INESC Porto
Galeria Jorge de Sena
Boletim INESC Porto
 
B o l e t i m N ú m e r o : 3 3 ( i n t e r n o ) / 1 9 ( p ú b l i c o )
 
 


O p i n i ã o

A Vós a Razão
Leitor revela: "Decidi dar uma vista de olhos nas edições anteriores desta rubrica e descobri, sem grande surpresa, que a maior parte se dedicava a reflectir sobre o que é o INESC Porto ou sobre o que deveria passar a ser..." »

Galeria do Insólito
O que é que um jipe preso num buraco de obras tem de insólito? Descubra com os seus próprios olhos nesta galeria»

Asneira Livre
Leitora reflecte: "Numa tentativa pseudo-bloguista, aproveito este pequeno espaço no BIP (significa Bery Important Paper, não é?!?) para partilhar com vocês algumas impressões com que tenho ficado ao longo da minha experiência "inesquiana"" »

Biptoon
Bamos Indo Porreiros »

Especial
À semelhança do que tem acontecido nos anos anteriores, o INESC Porto marcará presença na Semana da Ciência e da Tecnologia, uma iniciativa da Ciência Viva - Agência Nacional para a Cultura Científica e Tecnológica, a decorrer de 22 a 28 de Novembro em todo o país.»

Notícias »

 

O INESC Porto não é...


Por Artur Rocha * 

Confesso que à semelhança daqueles postais de aniversário (ou de outros eventos igualmente festivos) em que toda a gente lê as dedicatórias escritas anteriormente, também eu decidi dar uma vista de olhos nas edições anteriores desta rubrica. Descobri, sem grande surpresa, que a maior parte se dedicava a reflectir sobre o que é o INESC Porto ou sobre o que deveria passar a ser.

Como concordo que esta rubrica é o local ideal para este tipo de reflexões, decidi complementar esta visão com o que, na minha opinião o INESC Porto não é, nem deveria aspirar a ser.

- O INESC Porto não é uma Software House -

Que me perdoem aqueles cujo "core business" não é software, mas independentemente da área de aplicação, grande parte de nós passa irremediavelmente a maior parte do tempo a desenvolver... software!

Mas então se nos reconhecem a capacidade de desenvolver as melhores soluções para determinados fins específicos, porque não podemos nós utilizar as práticas de gestão de uma "software house" e rentabilizar o nosso investimento?

Simplesmente porque somos uma instituição de I&D e não nos podemos dar ao luxo de "cristalizar" por um momento que seja. A dinâmica existente nesta área de actividade é esmagadora, os nossos pares Nacionais e Europeus devoram-nos vivos se o fizermos. Com certeza já devem ter notado a crescente dificuldade em obter um Projecto Europeu efectivamente aprovado (eu notei...)

A melhor arma que temos é tentar manter connosco as pessoas que desenvolveram essas tais soluções e partir para outra! O potencial intelectual das pessoas que já viveram essas experiências é o nosso melhor trunfo para enfrentar as dificuldades dos próximos "degraus da escada"!

Mas então e a mais-que-conhecida receita de procurar um parceiro comercial, juntar os "trapinhos" e iniciar uma relação mutuamente profícua já não funciona? Claro que sim, e até existem linhas de financiamento específicas para tal... isto porque a transformação de uma solução em produto para posterior reutilização representa um esforço muitas vezes superior ao desenvolvimento da própria solução. A minha única ressalva aqui é que este processo deve ocupar o menor tempo possível à nossa "massa criativa" sob pena de a deteriorar, até porque, no fim... adivinhem quem vai ganhar mais?...

- O INESC Porto não é um local de passagem -

Deixem-me completar devidamente esta afirmação, para que não seja alvo de reparo para quem acha que o INESC Porto tem que se preocupar menos com a carreira dos que por cá passam, e mais com a "semper mui nobre" missão de formar recursos especializados para o mercado.

Assim, numa altura em que é amplamente reconhecida a necessidade de gerar massa crítica em torno das diferentes áreas de investigação, a afirmação necessita de ser complementada da seguinte forma: "O INESC Porto não é um local de passagem para os elementos que são necessários à formação de massa crítica nas áreas em que já desenvolveram e acumularam competências". Infelizmente esta frase seria demasiado longa e desapropriada para um (sub)título jornalístico, daí a pretensa provocação... ;-)

Uma outra boa razão para que estes "núcleos" ganhem massa crítica e continuem a gravitar em torno do INESC Porto atraindo conhecimento, prende-se com as acções de prestação de serviços que fazemos. Nunca defendi que estas acções devam ser "baratas" ou economicamente competitivas relativamente ao mercado, até porque na altura em que o mercado tiver a mesma oferta, está na altura de INESC Porto deixar de as fazer (uma vez mais devemos resistir à tentação de fazer mais do mesmo), mas isso requer uma política de gestão de recursos humanos coerente e não se compadece com a formação de pessoas ou equipas "just-in-time".

Em jeito de conclusão, poder-se-iam ainda comentar as inúmeras dificuldades na afirmação científica de áreas jovens, numa altura em que devido às dificuldades financeiras que nos transcendem, é complicado assegurar uma produção científica sustentada e cresce a alergia aos chamados "projectos-que-não-libertam-margem"... mas enfim, temos que viver com isto.

Aqueles que me conhecem melhor sabem que sou um optimista por natureza, e como tal, à medida que 2003 vai terminando e 2004 se aproxima já quase consigo ver "a luz ao fundo do túnel"... ou será um comboio!? ;-)

* Colaborador da Unidade de Sistemas de Informação e Comunicação (USIC)

O CONSULTOR DO LEITOR COMENTA
Vamos apanhar esse comboio…

Caro Artur, a tua reflexão é interessante e, com agrado o digo, de muito sentido estratégico. O que afirmas tem certamente valor como grandes linhas de pensamento que servem de balizas orientadoras para as opções de cada momento.

Deixa-me fundir as questões da passagem pelo INESC Porto e do software. Gostaria de escutar a tua opinião sobre como é que podemos ter uma estratégia de nos mantermos actualizados tecnologicamente sem fazer rodar pessoas. Quero eu perguntar: com as mesmas pessoas sempre, não há o risco de "encalharmos" tecnologicamente? (há sempre o risco de as pessoas ficarem presas à tecnologia que aprenderam… sem evoluirem para outra… e também não é possível ter todo o tempo as pessoas em aprendizagem, senão não fazem outra coisa…)

Este não é um problema novo, mas é certamente um problema actual. Queres contribuir?

Quanto à "alergia" sobre os projectos que não libertam margem, ela é real e - digo-te sem hesitação - é uma das alergias saudáveis que conheço.

Todavia, há também em nós, tem que haver, o conceito de investimento. A forma mais organizada de efectuarmos o nosso investimento em tecnologia e inovação tem que ser usando, tanto quanto possível, os mecanismos de suporte à I&D disponíveis, nacionais e internacionais. Os projectos submetidos à FCT têm que estar na primeira linha de preocupação (infelizmente, a FCT é que tem estado ausente…). Os projectos em consórcio com a indústria também têm que ser pensados com esse objectivo.

Mas é preciso verificar que condições temos. E uma das condições necessárias é uma forte liderança científica e de sentido estratégico Temos? Se não temos, há que ir buscá-la, onde houver e estiver disposta a agarrar o nosso projecto e o nosso modo de estar na vida.

 

A Vós a Razão

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