, este seu benefício não resulta em nada
de uma exploração do meu trabalho de investigação, mas antes de
uma relação de cooperação em que ambos saem a ganhar (e muito,
espero!). De qualquer forma, faz parte dos objectivos deste instituto
a formação de pessoas com grande qualidade científica (obtida com a
inscrição em cursos de pós-graduação) assim como ganharem
experiência profissional (obtida pela participação em diversos
projectos) para quando um dia, se pretenderem sair, não terem nenhuma
dificuldade em arranjar um emprego. Sabe-se por experiência passada
que os anos aqui passados são muito valorizados pelas empresas.
Claro que há sempre
alguém (que está, esteve ou que nunca aqui esteve) que entende que o
INESC Porto é um local em que os universitários se aproveitam do
trabalho de bolseiros para progredirem na carreira. Claro que estas
pessoas, ou não conhecem o seu modo de funcionamento ou então
tiveram por alguma razão uma má opção ou experiência que os leve
a pensar desta forma. Eu como já estive nos "dois lados da
barricada" (universitários / não universitários), posso
concluir que o que aqui existe são vários trabalhos em equipa (por
vezes, as equipas poderão só ter um investigador!) onde os
universitários poderão fazer, além de outras tarefas, a sua
investigação científica. Claro que os trabalhos aqui desenvolvidos
deverão ser de investigação ou então de desenvolvimento de
tecnologia de ponta. Claro que por questões de sobrevivência há
alguns trabalhos de outro tipo que terão de ser feitos, mas mesmo
assim estes trabalhos são realizados por todas as pessoas que estão
habilitadas a executá-los, independentemente da sua categoria.
Para terminar, quero
ainda dizer que recentemente tive uma experiência que me deixou
satisfeito por aqui estar. No mês de Abril deste ano, abri um
concurso para um bolsa de investigação no âmbito de um projecto da
FCT. Neste concurso houve dois candidatos de grande qualidade (a
julgar pelo curriculum e pela entrevista) que não se importavam de
vir para aqui, mesmo tendo um vencimento inferior ao que actualmente
auferem, desde que lhes fosse dada a oportunidade de se valorizarem
cientificamente através de pós-graduações. Ou seja, há pessoas
interessadas em vir para aqui por acharem (e bem!) que aqui poderão
tirar cursos de pós-graduação obtendo uma mais-valia pessoal que
será um trampolim para um futuro de sucesso profissional.
* Colaborador da
Unidade de Sistemas de Energia (USE)
O CONSULTOR DO
LEITOR COMENTA
Jorge Pereira, na
"mouche"!
Tu, doutoraste-te
recentemente e enfrentas agora novas responsabilidades, em particular
a de vires a ser orientador de doutoramentos. E como vai ser, do lado
de cá da barricada, agora?
O INESC Porto conta,
presentemente, com 51 doutorados e nele co-existem 36 estudantes de
doutoramento. Este indicador é mais do que suficiente para
entendermos que é necessário incrementar o número destes, para que
cheguemos a um rácio mais equilibrado.
Digamos que o alvo é
ter um rácio igual a um - de forma que se possa argumentar que cada
doutorado tem, em média, a seu cargo um doutorando.
Para lá chegarmos,
precisamos de reunir várias condições. Uma delas é, certamente,
ganhar capacidade de atracção de estudantes estrangeiros. Não creio
que haja campo de recrutamento apenas em Portugal, suficiente e de
qualidade.
Outra, é manter o
ambiente e a atitude que referes com tanta propriedade.
O INESC Porto, neste
particular, contribui tanto para as condições técnicas do teu
doutoramento como para a tua formação humana. A cultura das
instituições influencia as pessoas, mas a cultura também se
constrói com as pessoas. Se formos melhores pessoas, seremos também
melhores investigadores.
Ficamos, todos,
felizes pelo teu testemunho positivo. Não é irrelevante que, com
humor, tenhas chamado a atenção que és docente da Faculdade de
Economia - a Universidade do Porto sai sempre beneficiada. Com
jeitinho, quem sabe não poderemos vir a incorporar mais vertentes
económicas nas nossas actividades... talvez até um doutoramento...
... sempre com a
nossa cultura, claro!!!!
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