O papel do Instituto da Construção
Por Raimundo
Delgado *
O ensino superior, para que possa concretizar os seus
objectivos, necessita de uma íntima interacção com as
actividades que na área do conhecimento em que se insere no
exterior se desenvolvam. Esta interacção permite, por um
lado, prestar um serviço à sociedade, requisito que a partir
dos anos oitenta é cada vez mais exigido às instituições de
investigação, a que se associa, ainda, a concretização da
disseminação do conhecimento científico e a transferência de
tecnologia para a indústria, e, por outro, a identificação
de temas de investigação, a recolha de casos de estudo e a
constituição de bases de conhecimento, indispensáveis à
realização de muitas das actividades de investigação.
Se até à década de setenta, em Portugal, a ligação ao
exterior era predominantemente assegurada através da
actividade profissional dos seus professores, com as
modificações introduzidas no ensino superior com a revolução
de 1974 impôs-se a necessidade de que essa ligação se
estruturasse no seio das próprias instituições
universitárias.
É neste sentido que nos anos oitenta é criado o Instituto
da Construção - IC, ao mesmo tempo que outros Institutos com
características semelhantes são criados nas Universidades
Portuguesas em geral e na Universidade do Porto em
particular, integrando um movimento que visava dotar as
universidades de instrumentos que permitissem a modernização
das actividades de investigação, nomeadamente no que se
refere à sua qualidade e quantidade bem como na sua
utilidade social, acompanhando o movimento que por toda a
Europa já se tinha iniciado.
Estes institutos de interface permitiram, assim, uma mais
fácil angariação de projectos, impossíveis de obter no
âmbito da instituição universitária antes da sua criação,
permitindo fertilizar as actividades de investigação e,
desse modo, contribuir para os objectivos de modernização
das instituições universitárias, ao mesmo tempo que têm
prestado um inestimável apoio a muitas instituições e
empresas que, através dos mais diversos modos, com eles têm
realizado parcerias, solicitando consultoria ou requerendo
serviços de elevada qualificação ou especialização.
O IC, inserido no mundo da Engenharia Civil, tem um vasto
campo de actividades que se estendem desde os múltiplos
aspectos das construções - edifícios, pontes, monumentos,
etc. - aos problemas dos transportes ou do planeamento
territorial. Neste contexto, são de diversos tipos os
desafios e solicitações a que é sujeito podendo-se referir:
Congressos, Jornadas ou Seminários e Vendas de Publicações;
Acções de Formação e Cursos; projectos de investigação
obtidos por iniciativa própria ou por proposta de empresas;
estudos para o desenvolvimento de novas tecnologias ou
procedimentos; análises do comportamento das construções;
monitorização do comportamento de estruturas; estudos de
tráfego e transportes; consultoria a instituições públicas
nomeadamente Câmaras e Tribunais; consultoria em geral
especialmente no âmbito da patologia das construções.
Estas actividades podem ser classificadas em três grupos:
actividades predominantemente de iniciativa do IC e que
configuram actividades típicas das universidades, como sejam
os congressos ou projectos de investigação, e estudos
especiais, envolvendo projectos de grande dimensão,
acompanhados por equipas a desenvolver trabalho científico
na área em que se insere e com uma elevada componente de
trabalho original e especializado, cuja componente
científica é a essencial - a que corresponde dois terços da
facturação; um segundo grupo em que se inserem trabalhos com
objectivos mais específicos, exigindo, no entanto,
conhecimentos ou equipamentos especializados a par de
estudos e interpretações incluídas em relatório elaborado
para o efeito, e nos quais há uma predominante componente
científica - correspondendo a 27 % da facturação; e um
último grupo em que, embora envolvendo conhecimentos ou
equipamentos especializados, revestem muitas vezes um
carácter mais corrente mas de grande relevância para a
sociedade, por corresponderem em muitos casos a trabalhos
periciais.
Estas breves considerações permitem constatar o relevante
papel que o IC, à semelhança dos outros institutos de
interface, tem desempenhado para o desenvolvimento da
investigação científica no âmbito do departamento de
Engenharia Civil e no apoio que, ao mesmo tempo, tem
prestado a diversas instituições e à sociedade em geral. O
futuro certamente propiciará o incremento da sua
participação nos grandes desafios do desenvolvimento
nacional de entre os quais se perfila a construção da rede
nacional ferroviária de alta velocidade.
* Presidente do Instituto da
Construção e Professor Catedrático da FEUP