Número 3 Público / 17 Interno (Abril 2002)
Ficha técnica
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O Governo e a Derivada

 

Não sei se já repararam que temos um novo governo.

Apareceu recentemente, no Scientific American, um artigo sobre a produção de ciência, a propósito de um estudo comparado tocando um conjunto de países da OCDE. Nesse estudo media-se a percentagem de artigos científicos publicados por milhão de habitantes, no último ano, e Portugal, adivinhem se puderem, vinha em penúltimo da lista - à frente, imaginem só, do Luxemburgo e logo atrás da Grécia.

Os Estados Unidos vinham a meio da tabela. Assim mesmo. A tabela era liderada por países escandinavos como a Suécia e a Noruega.

Os autores do artigo, americanos, está visto, tendo recolhido aqueles dados do CORDIS (de um relatório da União Europeia), manifestavam a sua preocupação pela estagnação da investigação nos Estados Unidos, medida não só pelos artigos publicados como pelos índices de impacto extraídos do número de vezes que os artigos são citados por terceiros (não vale um sujeito citar-se a si mesmo para subir o seu ranking). Pior do que isso, nos Estados Unidos, a produção de artigos tinha baixado!, embora marginalmente (-0,08%), enquanto que em todos os países da União Europeia se registava uma consistente subida.

Naquelas linhas também se encontram as tentativas de justificação do facto, bem como a indicação (que alívio!) de que a posição de liderança mundial dos Estados Unidos não estaria em perigo, porque continuavam de longe a ser o maior contratador de investigadores no mundo, em parte devido à pujança da investigação no sector privado.

Mas, nestas coisas, a derivada conta muito. E, aí, o campeão do progresso, quem era, quem era? Portugal, pois claro, com mais de 15% ao ano de crescimento!

Existe agora uma enorme consciência, na União Europeia, da necessidade de estancar a drenagem de cérebros para a América e de transformar a velha Europa num lugar atractivo para os melhores de todo o mundo. Esta consciência, e as medidas que ela implica, assegurarão a manutenção do crescimento europeu, e é com satisfação que vemos o INESC Porto a não ficar atrasado neste pensamento estratégico.

Não sei se repararam que temos um novo governo. Algumas coisas irão mudar, por certo. Mas, definitivamente, não queremos que esta derivada mude.