Por Pedro Guedes de Oliveira*
Como é mais ou menos inevitável, nestes primeiros
tempos do novo ano há que reflectir um pouco sobre a
evolução previsível da nossa instituição, quer quanto a
condicionalismos externos, quer quanto ao que poderemos
fazer para que ela seja, tanto quanto possível, o resultado
da nossa vontade.
A situação actual é um pouco paradoxal, com alguns
aspectos de crise, mas também com algum bafejo de sorte.
Com efeito, acabámos de passar um ano difícil em que a
nossa actividade sofreu alguns reveses - quer ditados pela
conjuntura delicada que se vive em termos nacionais e
internacionais, quer pela descontinuidade criada pelo acabar
do 5º PQ europeu, quer ainda porque, porventura, não
antevimos algumas destas dificuldades e não nos preparámos
adequadamente para a sua ocorrência. Contudo, foi também o
ano em que nos foi concedido o estatuto de Laboratório
Associado e em que o POE, a que nos candidatáramos em 2001,
teve a sua execução permitindo-nos algum alívio
económico e financeiro. Acresce-se também que (e isto é
virtude nossa) partíamos, em Janeiro de 2002, com uma
situação razoavelmente equilibrada.
Portanto, eu diria que a situação actual é
caracterizada por alguma dependência em relação a
programas de financiamento com fim à vista que permitiram
uma situação razoável do ponto de vista económico embora
apenas sofrível do ponto de vista de tesouraria.
E agora?
Em primeiro lugar devemos preparar-nos para um possível
prolongamento deste cenário de crise e atacarmos o futuro
imediato com resolução, procurando novos mercados e
parcerias, diversificando os nossos contactos, consolidando
e respondendo da melhor forma possível àqueles que nos
têm vindo a ser favoráveis, assegurando globalmente uma
qualidade de resposta que seja irrepreensível. Temos,
simultaneamente, de aumentar a nossa eficácia a todos os
níveis e de reduzir a dispersão de áreas de intervenção
colocando-as em torno de um conjunto mais limitado de
objectivos estratégicos para os quais consigamos reunir
massa crítica. Temos, finalmente, de nos "atirar"
ao novo programa quadro da UE, o que não é tarefa trivial
já que as mudanças foram muitas e os desafios e
dificuldades vão, pela certa, ser maiores. Mas isto afinal,
não é novo: é o que, com razoável sucesso, temos vindo a
fazer!
De novo, há que preparar a instituição para os
desafios que, dentro de 5 a 10 anos deveremos ser capazes de
responder. (A resposta já fica, portanto, para depois da
minha reforma...). Se, afinal, pela conjuntura
desfavorável, os nossos recursos humanos não estão tão
atarefados, mais do que gastá-los (e agastá-los)
unicamente numa procura desesperada de pequenos e médios
contratos de curto prazo, devemos usá-los, em parte, para
abrir novas estradas de investigação e formação
avançada, daquela que sairão as soluções de que o
mercado, dentro de alguns anos, estará à espera. E ao
falar em mercado falámos não só no nosso país mas no
espaço europeu em que nos integramos cada vez mais.
Reparemos de facto que, em algumas áreas, os nossos
pontos mais fortes resultam ainda de evoluções das
tecnologias que começámos a desenvolver nos primeiros anos
da nossa existência aqui no Porto: muitos ainda terão tido
a vivência de projectos paradigmáticos como o SIFO, o AIGE,
e o SIGMA. Claro que o conhecimento que daqui resultou se
desenvolveu muito, mas acho que o número de rupturas foi
relativamente pequeno.
É, portanto, altura de o fazer: o ano de 2003 deve ser o
ano de arranque de um certo número de iniciativas em novas
áreas, o que vai implicar muita discussão, alguma coragem
e risco, mas do qual espero que, daqui a um ano, possamos
fazer um balanço positivo, medido, neste contexto, pela
indicação clara de novas avenidas promissoras, pela
identificação de áreas em que não será assisado
insistir e, sobretudo, por um número de publicações
claramente diferenciado. A direcção, as chefias de
unidade, o Conselho Científico e as Comissões Científicas
de Unidade serão todos chamados a dinamizar e criar
condições de sucesso a estas iniciativas.
A isto também nos obriga o estatuto de Laboratório
Associado. Este estatuto, que esteve associado a uma
prestação classificada como "Excelente",
cria-nos grandes responsabilidades e virá a ser avaliado
dentro de quatro anos. Simultaneamente e, como é sabido,
tal estatuto prevê a contratação de alguns novos
elementos doutorados, com grande potencial, e teremos de
usar esta possibilidade com enorme critério e
determinação. Haverá uma forte possibilidade de que
alguns destes elementos não sejam portugueses o que, a meu
ver é em si mesmo um aspecto muito positivo: a
internacionalização a que, internamente, temos assistido,
deverá continuar a ser reforçada.
Enfim, acho (e espero) que 2003 seja um ano com alguns
perigos, com bastantes riscos assumidos, com muitas
mudanças e com uma forte consolidação qualitativa da
nossa produção científica, em paralelo com a manutenção
de toda a actividade de tipo "interface" a que o
meio envolvente já está cada vez mais habituado a recorrer
e a associar-nos.
*
Presidente do INESC Porto