Por
Sónia Pinto *
Já alguma vez viram aquele filme “Os salteadores da Arca
Perdida”?
Aquele que começa assim:
Tatarata tataraaaa
Tatarata tataratata
Tatarata tataraaaa
Tataratataratataratataaaaaaaa
Pois saibam caros colegas que de há uns tempos para cá
não me sai a musiqueta da cabeça, curiosamente sempre que
chove muito...e confesso que então visto mesmo a pele de
“Inesquiana Jones”.
Senão vejam, nesses dias ao chegar ao parque das
traseiras...
...lá coloco o carapuço do kispo, saio do carro, corro
para abrir o portão do parque (e lá vem a música:
ta-ta-ra-taaa...), seguro o dito portão com a tábua de
madeira e se não resultar procuro um calhau (o que em
circunstâncias normais até nem é difícil
) para prender
melhor, não vá mexer-se com o vento e estourar contra o
carro, e corro de novo para dentro do carro (ta-ta-raaaa...).
Estaciono na metade de parque em que todos nos acumulamos
para ficar mais perto do portão (é que chove bem!!!) e a que
no Verão deixou de ser possível o acesso por razões de
natureza...evidente. Corro de novo pela lama até ao portão (ta-ta-ra-taaa...),
retiro o calhau e fecho o portão, não esquecendo de fazer
uma ligeira pressão para cima com o pé porque senão não
fecha. E eis que chego então à cena mais perigosa e quiçá
de maior suspense...qual o trilho a seguir!!!???... o
mato?...ou o pântano? O pântano. É mais difícil, que é, mas
sempre gostei de desafios e além disso, é mais perto.
E lá vou eu... (ta-ta-ra-taaa...)
Grandes dificuldades, muitos obstáculos, mas a Arca
Perdida está mesmo ali, à vista, tão perto...e tão longe - o
INESC Porto.
Não é fácil, caros colegas, e ilude-se quem pensa o
contrário, ou quem simplesmente não pensa. Esta arca está
protegida por esta zona perigosa para testar até que ponto
queremos chegar ao INESC Porto manhã após manhã. Não
queremos? Queremos um bocadinho? Queremos, ponto!? Ou
queremos meeeeesmo muito!?
Cada um sabe de si, mas uma verdadeira “Inesquiana Jones”
dificilmente desiste e raramente deixa de acreditar. Para
trás deixamos (sim, deixamos, que o prezado leitor acabou de
entrar no filme, quanto mais não seja por simpatia) a água,
a lama, o fosso, a ponte, o mato, as tábuas e os calhaus que
não conseguem impedir-nos de chegar ao nosso tesouro
perdido.
Entramos e ficamos então livres da chuva, quentinhos e
limpos (depois de usarmos no W.C. o papel de limpar as mãos
para tirar a lama dos sapatos) o dia inteiro, porque nem nos
passa pela cabeça sair só para ir almoçar.
E quando a noite cai recomeça a saga. Escolho sempre o
pântano...Atenção! Desta vez requer-se ainda mais perícia já
que, como acontece em qualquer pântano que se preze, está
escuro como breu...! E passo então pelo pântano e seus
obstáculos, cega pela escuridão, tacteando para não dar um
passo em falso e usando apenas o instinto para não cair em
lagos, nem no fosso, nem pisar o que aqueles cães, da
senhora que lhes berra muito, deixam aqui e ali e que
conspurcam os tapetes do nosso carro, se só chegamos a
perceber que tal nos aconteceu pelo nosso apurado olfacto.
Abrimos o portão e etc (atenção à banda sonora:
ta-ta-ra-taaa...), e lá vamos pela estrada esburacada,
afastando-nos dos obstáculos colocados à volta das casas
pelos simpáticos moradores das chamadas casinhas, que
colocam ferros ao alto, para se curvarmos muito perto das
casas fugindo aos buracos riscarmos o nosso carro (que é o
que nós merecemos por invadir ruas privadas) e não
estragarmos os passeios ou as paredes das casas com os
carros. Evidente...
E assim, chegamos à civilização e voltamos ao nosso
quentinho lar, esperando que o Inverno não seja muito
rigoroso porque não nos apetecia nada ter que passar muitas
vezes por este filme. O Harrison Ford que é o HARRISON FORD
só conseguiu repetir a aventura 3 vezes
.
Apesar de tudo e ainda em tom de asneira livre: mais vale
um pântano na mão que um carro a voar.
* Colaboradora da Unidade de
Engenharia de Sistemas de Produção (UESP)