Não sei
se já repararam que temos um novo governo.
Apareceu
recentemente, no Scientific American, um artigo sobre a produção de
ciência, a propósito de um estudo comparado tocando um conjunto de
países da OCDE. Nesse estudo media-se a percentagem de artigos
científicos publicados por milhão de habitantes, no último ano, e
Portugal, adivinhem se puderem, vinha em penúltimo da lista - à
frente, imaginem só, do Luxemburgo e logo atrás da Grécia.
Os Estados Unidos
vinham a meio da tabela. Assim mesmo. A tabela era liderada por
países escandinavos como a Suécia e a Noruega.
Os autores do artigo,
americanos, está visto, tendo recolhido aqueles dados do CORDIS (de
um relatório da União Europeia), manifestavam a sua preocupação
pela estagnação da investigação nos Estados Unidos, medida não
só pelos artigos publicados como pelos índices de impacto extraídos
do número de vezes que os artigos são citados por terceiros (não
vale um sujeito citar-se a si mesmo para subir o seu ranking). Pior do
que isso, nos Estados Unidos, a produção de artigos tinha baixado!,
embora marginalmente (-0,08%), enquanto que em todos os países da
União Europeia se registava uma consistente subida.
Naquelas linhas
também se encontram as tentativas de justificação do facto, bem
como a indicação (que alívio!) de que a posição de liderança
mundial dos Estados Unidos não estaria em perigo, porque continuavam
de longe a ser o maior contratador de investigadores no mundo, em
parte devido à pujança da investigação no sector privado.
Mas, nestas coisas, a
derivada conta muito. E, aí, o campeão do progresso, quem era, quem
era? Portugal, pois claro, com mais de 15% ao ano de crescimento!
Existe agora uma
enorme consciência, na União Europeia, da necessidade de estancar a
drenagem de cérebros para a América e de transformar a velha Europa
num lugar atractivo para os melhores de todo o mundo. Esta
consciência, e as medidas que ela implica, assegurarão a
manutenção do crescimento europeu, e é com satisfação que vemos o
INESC Porto a não ficar atrasado neste pensamento estratégico.
Não sei se repararam
que temos um novo governo. Algumas coisas irão mudar, por certo. Mas,
definitivamente, não queremos que esta derivada mude. |