Por Graça Barbosa*
Na minha perspectiva, que julgo corresponder
aproximadamente à do senso comum, o termo "hacker"
sempre teve uma conotação negativa - mais ou menos grave,
porém negativa. Ou seja, "hacker" ou pirata
informático seriam mais ou menos sinónimos.
Ora, qual não foi o meu espanto quando, há algum tempo
atrás, o Coordenador de uma Unidade do INESC Porto
apresentou como argumento decisivo para a admissão de um
novo colaborador o facto de ele ser um "hacker",
explicando que essa qualificação era algo de muito
valioso!
Mais recentemente, li uma notícia sobre um aluno do
ensino secundário nos Estados Unidos, a quem foi atribuído
um prémio por ter conseguido alterar as suas próprias
notas no sistema informático da escola (para que se
entenda, este acto foi objecto de um projecto previamente
acordado com a escola, tendo sido encarado como um teste à
segurança do sistema)!
Há dias, tomei conhecimento da intenção dos parceiros
de um projecto europeu, de colocar um determinado resultado
no domínio público, por forma a, entre outros objectivos,
despertar o interesse dos "hackers"! Já um pouco
menos surpreendida, ainda assim questionei tal ideia. Desta
vez, fui muito solicitamente esclarecida acerca das
diferenças entre "hackers" e "crackers"
(termo que, até então, apenas relacionaria com bolachas
estaladiças!), sendo que este últimos é que seriam os
tais piratas, mas nunca os primeiros!
Na sua própria definição, os "hackers" são
pessoas que gostam de explorar os detalhes de sistemas
programáveis e de descobrir como aumentar as suas
capacidades. Por oposição, os "crackers"
divertem-se a introduzir-se em sistemas informáticos, com o
intuito de causar danos ou obter ganhos ilegítimos (há
ainda os "phreaks", que são os "crackers"
dos sistemas de comunicações telefónicas. As coisas que
tenho aprendido!).
Bem, o certo é que o assunto despertou a minha
curiosidade, levando-me a querer a explorá-lo um pouco
mais. Assim, resolvi fazer uma pequena incursão ao
maravilhoso mundo dos "hackers", através da
Internet, claro! Eis as minhas primeiras impressões:
Os "hackers" criaram e desenvolveram a
Internet. Portanto, eu devo começar por lhes agradecer o
simples facto de poder usar este meio para pesquisar acerca
deles.
Os "hackers" são anjos e os "crackers"
é que são os fora-da-lei. Os "hackers" constroem
coisas novas, os "crackers" destroem-nas. Logo, os
"hackers" detestam os "crackers" e
tentam demarcar-se deles! De facto, consideram-nos
preguiçosos, irresponsáveis e pouco brilhantes!
Os "hackers" assumem-se como uma elite de
pessoas com um Q.I. acima da média, livres e independentes,
com grande capacidade de concentração na resolução de
problemas, com uma cultura, uma ética, uma atitude e estilo
de vida próprios. Têm até um vocabulário específico (o
"Jargon File", em http://tuxedo.org/~esr/jargon/html/ - esta página já não está disponível),
que até me fez lembrar o do universo do Harry Potter.
Como estes aspectos me interessam bem mais do que as
proezas técnicas que os "hackers" são capazes de
fazer, chamou particularmente a minha atenção esta coisa
do estilo de um verdadeiro "hacker". Vejamos
então os ditames de um dos gurus mais conhecidos acerca de
tal estilo:
- aprender a escrever bem na sua língua materna mas
também em inglês, que é a língua por excelência da
internet - as pessoas descuidadas a escrever ou que dão
erros ortográficos ou de pontuação, nunca poderão ser
verdadeiros "hackers"!;
- ler ficção científica e frequentar convenções
sobre ficção científica - uma boa forma de conhecer
outros "hackers" ou "proto-hackers";
- estudar a filosofia Zen e/ou praticar artes marciais;
- desenvolver um ouvido analítico para a música a
aprender a apreciar tipos peculiares de música; aprender a
tocar bem um instrumento musical ou a cantar;
- desenvolver o gosto por jogos de palavras.
Aparentemente, todas estas actividades estarão
relacionadas com uma combinação de capacidades localizadas
no lado direito ou no lado esquerdo do cérebro,
consideradas fundamentais para um verdadeiro "hacker".
O lema do estilo "hacker" é: trabalha tão
intensamente como te divertes e diverte-te tão intensamente
como trabalhas! O que culmina numa utopia extremamente
interessante: para os verdadeiros "hackers", as
fronteiras entre lazer, trabalho, ciência e arte tendem a
desaparecer ou a fundir-se numa "high-level creative
playfulness" (nem traduzo, para não estragar o
efeito!). É lindo! Estou verdadeiramente fascinada!
Depois disto, gostaria de conhecer um "hacker",
mas dos verdadeiros! Nada de imitações ou "crackers"
de segunda categoria! Alguém se acusa? Devo avisar que um
verdadeiro "hacker" tem orgulho em assumir-se como
tal e não esconde a sua identidade! Então?
E, só por curiosidade, alguém me sabe dizer se também
há mulheres "hackers"?
P.S.: Quem estiver interessado em tornar-se um verdadeiro
"hacker" poderá começar por http://www.tuxedo.org/~esr/faqs/hacker-howto.html - esta página já não está disponível.
*
Responsável do Departamento de Informação e Logística (DIL)