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Por José Silva Matos
Agradeço a oportunidade que me é oferecida para subir a
esta Tribuna (VIP?), e dirigir a palavra à comunidade INESC
Porto, a propósito da minha recente eleição para um
segundo mandato como Director do DEEC da FEUP.
O DEEC é o maior Departamento da FEUP. Do ponto de vista
financeiro vive uma situação que, se olharmos para o que
se passa à nossa volta, até se pode considerar boa. Esta
afirmação não é baseada em sentimento ou em vaga
impressão. O trabalho de análise da situação orçamental
realizado pela Direcção da FEUP permite hoje um
conhecimento real da situação dos Departamentos e saber
quem está a viver acima das suas posses e quem esteve a
contribuir para que outros o pudessem fazer. Estando o DEEC
no reduzido grupo dos segundos é bom saber que estão
definidas metas e está delineado um processo de
convergência para uma situação de maior transparência e
melhor equilíbrio no que diz respeito à utilização dos
recursos disponíveis.
Uma questão que se coloca com actualidade é sobre o
papel do Departamento no novo modelo organizacional da FEUP,
que consagra uma separação quase matricial entre cursos e
recursos. Estando a maioria dos investigadores do
Departamento afectos a "Institutos de Interface",
no âmbito dos quais se enquadra a sua actividade de
I&D, pode-se argumentar que o Departamento se poderia
limitar a garantir o funcionamento das aulas e a gestão dos
recursos humanos e materiais para tal necessários.
Não é essa, com toda a certeza, a visão que me anima.
O Departamento é uma realidade muito mais rica e muito mais
importante do que essa leitura redutora poderia permitir
concluir. Distingo três áreas principais, correspondendo a
três importantes linhas de gestão estratégica, em que o
papel do Departamento não pode ser subvalorizado.
Ensino
O Departamento não pode limitar-se a um papel passivo de
resposta a solicitações de leccionação de disciplinas
por parte dos Directores de Cursos. Antes do mais porque
deve ser ao próprio Departamento, através das pessoas que
o integram, que compete intervir no processo de definição
de conteúdos, programas e planos de estudo. Depois, porque
é ao Departamento que cabe promover o desenvolvimento de
novas áreas, criar massas críticas, acompanhar o estado da
arte e propor as melhores soluções para ir ao encontro de
necessidades da sociedade a que pertencemos e que (não
esquecer!) nos suporta. Este é um papel especialmente
importante quando estão em jogo alterações profundas de
planos de estudo e filosofias de organização dos
programas, como as que actualmente decorrem do processo de
Bolonha.
Investigação
O papel do Departamento do ponto de vista da
Investigação tem que ser reforçado, mesmo num cenário em
que a maior parte dos seus investigadores conduz o seu
trabalho integrados em Institutos de Interface. Entendo que
da actividade desse conjunto de Institutos, se não se
reduzir a uma soma de esforços desencontrados, pode
resultar algo de novo e eficaz na forma como uma Escola de
Engenharia é entendida e acolhida pela sociedade. Vejo
estes Institutos como "braços armados" do
Departamento, e da Faculdade, para intervir nas batalhas da
inovação, da conquista da confiança das empresas, do
desenvolvimento e do progresso. Mas vejo-os como um
conjunto, ligado por saudáveis relações centrípetas a um
Departamento que lhes dá suporte e razão de existirem, sem
os tolher nas suas iniciativas. Da percepção desse
conjunto, diverso mas articulado, pode resultar uma
mais-valia significativa na forma como o Departamento é
visto, e podem surgir novas oportunidades de intervenção
que isoladamente nos são negadas.
Promoção das pessoas
Entendo que o Departamento devia ser melhor do que o que
é, com as pessoas que tem. Não tenhamos ilusões de que
aqui, como em tudo na vida, há pessoas mais capazes que
outras. E há as que trabalham mais. Que gerem melhor o seu
tempo. Que escrevem mais papers. Que conseguem maior
visibilidade. Que preparam as suas aulas e ensinam melhor.
Que são mais brilhantes. A verdade é que não são todas
as mesmas: as que escrevem mais e melhores papers não são
necessariamente as que são mais apreciadas pelos alunos. E
as mais brilhantes podem não ser as que trabalham mais em
tarefas de reduzida visibilidade mas grande relevância para
o funcionamento do Departamento. É desta diversidade que
resulta a riqueza de uma organização complexa como este
Departamento. (Nem quero imaginar o que seria um
Departamento só com prémios Nobel!).
O mais importante é que todas as pessoas, docentes,
funcionários técnicos e administrativos, se sintam bem e
gostem de vir trabalhar todos os dias. Tal exige, em
primeiro lugar, a satisfação de um certo número de
condições básicas que julgo estarem mais do que
garantidas. Mas não basta. É também necessário que
existam outras condições que lhes permitam um
desenvolvimento integral, como pessoas, que faça com que a
progressão nas suas carreiras seja mais uma consequência
de uma evolução harmoniosa, do que um objectivo em si.
No Ensino, na Investigação, na promoção das pessoas
há muito que pode ser feito e que pode ser melhorado.
Muitas vezes depende mais de factores externos, do que da
actuação de um Director, mas há aspectos em que pode e
deve intervir. Com a promoção de relações de confiança
entre as pessoas. Com paciência. Com ideias. Com
iniciativas que reforcem a coesão. Com o encorajamento de
atitudes de liderança activa por parte de quem tem
obrigação de a exercer. Dando oportunidades a quem
manifesta vontade e capacidade para o fazer. Dando
condições a quem as procura, e a quem mostra ser capaz de
as utilizar bem. Mas passando a mensagem de que não há
desculpas para não sermos melhores. Que temos obrigação
de fazer mais, melhor, e mais depressa com os recursos que
temos. Que temos que produzir mais e ser mais conhecidos.
Que temos que adquirir maior visibilidade, em termos dos
indicadores de produção científica internacionalmente
aceites. E que a responsabilidade de não o fazermos é
nossa.
* Director do DEEC da
FEUP e investigador do INESC Porto