Por
Cláudio Vieira *
De início pensei: “Talvez esta não seja a melhor altura
para falar de desejos... Pois o Natal já passou e até chegar
o próximo de certeza que o Pai Natal se vai esquecer!".
Depois de reflectir melhor sobre a ideia cheguei à conclusão
que a realização de muitos desses desejos não depende apenas
do Pai Natal. Talvez ele seja até a figura de menor
relevância para a sua concretização. Assim, decidi continuar
com a ideia e o texto começou a tomar forma. Mas não se
preocupem, não vou escrever sobre todos os desejos, apenas
sobre aqueles que estão directamente ligados ao INESC Porto.
Estamos a atravessar uma fase de recessão económica... é
um facto. Em todos os sectores, aponta-se como possível
solução a aposta na qualificação profissional e na produção
com qualidade. Penso que esta linha de acção deveria ser
seguida pelo INESC Porto. É necessário reorganizar
prioridades, investir na qualificação dos colaboradores e na
qualidade do que fazemos. De que outra forma poderemos
continuar acima da linha d'água?
A participação em projectos europeus deve ser encarada
com mais seriedade. Estes projectos são de uma importância
vital, quer do ponto de vista de projecção no exterior, quer
do ponto de vista financeiro. Afinal, estes projectos
contribuem significativamente para a auto sustentação do
instituto.
Não se deve comparar cegamente as necessidades/exigências
de projectos de diferentes naturezas. As necessidade
decorrentes da participação num projecto europeu são
seguramente muito superiores do que as decorrentes da
participação em projectos nacionais/FCT. Mas, no final das
contas, o lucro poderá também ser muito superior, se forem
bem geridos e o investimento necessário realizado na altura
certa.
Em Portugal, o INESC Porto ainda é símbolo do que melhor
se faz em investigação, em comparação com outros institutos
de investigação em estado mais incipiente, ou em comparação
com a ínfima investigação que se realiza a nível
empresarial.
A nível europeu (e porque não mundial?!), a fasquia é bem
mais elevada, os critérios de selecção são mais rigorosos e
os jogadores são mais competentes e poderosos. Felizmente,
conseguiu-se no passado alguma projecção no exterior com
alguns projectos bem sucedidos. Infelizmente, hoje está cada
vez mais difícil manter essa imagem de referência destacada
da concorrência.
Os projectos europeus são frutos muito apetecíveis.
Luta-se por se conseguir uma participação... Mas, quando se
consegue, o investimento na sua realização não pode ser
mínimo. Tem que existir um investimento inicial que é
determinante para tornar o projecto rentável a
curto/médio/longo prazo. Esse investimento passa
necessariamente pela criação de uma boa equipa de trabalho e
pela aquisição das capacidades necessárias. Para que cada
projecto não seja um recomeço do ponto zero, tem que existir
uma política de gestão de conhecimento.
Para melhor perceberem a lista das coisas que gostava de
ver realizadas necessitam de algum contexto. Sou bolseiro da
UTM e trabalho na área de sistemas multimédia distribuídos.
A minha experiência aqui no INESC Porto, em trabalho
distribuído por 4 projectos europeus, resume-se a
programação e resolução de alguns problemas esporádicos.
É necessário existir formação específica em diversas
áreas de modo a que os projectos sejam eficazmente dirigidos
e os recursos sejam optimizados. O resultado de um projecto
deve ser produzido de forma eficiente e com qualidade. Tem
que se investir em formação interna em múltiplas áreas:
• gestão de projecto
• produção de documentação
• engenharia de software
• tecnologias de sistemas distribuídos
• segurança em sistemas distribuídos
• programação avançada/eficiente
• tecnologias multimédia
• administração de serviços
• gestão de bases de dados
A participação em projectos europeus tem que ser activa e
visível. Não podemos assumir uma atitude passiva e dar o
nosso contributo permanecendo na sombra. Não é assim que
projectamos a nossa imagem no exterior. É importante
participar em diversas actividades no âmbito de projecto:
• participar em reuniões de projecto
• participar em conferências da área específica do projecto
• participar em eventos de apresentação de resultados do
projecto
A meu ver, estes pontos constituem algumas melhorias que
podem contribuir significativamente para o aumento da
qualidade do que fazemos e, de forma implícita, rentabilizar
os projectos em que participamos.
É verdade que estas ideias merecem uma reflexão bem mais
alargada e profunda. Talvez algumas se revelem úteis e
outras fúteis. Sendo as opiniões tão divergentes, tenho a
certeza que alguns considerarão esta prosa apenas mais uma
asneira monumental. No entanto, considero que é mais sábio e
construtivo, embora mais difícil, ouvir opiniões, reflectir
sobre elas e procurar os pontos positivos do que encontrar
um ponto negativo e partir daí para o abate da opinião em
causa.
Eis uma opinião que, sendo asneira ou não, está livre...
* Colaborador da Unidade
Telecomunicações e Multimédia (UTM)