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A Vós a Razão
Leitora brasileira confessa: "Quando eu cheguei aqui, especificamente em Porto, minha principal dificuldade de adaptação foi o clima…muito frio hghhh!!" »

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"Nesta coisa das cobranças, por vezes é muito difícil contactar com as pessoas, ou porque estão em reunião, ou porque não podem atender, enfim, mil e uma desculpas..." »

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Leitor-jogador divaga “por entre corridas titânicas (onde parece que o pessoal bebeu todo Red Bull antes do jogo), fintas mirabolantes em que às vezes o próprio jogador que finta não sabe o que acabou de fazer...” »

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Bamos Indo Porreiros »

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Apreciámos tanto a veia poética dos colaboradores que concorreram, que resolvemos alargar o concurso até ao dia 10 de Julho. Até lá, divirta-se com as quadras que se seguem, envie-nos as suas e não deixe de nos dizer qual destas gostou mais. Bom S. João!»

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A crise vista pelas instituições de interface



Por Fernando Moreira*

É preciso explicar desde já que o texto que se segue está a ser escrito em Junho de 2003, em Portugal Continental, mais precisamente em Lisboa. Não que mudasse substancialmente se fosse escrito num outro mês passado deste ano, ou da segunda metade do ano passado, ou ainda, pelas expectativas instaladas no sector, nos meses próximos futuros. E não precisava de ser escrito em Lisboa, podia sê-lo em Ferreira do Zêzere ou na Nazaré, ou em Coruche, e muito dele no Porto, Faro, Funchal, ou qualquer outro local de Portugal.

Também é necessário dizer que quem o escreve está numa instituição de interface Universidade - Tecido Económico. Porque quando começou a labutar nesta área de charneira, era de Universidade - Indústria que se falava. Mas entretanto Ministério e a dita Indústria foram-se transformando, dramaticamente.

Situemo-nos um pouco melhor:

· O passado recente... passou, com dificuldades, e com consequências ainda por determinar. Em termos nacionais muito pouco aconteceu de positivo para a nossa actividade desde as últimas eleições legislativas, e em termos europeus o hiato entre o 5º e o 6º Programa Quadro não podia vir em pior altura.
· Os tempos vão difíceis, complicados, incertos. Nacional e internacionalmente. Com muitos a tentar desesperadamente ver antes dos outros de onde não vem o combóio.
· À nossa volta continua a acontecer de tudo um pouco: falências, despedimentos, atraso/congelamento de investimentos, espartilhamento de orçamentos a montante e a jusante das nossas instituições.

Neste momento (sempre, mas agora mais forte) recordamos o que é ser humilde mas agressivo, tentando a todo o custo manter a criatividade e capacidade inovadora: em suma, superior capacidade de adaptação. As armas que tradicionalmente utilizamos para enfrentar os desafios de natureza diversa que se nos deparam, e que esperamos nos tragam resultados animadores, já não são muitas, ou já estão extensamente exploradas.

E agora a crise.

Paradoxal? É possível ser vista assim.
Todos estamos a recuperar novas e velhas formas de negócio, de parcerias (médio e longo prazo, claro!), de colaboração com pessoas e instituições. Tal facto está a criar em todos a convicção que realmente algo está a acontecer ou, pelo menos, para acontecer. Geramos de facto muita actividade. E conseguimos iniciar (expectativas de ) relacionamentos contratuais. E vamos com redobrada vontade (e a indispensável capacidade de recomeçar, vezes sem conta) a todas as chamadas de propostas que se lançam. AdI, FCT, POE, POA, POSI, mas também ESA, IST, ...

Mas em que realidade acontece tudo isto? Esperamos meses pela decisão, ganhamos o concurso, assinamos volvidos mais alguns meses, iniciamos o trabalho com mais uns meses passados (enfim, também já fomos forçados a aprender a esperar por todas as confirmações legais), e começamos o relacionamento financeiro ainda algum tempo depois.

Ao mesmo tempo que tudo isto se passa (ou seja, verdadeiramente não se passa, apenas o tempo decorre no seu ritmo habitual) temos de manter os fornecedores de serviços básicos em dia, os restantes fornecedores o mais cómodos possível, os colaboradores em suspenso de notícias, o Estado sempre em dia! E a banca a ver passar os tais comboios...

Estupefacção, incredulidade, perplexidade, algum humor até? Também pode assim ser vista, claro!

Como podemos entender as medidas que vamos sentindo e antevendo e adivinhando e recebendo a toda a hora? Sejam elas das tutelas a montante (Investigação, Educação, Ensino Superior) ou a jusante (Economia), ou nem por isso (Finanças). Ora há programa, ora não há, ora talvez haja. Ora esperamos 1 ano, ora assinamos nos próximos quinze dias. Ora há dinheiro tal como contratado, ora não há (e quando não se põe em causa o passado...). Ora há chamadas de propostas, ou mesmo chamadas múltiplas sem publicação de resultados intermédios, ora afinal não devia ter havido porque realmente as verbas até já nem existiam. Ora somos relevantes, ora devemos ser abatidos, preferencialmente convidados a tropeçar sozinhos. Tudo isto num cenário dito e propalado de inovação, com discursos, mostras, intenções, associações, em ambiente transversal à sociedade e mesmo muito sério (aparentemente).

Paixão, fé? Imprescindíveis!

Temos de (continuar a) ser capazes de nos adaptar às novas realidades, dinâmicas, vertiginosas, impessoais. No nosso caso pode-se dizer que não é nada de novo: vendo bem, já lá vão quase 23 anos de organização, e isso não se faz apenas com sorte, nem apenas com saber, nem apenas sozinhos, nem apenas acompanhados, nem apenas cá dentro, nem apenas lá fora. Continuar a labutar pela afirmação, procurando insistentemente um posicionamento que seja relevante quer para os donos, quer para os colaboradores, quer para os potenciais parceiros nas suas várias vertentes. Em meia dúzia de palavras, continuar a tornar a tecnologia acessível.

Se calhar falta-nos (às instituições de interface) algum associativismo, ou pelo menos um partilhar formal de situações e meios: as Infraestruturas Tecnológicas não devem orgulhar-se do mal do isolamento consciente, tão tipicamente português. Façamos algo por isso!

* Presidente do INESC Inovação.

 

Tribuna

Artigo de opinião de convidado da Redacção do BIP.