Por
Luís Borges de Almeida*
A reestruturação
que foi levada a cabo nos últimos anos no INESC,com a formação de
diversos "filhos", veio alterar significativamente diversos
aspectos do funcionamento da instituição. Dirigindo-se este artigo
aos membros do INESC-PORTO, e podendo alguns não conhecer de perto a
realidade do INESC em Lisboa, valerá a pena frisar que a estrutura
que foi aqui criada difere bastante da que existe no Porto. Por um
lado, os antigos centros PEDIP da área das tecnologias de
informação foram reunidos numa empresa, a LINK. Por outro lado, as
restantes actividades foram agrupadas em instituições de dois tipos
distintos: o INESC-ID e o INESC-MN, ambos formados essencialmente por
docentes universitários e bolseiros, e virados para uma actividade de
I&D de carácter mais universitário, e o INOV, virado para uma
actividade de desenvolvimento de carácter mais empresarial, baseada
essencialmente em técnicos contratados.
A divisão de uma
instituição em diversas instituições distintas, mesmo que sob um
guarda-chuva comum, acarreta necessariamente uma maior separação
entre as actividades de por cada uma delas dado que, naturalmente, os
respectivos membros tendem a pensar essencialmente no bem da sua
própria instituição. Isto sucede mesmo que sejam excelentes as
relações entre membros das várias instituições, e nomeadamente
entre os membros das respectivas direcções, como é o caso.
As preocupações de
cada uma das instituições são distintas. Ilustrando com o caso a
que me encontro mais directamente ligado, a preocupação central dos
órgãos directivos do INESC-ID tem sido o défice financeiro
estrutural que este instituto tem. Apesar de a existência deste
défice ter sido um facto assente já na altura em que a instituição
foi constituída, não deixa de ser um problema que é essencial
resolver, e que tem absorvido uma parte muito significativa dos
esforços dos órgãos directivos. Felizmente esses esforços parecem
ter vindo a dar frutos, estando-se provavelmente a caminho de uma
solução, com a colaboração dos sócios, o IST e o INESC.
As consequências da
reestruturação do INESC ter-se-ão sentido de forma muito mais
marcada em Lisboa do que no Porto. Neste último existiu uma maior
continuidade, porque o pólo do INESC no Porto constituía já uma
unidade com uma identidade própria, e que não foi dividida. Houve
também continuidade a nível dos órgãos directivos. Em Lisboa, para
além da divisão em diversas instituições, há que ter em conta
também a entrada em funções de órgãos directivos formados por
pessoas que não tinham, até esse momento, experiência do ofício, e
que têm vindo a aprendê-lo nos últimos anos. Deve notar-se, no
entanto, que a forma como a reestruturação foi feita em Lisboa não
se deveu a um acaso, nem provavelmente a falta de visão. Terá sido,
nas suas linhas gerais, inevitável face a uma conjuntura que era
muito diferente da existente no Porto. Para mencionar só um factor,
notemos que nunca
houve, em Lisboa, uma grande integração entre grupos de I&D e
centros PEDIP, ou seja, entre o I&D de carácter mais
universitário e o desenvolvimento de carácter mais empresarial. No
essencial as
instituições dividiram-se ao longo de linhas nas quais existia já
pouco intercâmbio.
Posto isto,
pergunta-se: qual a cooperação que pode existir entre as várias
instituições do espaço INESC? Penso que há factores positivos que
não são de desperdiçar. Uma história comum, uma cultura semelhante
e muitos casos de conhecimento pessoal facilitam os contactos e a
existência de laços de confiança, que são essenciais. Mas a
cooperação não se força: nasce quando existe oportunidade e quando
as pessoas lhe sentem a vantagem. Desse ponto de vista a proximidade
física é certamente um factor positivo. Mesmo assim, e apesar da
complementaridade que existe entre os tipos de actividade
desenvolvidos, por exemplo, no INESC-ID e no INOV, e apesar também do
interesse das direcções de ambas as instituições na criação de
laços mais estreitos, têm sido ainda poucos os casos em que se têm
estabelecido actividades de I&D conjuntas entre as duas
instituições.
Quero com isto dizer
que o fazer nascer colaborações efectivas é difícil. Há, no
entanto, que manter abertura, um clima propício, e que apoiar as
iniciativas que vão surgindo. A criação de oportunidades de
conhecimento mútuo e de troca descontraída de ideias é, na minha
opinião, uma das melhores formas de fazer surgir mais situações de
colaboração. Mas, novamente, penso que isso não se força. Ou seja,
não estou a falar de reuniões formais, normalmente bastante
maçadoras. Se alguém tiver jeito para organizar torneios de futebol,
ténis ou mesmo berlinde, nos quais as pessoas se empenhem... Se
alguém tiver outras ideias desse estilo...
*
Presidente da Direcção do INESC-ID Lisboa |