Por Cláudio Vieira* 

Olhando para esta página em branco, surge a questão inevitável: o que escrever?! Poderia falar do Passado, da minha experiência no INESC Porto, mas é um tema muito pessoal e cada um vive e sente as situações de forma diferente... Poderia falar do Futuro, daquilo que ainda espero concretizar na sequência das minhas actividades no INESC Porto, mas o Futuro é também muito pessoal e cada vez mais turvo e incerto... Portanto, prefiro falar do Presente! O tempo presente que nos envolve a todos! Escrevo uma interpretação pessoal...

É triste e duro dizê-lo, mas a verdade tem que ser dita: A CRISE chegou ao INESC Porto! Estou certo de que já tinham ouvido falar nela, de que se estava a aproximar perigosamente, pois os rumores correm depressa. Não se deixem enganar porque não são apenas rumores, a ameaça é bem real. No outdoor gigante já se pode ler o anúncio: Não perca a grande produção "O ataque da CRISE", em exibição num Instituto perto de si. É o grande sucesso do momento. Os ataques da CRISE sucedem-se em todo o país e afectam (quase) todos os sectores de actividade. Qualquer noticiário tem obrigatoriamente que falar desta fatalidade.

A CRISE entrou no INESC Porto! E agora?! O que fazer?!

A CRISE é uma praga! Inesquianos, estamos em guerra! Vamos combater a CRISE!

A janela de oportunidade para o combate preventivo da CRISE já terminou. As medidas preventivas que foram tomadas, e as que não o foram, falharam claramente os objectivos. Já passou demasiado tempo e ainda não existe um plano estratégico de combate no terreno. Em tempo de guerra não se limpam armas, assim diz o ditado! Não podemos passivamente aceitar a CRISE. Não podemos esperar sentados que a CRISE passe, que o nevoeiro e o fumo se dissipem, que a poeira assente, para apenas depois avaliar os estragos, ajudar a levantar os moribundos e contabilizar as baixas. Temos que tentar combater a CRISE de forma activa e racional.

As tropas estão cansadas, desmoralizadas, perderam o Norte! Cada dia que passa, a CRISE ganha terreno e as tropas sofrem mais algumas baixas. Está a tornar-se num massacre... O cenário é cada vez mais negro... Alguém tem luz?! É preciso uma luz para encontrar a melhor forma de sair deste buraco negro. É necessário reflectir sobre a identidade do INESC Porto. É uma questão de sobrevivência! É a melhor altura para definir um novo rumo, novos objectivos e novas estratégias. A fórmula mágica de equilibrar a balança colocando desenvolvimento de um lado e investigação do outro parece que já não resulta, pelo menos em tempo de CRISE.

Qual é a solução para a CRISE?! Alguém sabe?!... Eu também não!!! Mas tenho uma opinião...

O INESC é um lugar de passagem... Daí a existência da chamada "Massa Rolante"! Neste momento não pode ser assim! Temos que assumir uma posição de contra-ataque, reunir todas as armas e combater a CRISE. As pessoas foram recebidas pelo INESC, trabalharam, aprenderam, evoluíram, produzem mais e com mais qualidade. Agora querem aproveitar a oportunidade para retribuir! Estas pessoas que estão de passagem são, a meu ver, os lutadores mais fortes para combater a crise. O INESC não pode dispensar lutadores fortes. Não estará a "Massa Rolante" a rolar depressa demais?! Não será tempo de apostar mais em projectos de desenvolvimento e integração?! Aproveitar o know-how da "Massa Rolante" para concretizar em tempo útil e com sucesso projectos lucrativos. Sim... porque isto é tudo uma questão de dinheiro!!!

Inesquianos, levantem-se e lutem! Juntos podemos vencer a CRISE!!!

* Colaborador da Unidade de Telecomunicações e Multimédia (UTM)

O CONSULTOR DO LEITOR COMENTA 

Queres o meu isqueiro?...

Meu caro Cláudio:

CRISE: de qual falas? Conheço duas, a real e a que está nas nossas cabeças.

 A real estimula-nos, torna-nos mais astutos e eficientes. Libertemo-nos da outra, daquela que é fruto do pessimismo e só nos tolhe a acção e a clarividência.

 2002 foi um annus horribilis e, todavia, o INESC Porto fecha com resultados equilibrados. É à custa de proveitos extraordinários, mas não interessa para o meu ponto: demos a volta por cima.

 A crise real fez encolher o nosso mercado de clientes tradicional. Que fazer? Esperar que ele retome? A minha direcção é outra: diversificar, alargar, ampliar.

 Neste ano, a par das dificuldades, há também a emergência de sinais positivos. Convido-te a ler o Editorial deste número, em que o Prof. Pedro Guedes de Oliveira explica, de forma clara e lúcida, qual o vector estratégico para os próximos dez anos, e como o vamos compor. Estamos a pensar em grande, meu.

 O INESC Porto é lugar de passagem para alguns, e de maior permanência para outros. Já pensaste no serviço patriótico que prestamos ao país? Todo o cidadão que saiu do INESC Porto foi enriquecer, com o que aqui ganhou e de inúmeras formas, a nossa sociedade. A nossa instituição acrescenta valor a Portugal.

 Nós precisamos de vários tipos de lutadores fortes. Temos que ser cientificamente dos melhores DO MUNDO nas áreas em que nos especializamos. Mas, sem contratos, isso de nada nos vale. Por isso, temos também que lutar forte na percepção dos mercados, na conquista de contratos. Cada vez que eu ou tu dissermos “precisamos de mais contratos”, eu ou tu temos que imediatamente pensar em qual a nossa cota de responsabilidade em os arranjarmos, em os negociarmos, em os assegurarmos.

 A nossa diferença, em relação ao mundo académico clássico, é ter a cristalina percepção disto e do que isto implica - e aceitar ir à luta organizadamente. Com estratégia. Com objectivo.

 Sem projectos, não vivemos. Nenhuma empresa sobrevive sem que os seus préstimos sejam solicitados, claro, e nós não somos diferentes. FELIZMENTE que não somos diferentes.

 Precisamos, pois, também de ti.

 Mexe-te!...