UESP
consolida experiência com Redes de Cooperação Empresarial
|
A Unidade de
Engenharia de Sistemas de Produção tem vindo a desenvolver,
desde 1996, actividade na área das "Redes de Cooperação
Empresarial". A ideia é que, face a uma oportunidade de
negócio, várias empresas geograficamente dispersas se organizem
para, em conjunto, produzirem um dado produto ou serviço. A UESP
tem trabalhado em modelos e Sistemas de Informação que permitam
às empresas funcionar em rede com eficiência. Esta foi uma das
áreas escolhidas no âmbito do Laboratório Associado e os
resultados da Unidade em diversos projectos podem considerar-se
bastante promissores.
|
|
Cooperação
empresarial
Para se entender a necessidade da criação das Redes de
Cooperação Empresarial, é fundamental analisar a evolução das
empresas ao longo das últimas décadas. Segundo Jorge Pinho de
Sousa, coordenador da equipa que na UESP trabalha nesta área,
"desde há anos que às empresas não basta produzir com
qualidade e a custos baixos, é necessário que sejam ágeis e
flexíveis no sentido de se adaptarem rapidamente às necessidades
crescentes de clientes cada vez mais exigentes".
|
|
Em termos práticos,
isto significou a progressiva desverticalização das empresas que
foram especializando as suas competências porque os produtos são
cada vez mais complexos e a tecnologia é muito mais exigente.
Assim, "temos, cada vez mais, empresas mais pequenas,
focalizadas num reduzido número de produtos ou serviços e
excelentes naquilo que fazem, mas cuja actividade só tem sentido
quando fazendo parte de processos produtivos mais vastos e
integrados", explica o professor.
De acordo com o
investigador da UESP, "o passo natural seguinte é que se
criem ligações de cooperação entre empresas e que cada uma
explore assim as suas competências nucleares através de
organizações temporárias para satisfazer determinadas
oportunidades de negócio. Estas "organizações ou empresas
virtuais" têm assim uma vida efémera e visam, pela
integração das diferentes contribuições (como os componentes
de um dado produto), explorar com sucesso essas
oportunidades".
Da criação
à dissolução de empresas virtuais
A primeira fase deste processo é a criação da rede de
cooperação (ou empresa virtual), o que, segundo o professor, é
um problema complicado na medida em que "há que conhecer as
competências das empresas que são potencialmente parceiros,
estabelecer ou consolidar relações de confiança e resolver
questões legais e contratuais".
|
É nas fases seguintes
(organização e gestão dos sistemas produtivos distribuídos) que,
neste momento, a UESP pode ter um papel mais relevante, desenvolvendo
modelos e sistemas de informação para apoiar o funcionamento em
rede.
A última fase deste
processo é a da dissolução da empresa virtual que pode levantar
problemas específicos interessantes, como o dos direitos de
propriedade.
UESP em acção
Segundo Jorge Pinho de Sousa, o potencial da ideia da cooperação
empresarial é enorme, mas esta só pode existir porque as tecnologias
de comunicação actuais permitem a concretização das diferentes
fases destas organizações temporárias, em termos de gestão,
partilha de informação e comunicação entre os vários parceiros,
reais ou potenciais.
É essencialmente
nestas operações que trabalha a equipa da UESP constituída por
Jorge Pinho de Sousa, António Lucas Soares, Américo Azevedo, César
Toscano, João Bastos, João Claro, José Raul Luís e Cristóvão
Sousa. Como explica o coordenador da equipa, "por um lado,
desenvolvemos modelos para estas organizações baseadas na
cooperação e, por outro lado, temos vindo a criar uma
infra-estrutura tecnológica que permite gerir essas empresas".
"O nosso papel
não é criar as redes de cooperação, mas conceber modelos para
perceber como elas funcionam e desenvolver ferramentas que permitam
às empresas funcionar em rede", realça o investigador. Jorge
Pinho de Sousa reconhece que o problema fundamental neste caso é
talvez o da partilha de informação e das questões de semântica
pois "quando há informação que circula entre várias entidades
e pessoas, ela tem, para ser útil, que ser compreendida por todos, da
mesma maneira".
Historial da
Unidade na área
A actividade do grupo liderado por Jorge Pinho de Sousa nesta área
começou em 1996 com o projecto europeu X-CITIC. Este projecto,
desenvolvido na indústria dos semicondutores, envolveu várias
empresas europeias que cooperavam para produzir circuitos integrados
específicos, numa rede global.
O objectivo da UESP
nesse projecto era ajudar a gerir a produção fisicamente
distribuída e a logística entre as fases de produção. "Nessa
altura percebemos que necessitávamos de outro tipo de
infra-estruturas tecnológicas mais sofisticadas pois os sistemas das
várias empresas são normalmente heterogéneos e não comunicam
facilmente", esclarece o professor.
Embora as
competências específicas sobre as redes de cooperação empresarial
estejam concentradas essencialmente no grupo acima referido, outros
projectos na UESP contribuíram para consolidar essas competências.
Assim, a partir de 1998, a área de trabalho ligada à Integração
Empresarial, liderada por João José Pinto Ferreira, passou a ter
como principal área de aplicação o negócio electrónico entre
empresas, sendo de destacar os projectos Europeus COBIP e DAMASCOS.
Aproveitando os
resultados dos projectos de investigação referidos, foram já
executados ou estão em curso projectos de aplicação em redes de
empresas nacionais, como o DISPLAN entre a Frezite e Durit e projectos
de consultoria. De destacar, na vertente de consultoria o projecto
Inauto, liderado pelo António Correia Alves, onde INESC Porto irá
apoiar um conjunto de empresas portugueses do sector dos fornecedores
da indústria automóvel a implementar soluções de negócio
electrónico e redes de empresas, que posteriormente serão divulgadas
no sector como modelos a seguir.
Na vertente mais
metodológica, é de salientar o projecto europeu MEDIAT-SME
coordenado por Luís Carneiro, que teve por objectivo principal
desenvolver uma metodologia de suporte à implementação de sistemas
de negócio electrónico nas PME's. Esta metodologia deverá ser
utilizada pelos consultores que realizem este trabalho em parceria com
PME's e pretende reduzir o risco e o custo total associado a este tipo
de projectos.
Em termos globais,
pode dizer-se que a área de trabalho ligada às redes de empresas foi
a maior aposta da UESP nos últimos anos, tendo mobilizando diversas
áreas científicas e abrangendo várias fases do processo de
inovação desde a investigação à consultoria.
Arquitecturas
baseadas em Agentes
Actualmente a equipa utiliza arquitecturas baseadas em "agentes
de software", facilitando bastante a gestão dos processos
inter-empresariais e da forma como é partilhada a informação entre
empresas com culturas e sistemas informáticos heterogéneos, que se
conhecem melhor ou pior e que podem querer controlar a informação
que partilham.
Este desenvolvimento
só foi possível devido ao projecto Co-OPERATE que durou os dois
últimos anos e termina neste mês de Abril. "Este projecto foi
muito importante para o INESC Porto porque desenvolvemos tecnologia,
conceitos e modelos que esperamos generalizar e utilizar noutros
contextos", lembra o coordenador da equipa na UESP.
O Co-OPERATE foi
desenvolvido para uma rede complexa de empresas que produz componentes
electrónicos para a indústria automóvel. Esta rede está
"espalhada" pelo mundo e envolve naturalmente importantes
problemas de ordem logística.
|
Generalizar a ideia de
"rede"
"Temo-nos preocupado em generalizar a ideia de "rede",
por forma a tratar estruturas mais complexas do que as "supply
chains" tradicionais e "lineares", permitindo múltiplas
relações com e entre fornecedores", afirma o investigador.
A grande inovação
destas abordagens é que não são aplicáveis exclusivamente a empresas
de alta tecnologia. Também as empresas tradicionais portuguesas, que
usam desde há muito os conceitos de cooperação, por exemplo através
da subcontratação, podem ser "modeladas" como redes de
cooperação, e serem desta forma melhor geridas com o recurso às
soluções tecnológicas desenvolvidas.
Só UESP e UNL nas
RCE em Portugal
Em Portugal, além da UESP, pode afirmar-se que apenas uma equipa da
Universidade Nova de Lisboa, liderada por Luís Camarinha de Matos, faz,
de uma forma regular, investigação nesta área. "Essa equipa é,
em muitos aspectos, complementar da nossa, e lidera um grupo europeu de
reflexão sobre estas questões, do qual fazemos parte, e cuja
actividade se desenvolve no âmbito do projecto THINK.creative",
observa Jorge Pinho de Sousa.
Havendo uma
terminologia muito vasta nesta área, que vai desde a denominação de
"empresas distribuídas", "empresas estendidas" ou
"organizações virtuais", uma das contribuições da UESP tem
sido colocar a ênfase no termo "Redes de Cooperação
Empresarial". "Inventámos de certa forma, esta
ideia...", admite o professor. "Acho que este é o termo certo
porque reforça a ideia de cooperação entre entidades e empresas que
ganham por trabalharem juntas e que só assim têm possibilidades de
sobreviver com sucesso em ambientes extremamente competitivos",
acrescenta.
Investigação
multidisciplinar
Segundo o coordenador da equipa da UESP, "este tema tem sido a
motivação para fazermos uma investigação variada e multidisciplinar,
com a produção de artigos que exploram ideias inovadoras, como por
exemplo a utilização das Redes de Actores Sociais para enquadrar a
cooperação entre empresas. De facto, as relações numa rede de
empresas vão muito para além de relações puramente comerciais ou de
negócios, tendo uma forte componente social e envolvendo pessoas cujos
comportamentos são, em parte, função de verem ou não satisfeitas as
suas expectativas".
Cooperação
incipiente em Portugal
Na opinião de Jorge Pinho de Sousa, as redes de cooperação em
Portugal são em geral incipientes ou excessivamente informais,
conduzindo a um relacionamento desequilibrado entre parceiros pois, na
maior parte das vezes, baseiam-se em relações que são mais de poder
do que de parceria (veja-se por exemplo, o caso, da subcontratação).
Naturalmente que a indústria automóvel constitui uma excepção, uma
vez que representa níveis superiores de sofisticação organizacional e
tecnológica, bem como assenta em relações contratuais mais duradouras
e estáveis. À UESP interessa, no
entanto, explorar estas ideias sobretudo em sectores industriais
tradicionais como as confecções, o calçado ou a cortiça.
|
Casos práticos
A Unidade já teve oportunidade de testar estas novas abordagens em
duas empresas portuguesas com os projectos X-PLAN e IED (Integração
de Empresas Distribuídas).
O X-PLAN foi
desenvolvido no sector da cortiça, onde a indústria é fortemente
distribuída, uma vez que a produção de rolhas passa por várias
fases em diferentes locais, tendo frequentemente a última fase lugar
nas adegas ou nos grandes produtores de vinho espalhados por todo
mundo. Nesta rede de cooperação, os vários intervenientes estão
ligados e partilham informação, auxiliados por um Sistema de Apoio
à Decisão que permite melhorar a gestão, ao tratar, de uma forma
integrada, a produção e a logística. De acordo com o investigador,
"o sistema permite ao gestor da rede, que tem um papel decisivo
no sucesso do negócio, perceber, em cada momento, que recursos deve
usar, que fornecedores deve escolher, se deve utilizar este ou aquele
transportador ou se deve contratar um ou vários camiões para
resolver um problema logístico inesperado".
O projecto IED na
área do calçado, apesar de ser de pequena dimensão e ter apenas um
carácter ilustrativo, não deixa de demonstrar o potencial da
abordagem, na opinião de Jorge Pinho de Sousa. "A ideia foi
fazer uma ligação mais avançada entre o fabricante de calçado e os
fornecedores das gáspeas e outras empresas subcontratadas",
explicita o professor.
Futuro promissor
Segundo o coordenador da equipa na UESP, existem, na actividade futura
do grupo, várias vertentes indissociáveis. Uma é a vertente de
investigação onde "há um enorme campo de actividade
multidisciplinar e integradora que vai permitir produzir trabalho
interessante, estruturar a actividade de projectos de mestrado e
doutoramento e dar um contributo de relevo internacional, explorando
as especificidades da indústria portuguesa".
|
A outra vertente faz
parte do que a Unidade se propôs realizar quando foi lançada a ideia
do Laboratório Associado nesta área, ou seja, "desenvolver
trabalho mais recuado de reflexão e análise, que permita quantificar
os benefícios dos processos de cooperação e elaborar
recomendações para a sua implementação" (ver ponto 4 no
documento da secção Lab. Associado). Tais resultados permitiriam por exemplo que
"entidades governamentais pudessem afirmar o seu interesse em que
determinadas empresas se organizem desta forma porque isso vai
aumentar-lhes a competitividade", declara o investigador.
|
|
Para finalizar, Jorge
Pinho de Sousa considera que, com o know-how adquirido, há ainda um
conjunto de serviços que poderão ser disponibilizados em breve pela
UESP, para ajudarem as empresas a organizarem-se em rede.
|
|