INESC Porto
Galeria Jorge de Sena
Boletim INESC Porto
 
B o l e t i m N ú m e r o : 3 7 ( i n t e r n o ) / 2 3 ( p ú b l i c o )
 
 


O p i n i ã o

A Vós a Razão
Leitora bem-disposta revela: “Quando entro no INESC Porto, entro num mercado de especiarias, em que cada momento e pessoa é um novo cheiro e paladar por descobrir e usufruir...".»

Galeria do Insólito
Será que numa instituição de cientistas há quem acredite em fenómenos sobrenaturais e em crenças populares? O BIP inquiriu uma amostra significativa de colaboradores para descobrir se têm medo de gatos pretos, sonhar com dentes, quebrar correntes de e-mail, entre outros azares.»

Asneira Livre
Leitor esclarece: "Não se preocupem, não vou escrever sobre todos os desejos, apenas sobre aqueles que estão directamente ligados ao INESC Porto ". »

Biptoon
Bamos Indo Porreiros »

Especial
O BIP quis saber que memórias guardam os antigos colaboradores da sua passagem pelo INESC Porto. Assim, entrevistámos cinco ex-colaboradores (um de cada Unidade) que já saíram há algum tempo do INESC Porto.»

Notícias »

 

Um dia no INESC Porto...


Por Joana Azevedo * 

Acordo eu de manhã e venho no autocarro já a pensar se me vou sujar toda na lama que atravesso para chegar ao INESC Porto. Devo dizer com bom grado que descobri aquele atalho para cá chegar. Embora fosse bom que as condições de acesso viessem a ser melhoradas. A primeira vez que atravessei esse atalho estava cheia de medo, não conhecia a vizinhança, não sabia o tipo de pessoas que lá viviam e tinha medo de ofender os seus habitantes.

Foi exactamente o que aconteceu quando quis atravessar o atalho entre Estudante e Trabalhadora passando pelo INESC Porto. Com o tempo, em ambos os atalhos, perdi o medo e conheci a vizinhança. E agora não troco os dois atalhos por caminhos mais longos. Um faz-me chegar ao trabalho mais depressa, o outro faz-me chegar ao conhecimento e realização profissional.

Quando entro no INESC Porto, entro num mercado de especiarias, em que cada momento e pessoa é um novo cheiro e paladar por descobrir e usufruir. Foi no meu primeiro dia cá na casa que conheci o piripiri directo na língua quando me pediram para arranjar um computador para mim, tratar de instalar o seu sistema operativo e configurá-lo. Cheia de calor e nervos, ia à rua cem vezes para não desesperar e manter a calma.

E foi aí que descobri a ajuda dos meus colegas quando, com muito custo e vergonha, tive coragem para pedir socorro. Ainda hoje fico com a boca a arder muitas vezes, mas já não desespero e sei que aprendo mais quando passo por dificuldades do que quando tudo é um “mar de rosas”. E o quanto eu já aprendi aqui... é o tesouro que levo comigo para onde quer que vá.

Logo de manhã, encontro o paladar alegre e simpático da nossa recepcionista que tem sempre uma palavra alegre e simpática a dizer. Subo meia dúzia de escadas e muitas vezes já lá se encontram trabalhadores de mangas arregaçadas com quem tenho prazer de trabalhar. Uns são mais reservados, outros mais extrovertidos, mas eu gosto assim... de paladares diferentes.

Adoro o trabalho que faço. O prazer de programar é como o prazer de uma criança quando vê uma casa de legos a ganhar forma juntando-lhe peça a peça. Mas, sinto falta no meu trabalho de ter funções além daquelas que me obrigam a estar no computador. Porque eu adoro fazer de tudo, participar em tudo e lidar com muitas pessoas.

E pronto, o dia vai longo... aliás a semana vai longa e eu fico toda contente, porque mais uma vez tenho razões para mudar de piso e contactar com outras pessoas. Lá vou eu para os recursos humanos assinar as presenças. Acabo sempre por não levar a alegria que realmente sinto porque a semana está no fim e o cansaço pesa.

E o fim de semana chega e eu apanho o autocarro para casa e vou contente e triste ao mesmo tempo. Contente por ter trabalhado com uma instituição competente que se disponibiliza a instruir os que cá chegam, que tem todos os serviços que um trabalhador necessita dentro do próprio edifício de trabalho e com uma boa resposta. Contente por ter lidado com óptimas pessoas que nunca se recusaram a esclarecer uma dúvida ou ouvir uma opinião. Refiro-me a todos, desde os funcionários, aos colegas de trabalho, engenheiros e directores.

Mas vou triste, exactamente por existirem boas pessoas e me faltarem razões, oportunidades ou funções para me cruzar com elas. Falta o ponto de encontro, a sala de convívio, uma actividade comum, não sei... e o trabalho sabia melhor do que já sabe...

Foi um prazer ter sido convidada para este espaço e terem-me dado voz. Obrigada a todos.

* Colaboradora da Unidade de Engenharia de Sistemas de Produção (UESP)

O CONSULTOR DO LEITOR COMENTA

Cara Joana, há textos que nos deliciam e reconciliam coma vida, e este teu é um deles. Descubro tanta sabedoria nele, que já o li cinco vezes, e de cada uma li um texto novo.

De tanto nos envolvermos em trabalhos, de nos pesarem responsabilidades, de nos aguilhoarem metas e objectivos, de nos enredarem estratégias e açoitarem tácticas, acabamos por nos irmos esquecendo da essência dos valores, da ambição última das coisas: que é viver para espalhar felicidade.

A felicidade são as pessoas, e tu vens-nos recordar isso mesmo agora, de forma clara e simultaneamente emocional. O INESC Porto existe para muitos fins e por muitas (e boas) razões, mas também existe fechada a malha de retroacção que por vezes ignoramos: a felicidade das próprias pessoas que fazem a casa.

Nem a instituição vive apenas para executar uma função social, nem se esgota a olhar para o próprio umbigo. Mas havemos de convir que seria bom podermos habitar nesse equilíbrio harmonioso de ser felizes ao trabalhar para a felicidade dos outros.

Um dos valores nossos e dos melhores, quantas vezes nos esquecemos disso, é o ambiente de solidariedade do INESC Porto. Há inúmeros testemunhos, ex-colaboradores que ainda recordam esse ponto com saudade, visitantes estrangeiros que o referem elogiosamente e, às vezes, por contraste com as suas instituições de origem.

Essa solidariedade tem se ser reforçada para que possamos conhecer melhor as pessoas e não apenas os colegas. Tens toda a razão, e exprimiste-a de uma forma linda.

 

A Vós a Razão

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