Entrevistas e fotos
dos autores dos desenhos da exposição "Art In esc"
(entrada livre de 11 a 31 de Julho de 2003 no edifício do INESC
Porto). Encontra parte das obras em exposição na Galeria
Jorge de Sena deste BIP.
André
Sousa, César Taíbo,
Daniel
David, Diana Costa,
Inês
Coutinho, Inês Oliveira,
Luís
Lima, Miguel Marques,
Paco,
Ricardo Pistola, Ruben Freitas e
Sérgio Azevedo
André
Sousa
23 anos
Natural de Massarelos, Porto
O que faz
actualmente?
Sou estudante na FBAUP (5º ano). Paralelamente, estou, com
um grupo de amigos, a iniciar um projecto chamado "Para a
semana". É um atelier na Rua Antero de Quental onde
trabalhamos, mas também estamos a abrir portas para
apresentarmos projectos e actividades artísticas lá.
Que idade tinha
quando percebeu que tinha a vocação para as artes?
É um bocado difícil de responder...há a tomada de
posição oficial no fim do 9º ano quando decidimos estudar
artes, mas antes disso há todo um percurso que uma pessoa,
agora mais velha, começa a lembrar-se. Tenho uma fotografia lá
em casa onde estou eu, em miúdo, a desenhar. O facto de o meu
pai ter tirado aquela foto e a ter guardado, deve querer dizer
alguma coisa.
Quanto tempo
demorou a produzir esta obra?
Isso é segredo... estou a brincar. O tempo que demorei a
produzi-la foi muito pouco. O tempo que demorou a secar foi bem
mais. Essa obra surgiu no desenvolvimento de um processo e esta
foi das primeiras desta série de desenhos em malte. Andei a
desenvolver trabalhos sobre beijos com outros papéis, tintas e
desenhos até que cheguei a um momento em que experimentei isso
e gostei. Produzir a obra foi uma coisa imediata, mas posso
dizer que demorei bastante tempo até chegar aí.
Em que estava a
pensar?
Até agora tenho trabalhado mais em paisagem, relações
mais políticas com o urbanismo... mas houve uma quebra de
repente e comecei a trabalhar com coisas mais ligadas ao sentir
e ao sentido mais emocional. Neste caso, não estava a pensar
propriamente num beijo, mas estava a pensar.
Se pudesse
atribuir-lhe um título, qual seria?
Já tem título, é "Beijo".
O que é que
detestava que as pessoas pensassem da sua obra?
Detestava que pensassem que era o símbolo do Continente
(hipermercado). Eu gosto deste desenho, mas é natural que faça
muitas conexões. Tudo o que vejo pode ser qualquer coisa. Nos
meus trabalhos acontece o mesmo, faço-os e depois penso:
"E se fosse isto?". São sempre relações forçadas.
Este faz-me lembrar o C de Copyright ou de Continente e não
gostava que as pessoas pensassem isso. O desenho é uma forma a
envolver outra, um abraço...
Acha que as
artes plásticas são reconhecidas no nosso país?
Não, e acho que o facto do actual Governo ter extinguido o
Instituto de Arte Contemporânea é significativo. Há um grupo
de pessoas que está no meio e reconhece, mas a extinção do
IAC é significativa. Nem é pelos subsídios que eles poderiam
dar, mas é pelo pressuposto. Se fecham o Instituto de Arte
Contemporânea, é porque já não existe arte contemporânea.
Pelo menos, mantinham a porta aberta só para as pessoas
passarem e saberem que estava lá alguma coisa.
Que espera do
futuro?
Posso responder daqui a dois anos? A minha ambição e o meu
sonho é o de todos: sermos artistas famosos, ricos e felizes
com Jaguares. Mais a sério, estou a pensar em dar aulas nos
Açores. Interessava-me desenvolver o trabalho sobre os Açores
e a condição de vida. Também gostava (e vou) concorrer a
bolsas na Alemanha por exemplo. O mestrado não me apetece fazer
já, quero fazer uma pausa e estar mais consciente do que quero.
Que pensa do interesse dos engenheiros pelas artes e em
particular da forma como vão apreciar os seus trabalhos?
Há engenheiros interessados em arte como em todos os
sectores há gente interessada em arte, iniciada na linguagem
artística. Os médicos, por exemplo, têm a mania que gostam de
arte. Acho que isso vem das pessoas e não da actividade que
desenvolvem. Relativamente a como podem ver os meus trabalhos,
acho que vai haver muita gente que vai achar estranho e pensar
como é que isto valeu este dinheiro. Compreendo todas essas
dúvidas que as pessoas podem ter sobre o valor de determinados
objectos artísticos, mas também são pessoas que esquecem o
valor depositário, não conhecem o valor da arte e, por isso,
não entendem. Se se levar um telemóvel para o meio da
Amazónia e se oferecer a um índio que nunca tenha visto
tecnologia, ele não lhe dá valor nenhum. E aqui muita gente
dá muito dinheiro por telemóveis.
Qual pensa que deve ser o papel conjunto das engenharias e
das artes na sociedade que vivemos? Acha que se deve fazer algo
para encorajar a aproximação destas duas partes?
A engenharia civil, por exemplo, devia unir-se à
arquitectura porque hoje vemos muita construção civil que não
é nada no sentido de arte. Acho que não é só a engenharia
que se devia unir às artes. Tudo devia unir-se às artes e as
artes deviam unir-se a tudo. Quantas mais uniões melhor, desde
que não haja sufocos.
César
Taíbo
A entrevista não foi possível por se encontrar ausente em
África.
Daniel
David
27 anos
Natural de
Vitória, Porto
O que faz actualmente?
Pinto e dou explicações de Geometria Descritiva. Estou
lançado no mercado. Tenho contratos com duas galerias. Estou a
trabalhar em pintura e escultura.
Que idade tinha
quando percebeu que tinha a vocação para as artes?
Não sei, sempre fez parte de mim. Quando me decidi a entrar
nas Belas Artes, foi mesmo um acidente de percurso. A questão
era mesmo arquitectura ou design, mas entre opiniões de
professores do secundário, decidi primeiro começar pelas Belas
Artes. Se não me entendesse com esse sistema, mudava. Acho que
foi uma sorte.
Quanto tempo
demorou a produzir esta obra?
O período de concepção deste desenho foi cerca de um dia.
Em termos de horas de trabalho, porque não foi feito tudo no
mesmo dia. É uma obra que vem com uma certa linha de pensamento
e isso já vinha de há mais de um ano.
Em que estava a
pensar?
Não estava a pensar em nada em concreto. São uma série de
pensamentos, bloqueios e raciocínios paralelos. É impossível
dizer em que é que estava a pensar. O raciocínio é todo um
exercício estrutural muito geométrico de sintetização de uma
imagem, muito tridimensional, mas não sei propriamente dizer o
que é que estava a pensar. Nem todas as minhas obras são tão
geométricas. Tenho obras mais abstractas, mais figurativas.
Se pudesse
atribuir-lhe um título, qual seria?
Isto é mais um fragmento de uma estrutura momentânea, de
uma estrutura plástica. A haver um título seria "Uma
estrutura".
O que é que
detestava que as pessoas pensassem da sua obra?
Não detestava nada. O que é que eu ia detestar? Não me
choca absolutamente nada pensarem seja o que for, a não ser que
seja um pensamento fácil. A única coisa que eu não aceito e
que reprovo é uma especulação fácil... Não pensarem no que
estão a dizer e desdenharem só porque não percebem. Primeiro
detêm-se sobre as coisas e, mesmo que percebam ou entendam de
maneira diferente, que pelo menos se esforcem por pensar. No
caso de não perceberem, pelo menos darem o benefício da
dúvida de não estarem a perceber porque não estão na mesma
linha de pensamento, no mesmo raciocínio, na mesma frequência.
Acha que as
artes plásticas são reconhecidas no nosso país?
Ainda somos um bocado provincianos nessa área. Estamos a
desenvolver uma atitude favorável, mas ainda somos contidos em
relação à Europa e Estados Unidos.
Que espera do
futuro?
Que eu apareça. Para além de viver? Não sei... Amanhã a
minha intenção é continuar a produzir arte, continuar a
criar.
Que pensa do
interesse dos engenheiros pelas artes e em particular da forma
como vão apreciar os seus trabalhos?
Há um entendimento perceptual. Nesse sentido, há sempre
ligação. Há uma série de comportamentos generalizados e
comuns a todos os homens, portanto é esse o elo de ligação.
Qual pensa que
deve ser o papel conjunto das engenharias e das artes na
sociedade que vivemos? Acha que se deve fazer algo para
encorajar a aproximação destas duas partes?
O que se deve fazer, e que devia ser uma das prioridades
desde que existimos como sociedade organizada, é uma
interacção, uma interdisciplinaridade entre todas as áreas.
Não só entre áreas ditas de raciocínio matemático e de
raciocínio abstracto ou especulativo ou narrativo ou
literário. Devia haver uma interacção global. Todas as áreas
deviam viver uma interacção permanente.
Diana Costa
23 anos
Natural de S. João da Madeira
O que faz
actualmente?
Frequento o curso de Mestrado em Pintura na Faculdade
Wimbledon School of Art, Londres.
Que idade tinha
quando percebeu que tinha a vocação para as artes?
Já em pequenina não largava o lápis e o papel, andava
constantemente a copiar tudo o que via (coisas de crianças como
cromos, postais, calendários)…
Quanto tempo
demorou a produzir esta obra?
Demorei entre dois a três meses.
Em que estava a
pensar?
Estava concentrada na palavra "compreensão",
construindo uma nova estrutura de interpretação. Fazendo e
desfazendo, como se o espaço da tela fosse um puzzle em que
tentava doar-lhe um novo sentido. Criava uma atmosfera fluída,
na qual o espectador seria convidado a emergir, tornando-se ele
mesmo um reflexo, uma personagem entre os múltiplos sentidos da
imagem.
Se pudesse
atribuir-lhe um título, qual seria?
"Câmara Mágica".
O que é que
detestava que as pessoas pensassem da sua obra?
Nada… os gostos são tão variados, as opiniões são
sempre tão diferentes que até hoje ainda não ouvi nada que me
tenha chocado.
Acha que as
artes plásticas são reconhecidas no nosso país?
Acho que cada vez mais são… O país não parou nesse
sentido. Acho que nos falta um pouco de reconhecimento
internacional.
Que espera do
futuro?
Espero poder fazer um trabalho sério e coerente.
Que pensa do
interesse dos engenheiros pelas artes e em particular da forma
como vão apreciar os seus trabalhos?
Depende do olhar do observador/sujeito, engenheiro ou não.
A apreciação depende sempre do grau de informação que se tem
sobre as questões artísticas.
Qual pensa que
deve ser o papel conjunto das engenharias e das artes na
sociedade que vivemos? Acha que se deve fazer algo para
encorajar a aproximação destas duas partes?
Quando se trabalha em conjunto, as coisas funcionam sempre
melhor. Se nos lembrarmos da Arquitectura dos Engenheiros do
princípio do século vemos que é possível produzir resultados
substancialmente melhores com a união dos diversos campos. Como
exemplo, temos a Torre Eiffel e a ponte D. Luís.
Inês Coutinho
26 anos
Natural do Porto
O que faz actualmente?
Acabei o curso em Outubro passado e tenho estado a ver o que
é que quero fazer. Entretanto, continuo a trabalhar. Tenho uma
exposição num bar…
Que idade tinha
quando percebeu que tinha a vocação para as artes?
Eu fui para Artes sem pensar muito porque acho que, se
calhar, isto já é de família. O meu pai tirou o mesmo curso
que eu, a minha avô pintava e tenho vários tios que também
estão ligados a esta área. Cresci um bocado no meio de tudo
isso e, quando tive que optar, nem pensei muito. No início
ainda hesitei entre Arquitectura ou Belas Artes, mas depois
optei pela segunda.
Quanto tempo
demorou a produzir esta obra?
Foi muito rápido. Estes desenhos fazem parte de um conjunto
muito grande de desenhos. Não são isolados e é uma espécie
de um processo que já vinha do ano anterior. Foi um bocado a
continuação da linguagem que tenho vindo a desenvolver nessa
área. É como uma escrita automática. São desenhos muito
minimais, tenho outros mais elaborados.
Em que estava a
pensar?
Um deles, parece um homem a vomitar palavras. Tenho desenhos
que são muitos tracinhos muito pequenos, todos iguais. Parecem
um autismo de escrita, que são quase como poemas, mas não têm
palavras. São palavras indecifráveis. Pode ser um mistério,
pode ser uma dificuldade de comunicação. No outro desenho não
estava a pensar em nada de especial, foi mais um exercício
formal. Já nem me lembro como é que ele começou. Às vezes
vou desenhando, depois não gosto e tento reformular as coisas
até conseguir encontrar aquilo que acho que tem que ser. Pode
ser um dente de um rinoceronte, um mamilo, uma unha…
Se pudesse
atribuir-lhe um título, qual seria?
Não gostava de atribuir nenhum título.
O que é que
detestava que as pessoas pensassem da sua obra?
É complicado. Era capaz de ficar um bocado triste se as
pessoas não gostassem, mas têm esse direito. É aquela
história "o que seria do amarelo se todos gostassem do
azul". Sou um bocado desprendida em relação àquilo que
faço. Apenas não gostava que o meu trabalho - e acho que quem
produz este tipo de trabalho pensa assim - não fosse
considerado interessante, no mínimo… que não despertasse a
curiosidade das pessoas, que não mexesse com as pessoas de
alguma maneira. Sim, o que mais detestava era a indiferença,
apesar de agora ser muito fácil as pessoas serem indiferentes
porque são bombardeadas com imagens e informação. Hoje em
dia, há pouca gente que perde tempo a olhar para um quadro e a
pensar nele.
Acha que as
artes plásticas são reconhecidas no nosso país?
Muito pouco. As coisas têm evoluído um bocadinho, mas
agora está muito difícil. As pessoas vão muito a Serralves
porque é giro e "é bem", mas o Porto é uma cidade
pequena, toda a gente se conhece… É um circuito um bocado
fechado, não há muita rotatividade. Mas produz-se muita coisa
muito interessante aqui no Porto e é pena que as coisas não
consigam sair para o exterior.
Que espera do
futuro?
Gostava de poder continuar a trabalhar, a pintar e desenhar…mas
não tenho muitas ilusões. Sei que é difícil. Se calhar vou
para fora. Não sei…
Que pensa do
interesse dos engenheiros pelas artes e em particular da forma
como vão apreciar os seus trabalhos?
Acho sempre muito interessante quando são pessoas que não
têm nada a ver com a produção artística porque, se calhar,
quem faz, estuda e produz, quando vai ver, vê tudo de outra
maneira, de uma forma mais condicionada e crítica. Às vezes,
estamos demasiado por dentro das coisas para conseguirmos ter a
distância suficiente para analisar as coisas. As outras pessoas
vêm a arte com uma mente mais limpa, mais leve.
Qual pensa que
deve ser o papel conjunto das engenharias e das artes na
sociedade que vivemos? Acha que se deve fazer algo para
encorajar a aproximação destas duas partes?
Acho que sim. Agora cada vez mais com estes meios todos de
artes digitais, multimédia, embora não existam muitos fundos
de maneio, nem muita gente que apoie mesmo (até monetariamente)
esse tipo de pesquisa. Conheço bastante gente que trabalha em
artes digitais e que trabalha muito não só a parte estética
ou filosófica da coisa, mas também questões mesmo técnicas,
de informática, programação e usam isso para criar objectos
ou performances. Isso é muito interessante, acho que até devia
haver mais interacção entre estas áreas.
Inês Oliveira
23 anos
Natural de Massarelos, Porto
O que faz actualmente?
Sou ilustradora. Trabalho para várias editoras.
Que idade tinha
quando percebeu que tinha a vocação para as artes?
Desde sempre que desenhava bastante e com muito gosto. Já
sabia que tinha que desenhar.
Quanto tempo
demorou a produzir esta obra?
O tempo médio, a trabalhar duas vezes por semana, cerca de
um dia para as três gravuras.
Em que estava a
pensar?
As gravuras têm a ver com a transformação da vida, as
metamorfoses. Cada gravura contém um elemento chave que
condiciona a leitura da seguinte. É como que um retorno ao
início porque elas começam de uma maneira, tal como se fossem
uma banda desenhada, e acabam da mesma maneira, com algum
enriquecimento.
Se pudesse
atribuir-lhe um título, qual seria?
Se as gravuras tiverem alguma pretensão de serem arte, o
seu grande tema é a humanidade e outras questões como a nossa
sobrevivência, enquanto homens e seres pensantes. Quanto aos
títulos, cada um as intitula como entender.
O que é que
detestava que as pessoas pensassem da sua obra?
Não gostava que lhes fossem indiferentes. Podem pensar tudo
o que quiserem, só a indiferença é triste.
Acha que as
artes plásticas são reconhecidas no nosso país?
Não sou pessimista, pelo contrário. Acho que as artes
plásticas estão a conquistar o seu lugar no nosso país, que
é pequeno e não tem tradição nenhuma, mas aos poucos estão
a assumir um papel de necessidade. Acho que se sobrevive das
artes, de uma maneira ou de outra. Pode ser numa área mais
comercial, do género da ilustração que estou a fazer agora,
mas o povo português vai tendo a necessidade de ver arte e de
adquirir arte.
Que espera do
futuro?
Gosto muito de fazer ilustração e quero (e vou fazer)
sempre. Neste momento trabalho mais a aguarela, mas gostava de
continuar com o desenho, de ajudar a implementar o desenho como
forma artística. Aqui no Porto já há muitos espaços novos
que recebem jovens artistas que querem começar. Se os trabalhos
tiverem alguma qualidade, não é difícil expor neste momento.
Que pensa do
interesse dos engenheiros pelas artes e em particular da forma
como vão apreciar os seus trabalhos?
Conheço alguns engenheiros, mas o meu conhecimento é
insuficiente para estabelecer um padrão. Como pessoas, se forem
sensíveis, podem apreciar arte. Muito do seu trabalho tem uma
grande dose de criatividade e, por saberem que esta é difícil
e necessária, os engenheiros respeitam a criatividade do outro.
Qual pensa que
deve ser o papel conjunto das engenharias e das artes na
sociedade em que vivemos? Acha que se deve fazer algo para
encorajar a aproximação destas duas partes?
Todos podem funcionar em conjunto e acho que, no futuro, se
todas as áreas contribuírem para um projecto, poderá ser
melhor porque são áreas diferentes a pensar e a construir um
espaço melhor. Como o conhecimento não ocupa espaço, só
beneficiamos com isso.
Luís Lima
27 anos
Natural de Massarelos, Porto
O que faz actualmente?
Sou assistente do artista plástico Baltazar Torres. Em tudo o
que tiver a ver com arte, ajudo-o.
Que idade tinha quando percebeu que tinha a vocação para
as artes?
Não sei. Não foi desde pequeno. Uma pessoa faz a escola como
é normal e depois começa a aperceber-se a sua vocação. Acho
que foi no 12º ano ou mesmo depois de entrar para a Faculdade.
A minha tendência natural sempre foi para este lado, mas acho
que só tive consciência disso na Faculdade.
Quanto tempo demorou a produzir esta obra?
Mais ou menos sete horas de trabalho intensivo. Não falo em
concepção porque há uma linha de trabalho e há uma série de
tipos de trabalho que se vão fazendo.
Em que estava a pensar?
Eu pinto o mais básico, que é a matéria. Neste caso são
pedras, é terra. Tenho trabalhos mais elucidativos, porque este
é um bocado abstracto. Tento pintar e desenhar coisas bastante
materiais, mas que de facto se tornam abstractas por serem tão
materiais. Quando estou a pintar ou desenhar, estou
absolutamente concentrado na matéria em si. Não penso que
aquilo é um calhau ou... Estou a pintar ou a desenhar.
Se pudesse atribuir-lhe um título, qual seria?
"Simplesmente Chão" ou "Raso como o Chão".
O que é que detestava que as pessoas pensassem da sua obra?
A única coisa que eu detesto é que pensem que isto foi feito
de ânimo leve, que foi uma questão de fazer por fazer, porque
levo as coisas a sério. De resto, cada um tem a liberdade de
pensar o que quiser. Detestava que pensassem que isto são
meramente uns sarrabiscos e que não têm importância nenhuma.
Isso não é verdade porque para fazer representação (isto
não é representação, mas vou falar assim) desse tipo de
material com sarrabiscos é preciso muito mais trabalho do que
sarrabiscar. É preciso um trabalho metódico.
Acha que as artes plásticas são reconhecidas no nosso
país?
Sim, são reconhecidas por uma muito pequena percentagem. Pelos
outros não são reconhecidas de todo. Falando cruamente é
assim: nas artes plásticas o que interessa é o mercado. Nas
artes plásticas, nada gira à volta da verdadeira intenção da
pessoa que faz arte. É tudo uma questão de mercado e as
pessoas têm fama ou não consoante o marketing, consoante a
galeria que têm, a exposição que têm e as pessoas que têm
por trás a apoiá-las.
Que espera do futuro?
Espero nunca ter de fazer outra coisa.
Que pensa do interesse dos engenheiros pelas artes e em
particular da forma como vão apreciar os seus trabalhos?
Os meus trabalhos de certa forma têm a ver com alguma arte de
engenharia. Costumo pintar muitas cenas de construção civil,
auto-estradas e, por exemplo, o novo estádio das Antas já
está pintado... O meu trabalho tem a ver com a construção,
com a mudança, com coisas que se constroem e destroem. O
processo artístico é parecido.
Qual pensa que deve ser o papel conjunto das engenharias e
das artes na sociedade que vivemos? Acha que se deve fazer algo
para encorajar a aproximação destas duas partes?
Claro e acho que esta exposição promovida pelo INESC Porto é
a prova disso. Há uma relação... o meu trabalho tem a ver com
engenharia e a engenharia tem a ver com o meu trabalho. Acho
esta aproximação boa e enriquecedora.
Miguel Marques
27 anos
Natural de Lisboa
O que faz actualmente?
Frequento o 5º ano do Curso Artes Plásticas Pintura na
Faculdade de Belas Artes da Universidade do Porto.
Quanto tempo demorou a produzir esta obra?
Cerca de 3 semanas e muitas reflexões.
Em que estava a pensar?
"Silence is a Mind Game".
Se pudesse atribuir-lhe um título, qual seria?
"Silence is a Mind Game".
O que é que detestava que as pessoas pensassem da sua obra?
Que nada pensassem sobre a mesma.
Acha que as artes plásticas são reconhecidas no nosso
país?
Não. Apenas são o palco para meia dúzia de personalidades de
carácter meramente regional.
Que espera do futuro?
Pós-graduação no estrangeiro. E o resto só o futuro dirá.
Que pensa do interesse dos engenheiros pelas artes e em
particular da forma como vão apreciar os seus trabalhos?
O conhecimento artístico de cada um varia, por isso mesmo não
me calha a mim fazer juízo de valor face ao seu eventual
interesse artístico. A respeito do meu trabalho, não pretendo
que o apreciem, mas sim que este lhes marque uma posição. Que
os faça reflectir.
Qual pensa que deve ser o papel conjunto das engenharias e
das artes na sociedade que vivemos? Acha que se deve fazer algo
para encorajar a aproximação destas duas partes?
Qualquer que seja a intervenção que possibilite o entendimento
e/ou aproximação ao mundo artístico é de louvar. Pois, este
é o seu sem número de formas, caminham lado a lado com outros
diferentes mundos no desenvolvimento Humano. Assim, essa
aproximação apenas originará um interesse mútuo de
desenvolvimento e, por sua vez, de análise.
Paco (Francisco
Molina)
29 anos
Natural de Barcelona, Espanha
O que faz actualmente?
Realizo projectos artísticos, trabalho com o Autocad 2000,
finalizo estudos em desenho de equipamentos. Procuro trabalho
deste tipo...
Que idade tinha quando percebeu que tinha a vocação para
as artes?
Não posso lembrar-me, sempre e nunca. O que é se artista?
Quanto tempo demorou a produzir esta obra?
Cerca de 4 meses, ainda não está finalizado. (Paco refere-se a
outra obra em exposição).
Em que estava a pensar?
Nos azulejos, na luz reflectida neles, nas coisas que eles
falam, na cidade do Porto, nas intensas cores que renascem
depois da chuva... A intenção era "recuperar zonas mortas
da cidade", as ruínas que perderam o seu revestimento e
ficaram cinzentas. É uma homenagem ao azulejo como símbolo de
eternidade, luz, cor, Portugal...
Se pudesse atribuir-lhe um título, qual seria?
Azulejos.
O que é que detestava que as pessoas pensassem da sua obra?
Que é um tema típico ou recorrente e, assim, supérfluo.
Acha que as artes plásticas são reconhecidas no nosso
país?
Não sei se são bem reconhecidas, mas são bem utilizadas.
Que espera do futuro?
Nada.
Que pensa do interesse dos engenheiros pelas artes e em
particular da forma como vão apreciar os seus trabalhos?
Não sei qual é o ponto de vista dos engenheiros.
Qual pensa que deve ser o papel conjunto das engenharias e
das artes na sociedade que vivemos? Acha que se deve fazer algo
para encorajar a aproximação destas duas partes?
Construir um ambiente favorável às necessidades estéticas e
físicas do homem da rua. Ter um licenciado em Belas Artes em
qualquer empresa de desenho, engenharia, arquitectura... e
projectos como o vosso.
Ricardo Pistola
22 anos
Natural de S. João da Madeira
O que faz actualmente?
Estudo no 5º ano de Belas Artes.
Que idade tinha quando percebeu que tinha a vocação para
as artes?
Não sei. Acho que desde sempre gostei de desenhar e de pintar.
Quanto tempo demorou a produzir esta obra?
Isso é uma série de trabalhos que são quase um dicionário de
formas, todos com quase a mesma significação. São trabalhos
rápidos, de 2 ou 3 minutos cada um. No conjunto, passei cerca
de 3 meses a produzi-los.
Em que estava a pensar?
Eram desenhos automáticos, era só a exploração de uma linha.
Se pudesse atribuir-lhe um título, qual seria?
O título é o título da série: Dicionário de Formas.
O que é que detestava que as pessoas pensassem da sua obra?
Não detestava nada. Nem detestava que pensassem em nada. Acho
que às vezes não é muito importante pensar quando se observa
uma obra de arte. Nenhuma interpretação me chocava.
Acha que as artes plásticas são reconhecidas no nosso
país?
Acho que não são reconhecidas até porque se faz pouquíssima
arte. Há uns casos ou outros, mas normalmente são pessoas que
não ficam cá.
Que espera do futuro?
Gostava de continuar a pintar. Acho que é possível.
Que pensa do interesse dos engenheiros pelas artes e em
particular da forma como vão apreciar os seus trabalhos?
Não sei, não conheço ninguém de engenharia. Acho que a maior
parte não se interessa, mas deve haver alguns que lêem e se
interessam.
Qual pensa que deve ser o papel conjunto das engenharias e
das artes na sociedade que vivemos? Acha que se deve fazer algo
para encorajar a aproximação destas duas partes?
Já há uma ligação destas duas artes com a arquitectura, mas
acho que mais do que isso é impossível porque são campos
completamente diferentes.
Ruben Freitas
28 anos
Natural de Vila Nova de Gaia
O que faz actualmente?
Estudo no 5º ano de Belas Artes e trabalho numa galeria. Faço
de motorista, biscateiro...
Que idade tinha quando percebeu que tinha a vocação para
as artes?
Sempre fiz desenhos, desde que me lembro. Passava muito tempo a
desenhar, a fazer brinquedos. No meu 12º ano, cheguei a pensar
em Engenharia, mas acabei por escolher Artes.
Quanto tempo demorou a produzir esta obra?
Pouco tempo, cerca de 10 ou 15 minutos.
Em que estava a pensar?
Sei lá, pensava em brincar com as coisas, com a natureza...
Se pudesse atribuir-lhe um título, qual seria?
Talvez "Planta Comestível"...
O que é que detestava que as pessoas pensassem da sua obra?
Essa é difícil... Acho que não detestava nada.
Acha que as artes plásticas são reconhecidas no nosso
país?
Acho que sim. Como o mundo está cada vez mais tecnológico, as
artes se calhar acompanham essa tendência de evolução.
Que espera do futuro?
Gostava de ter dinheiro para fazer tudo o que me apetecesse:
desenhar, esculpir, criar coisas, estar à vontade...
Que pensa do interesse dos engenheiros pelas artes e em
particular da forma como vão apreciar os seus trabalhos?
Se calhar muitas vezes penso num lado mecânico das coisas,
mesmo a nível do desenho, embora goste mais de escultura. No
caso do desenho, é mais simples pegar no papel e começar a
desenhar. Em relação à escultura, os meus trabalhos têm
imenso a ver com sistemas mecânicos, ambientes naturais,
elementos da natureza e do quotidiano a mexer sozinhos.
Qual pensa que deve ser o papel conjunto das engenharias e
das artes na sociedade que vivemos? Acha que se deve fazer algo
para encorajar a aproximação destas duas partes?
Acho que é importante juntar as duas partes. A boa obra de
engenharia é uma boa obra artística. Acho que se misturam. O
melhor de uma peça de design é o seu lado eficaz.
Sérgio Azevedo
26 anos
Natural de Vila Nova de Famalicão
O que faz actualmente?
Estou a trabalhar para mim. Estou com uns amigos a fazer
tentativas de demonstrações e animações. Entretanto, fui
admitido para uma bolsa em Inglaterra. Estou a tentar arranjar
apoios.
Que idade tinha quando percebeu que tinha a vocação para
as artes?
Desde cedo. Sempre tive uma inclinação. Quando era miúdo
sempre tentei fazer desenhos. Por volta dos 8 anos comecei a
fazer cópias de desenhos. Na escola comecei a ganhar os
concursos. No fim do secundário hesitei entre arquitectura e
belas artes, mas escolhi a segunda porque é um mundo muito mais
interessante.
Quanto tempo demorou a produzir esta obra?
Não posso falar na produção destas duas obras em termos
isolados. Isto é parte de um processo. Por exemplo, levei cerca
de dois meses para fazer os desenhos, as estruturas. Depois
foram mais dois para produzir as peças. Depois de produzir as
peças, foi só combinar e apresentar. No total, devo ter levado
perto de quatro meses a fazer tudo.
Em que estava a pensar?
Estava a pensar em brincar. Acima de tudo, tento apelar ao
sentido lúdico. Como os meus trabalhos se baseiam em colagens,
dá-me gozo ter os trabalhos todos em cima da mesa e poder
dispô-los como bem entendo. O meu trabalho tem a ver com a
ideia de jogo. É um jogo a todos os níveis. Normalmente as
pessoas olham e acham piada, mas se entrassem mais dentro do
porquê daquilo estar ali, perceberiam as ironias e as
subversões que tentei sugerir. Estruturo o meu trabalho em cima
de regras mecânicas do jogo e, face às regras e aos
bonequinhos, tento integrar as duas componentes de forma a que a
mensagem se leia.
Se pudesse atribuir-lhe um título, qual seria?
Os trabalhos já têm títulos: "Ascensão" e
"Hierarquia".
O que é que detestava que as pessoas pensassem da sua obra?
O meu trabalho é pensado para que as pessoas se divirtam.
Detestava que dissessem que era uma chatice. É preciso
compreender que é preciso fazer um esforço para
"ler" o que está lá, o que se tem para dizer, o que
se disse...
Acha que as artes plásticas são reconhecidas no nosso
país?
Não, de todo. O que eu gostava de dizer a alguém do Governo
era que temos as principais personalidades ligadas às artes a
viver no estrangeiro. O José Saramago em Espanha, o António
Damásio nos E.U.A., a Paula Rego em Inglaterra... Pintores e
outros especialistas na arte de bem fazer as coisas vivem à
margem do nosso país porque cá não se abraça os que
conseguem e os que querem conseguir. Não há incentivos, nem
reconhecimento.
Que espera do futuro?
Do meu futuro espero sempre o melhor possível. A minha vida vai
ser esta, sem dúvida nenhuma. Com maior ou menos dificuldade...
Sempre me habituei a batalhar, nunca tive as coisas de mão
beijada. É disto que eu gosto, por isso contra tudo e contra
todos, hei-de chegar ao meu melhor.
Que pensa do interesse dos engenheiros pelas artes e em
particular da forma como vão apreciar os seus trabalhos?
Há sempre um elo de ligação... o facto de eu estar aqui já
quer dizer alguma coisa, não é? De uma forma ou de outra, já
houve algum ícone, alguma sugestão que eu possa ter
apresentado desencadeou uma série de pensamentos que me trouxe
aqui. Todos os aspectos da vida que possam dar azo à
imaginação, seja nas artes ou noutras áreas, são bem vindos.
Qual pensa que deve ser o papel conjunto das engenharias e
das artes na sociedade em que vivemos? Acha que se deve fazer
algo para encorajar a aproximação destas duas partes?
Acho que já há uma ligação bastante forte, basta ver que em
alguns projectos bastante arrojados se fica na dúvida se são
artísticos ou uma obra de engenharia. Há edifícios que é
interessante observar pois são massas poderosas com elementos
de estruturas que desconheço. Fico a pensar: "será que
aquilo não vai cair?" Aí estão as engenharias, é aquilo
que não se vê mas faz parte e sustenta.
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