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O p i n i ã o

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Leitora bem-disposta revela: “Quando entro no INESC Porto, entro num mercado de especiarias, em que cada momento e pessoa é um novo cheiro e paladar por descobrir e usufruir...".»

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O BIP quis saber que memórias guardam os antigos colaboradores da sua passagem pelo INESC Porto. Assim, entrevistámos cinco ex-colaboradores (um de cada Unidade) que já saíram há algum tempo do INESC Porto.»

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Memórias do INESC Porto

O BIP quis saber que memórias guardam os antigos colaboradores da sua passagem pelo INESC Porto. Assim, escolhemos (ou pedimos ao ex-chefe para escolher) cinco ex-colaboradores (um de cada Unidade) que já saíram há algum tempo do INESC Porto.  

Não perca as respostas da Elisabete Ferreira Silva (USE), António Lobo Ribeiro (UOSE), Paulo Renato Ribeiro (UESP), Adília Isabel Alves (USIC) e Gabriel Falcão Fernandes (UTM).

 

Elisabete Ferreira Silva

Ex-colaboradora da Unidade de Sistemas de Energia (USE), actualmente no CICA da FEUP.

 

 

BIP - Que memórias boas guarda da sua passagem pelo INESC Porto?

EFS - Trabalhei durante quase dois anos no INESC Porto e foram dois anos excelentes cheios de boas recordações. O ambiente de trabalho era óptimo, fiz muitos amigos, deram-me sempre todas as facilidades e incentivos para eu aprender coisas novas e aprofundar os meus conhecimentos, podia sempre contar com o apoio de todos os colegas que estavam sempre disponíveis para me esclarecer as minhas dúvidas e ajudar nas dificuldades. 

 

BIP - A sua experiência de trabalho no INESC Porto tem sido útil na sua vida futura? Em que medida?

EFS - A experiência de trabalho no INESC Porto foi muito útil porque o INESC Porto é uma instituição de prestígio e para mim foi um grande privilégio trabalhar nesta instituição. Os conhecimentos adquiridos e os conselhos dados pelas pessoas que conheci incutiram em mim a ideia de nunca desistir dos meus sonhos, lutar pelos meus ideais e nunca me acomodar às situações. Neste momento trabalho na FEUP e, se não tivesse passado pelo INESC Porto, acho que não estaria aqui a trabalhar.

 

BIP - Com a visão distanciada que tem agora, o que pensa que poderia ser feito para melhorar o INESC Porto?

EFS - Acho que deviam ser mais divulgados os projectos de investigação que se realizam no INESC Porto, dando desta forma ao público geral conhecimento das suas actividades e incutindo nos jovens espírito científico e de investigação.

 

António Lobo Ribeiro

Ex-colaborador da Unidade de Optoelectrónica e Sistemas Electrónicos (UOSE), actualmente na Universidade Fernando Pessoa.

 

BIP - Que memórias boas guarda da sua passagem pelo INESC Porto?

ALR -  Regressando ao ano de 1989, ano em que entrei para o INESC Porto no Grupo de Optoelectrónica (assim se chamava na altura!), um dos aspectos que mais me marcou durante esse tempo, foi o de ter encontrado uma abundância e diversidade de conhecimento cientifico que por ali circulava livremente nas pessoas que dividiam o mesmo espaço físico de toda o edifico. Grupos de I&D com know how diferente, mas com quem era verdadeiramente fácil aprender novos conceitos devido à camaradagem e espírito livre que reinava. A facilidade com que eu trocava ideias e buscava novo conhecimento em áreas diferentes do minha, é uma das melhores memórias que guardo desse tempo.

Uma outra memória boa, foi o de ter participado na criação e arranque do Centro de Optoelectrónica em 1992, que possibilitou os meios técnicos laboratoriais e humanos necessários para hoje a Unidade de Optoelectrónica e Sistemas Electrónicos (UOSE) ser sem sombra de dúvida, uma Unidade de I&D de referência internacional, e da qual tenho muito orgulho em ter pertencido e ajudado a criar.

BIP -  A sua experiência de trabalho no INESC Porto tem sido útil na sua vida futura? Em que medida?

ALR -   Sim, com toda a certeza! Todo o know how que adquiri no INESC Porto, durante a minha formação pós-graduada e posterior, permitiu-me empreender novos projectos científicos e empresariais em áreas de negócio com enorme componente tecnológica. A capacidade de adaptação a situações novas foi adquirida em grande parte na UOSE do INESC Porto devido ao excelente ritmo produção e cooperação cientifica com entidades estrangeiras e nacionais que o próprio grupo foi construindo ao longo destes anos. A realização de projectos de I&D com empresas em que estive envolvido pelo INESC Porto foi preponderante no meu percurso futuro.

BIP - Com a visão distanciada que tem agora, o que pensa que poderia ser feito para melhorar o INESC Porto?

ALR -  Na verdade, por muito esforço que faça para ter uma visão distanciada do INESC Porto é me difícil, visto que muitos dos colegas do UOSE são (e serão sempre) grandes amigos, dos quais mantenho actualmente contacto pessoal e profissional.

No entanto, e se me é permitido, gostaria de tecer a seguinte observação. Na minha perspectiva, o INESC Porto necessita de se “libertar”; descarregar o know how acumulado amplificando-o, por forma a voltar a reinventar-se, produzindo desta maneira riqueza para ele próprio e para a Comunidade.

Tendo em conta o citado nos objectivos da sua “missão” institucional, julgo que é tempo do INESC Porto crescer e assumir-se mais no sentido da promoção e incubação de iniciativas empresariais e empreendedoras. Estas sim, irão reforçar e sustentar o “novo” conhecimento que certamente virá e que será necessário ser investigado. Para isso, terá de criar uma nova e diferente interface ou modo de funcionamento entre os dois mundos académico e empresarial, visto que este último não se rege pelos mesmos princípios do primeiro. As velocidades de operação de ambos os mundos são incrivelmente diferentes, e os seus riscos e objectivos finais são verdadeiramente opostos. No entanto, têm e devem coabitar e cooperar fluidamente para serem ambos bem sucedidos a longo prazo. O segredo deste equilíbrio não é trivial, mas também não é impossível. Outros, noutros, lugares o conseguiram, e portanto, estou convicto que o INESC Porto também o conseguirá.

 

Paulo Renato Ribeiro

 Ex-colaborador da Unidade de Engenharia de Sistemas de Produção (UESP), actualmente na Frezite.

 

 

BIP - Que memórias boas guarda da sua passagem pelo INESC Porto?

PRR - Das boas memórias que guardo do INESC Porto, as pessoas vêm sem dúvida em primeiro lugar, a simpatia, a humanidade e a entreajuda entre os inesquianos ficaram para sempre na minha memória e como referencia profissional futura. Ficam também recordações dos Torneios de Futebol, foram momentos marcantes, inclusive fisicamente.

BIP - A sua experiência de trabalho no INESC Porto tem sido útil na sua vida futura? Em que medida?

PRR - A experiência INESC Porto pós universidade foi muito importante pois foi no INESC Porto que estagiei e continuei após o estagio, altura essa em que entrei para um projecto que me levou até à empresa onde ele foi implementado e onde me encontro a trabalhar actualmente. 

BIP - Com a visão distanciada que tem agora, o que pensa que poderia ser feito para melhorar o INESC Porto?

PRR - Como principal medida, eu acho que é fundamental a actualização das directrizes do INESC Porto, ou seja, deve actualizar-se ao mundo de hoje. As directrizes actuais do INESC Porto parecem-me não acompanhar um mercado super competitivo e é necessário ter meios de suporte para aguentar tempos mais difíceis como os que estamos a atravessar neste momento. Penso que esses meios podiam passar por contratos de assistência dos vários projectos desenvolvidos pelo INESC Porto. Fazer de ponte entre a universidade e o mundo empresarial não tem nada de mal. Antes pelo contrário, deve ser continuado. No entanto, se não se criam condições para se poder aguentar as finanças em tempos difíceis, um dia esta ponte também cai. Acho que o INESC Porto se desenvolveu e actualizou a todos os níveis excepto a nível directivo.

 

Adília Alves

 Ex-colaboradora da Unidade de Sistemas de Informação e Comunicação (USIC), actualmente no Instituto Politécnico de Bragança.

 

BIP - Que memórias boas guarda da sua passagem pelo INESC Porto?

AA - As melhores recordações que guardo do INESC Porto são: o companheirismo dos colegas e a participação em projectos tecnicamente interessantes. 

BIP - A sua experiência de trabalho no INESC Porto tem sido útil na sua vida futura? Em que medida?

AA - Sim, o know how técnico que adquiri com a participação em projectos tecnicamente interessantes tem sido útil para a minha presente actividade profissional. Penso que a minha actividade profissional no INESC Porto não teve grande influência na minha actual actividade de ensino no Instituto Politécnico de Bragança, mas que foi crucial na minha recente actividade empresarial.

BIP - Com a visão distanciada que tem agora, o que pensa que poderia ser feito para melhorar o INESC Porto?

AA - Como saí antes da fusão das diversas Unidades do INESC Porto num único edifício, e como não tenho acompanhado a evolução da instituição nos últimos anos, não posso dar uma opinião credível sobre o que deveria o INESC Porto fazer. Com certeza que a fusão das diversas Unidades do INESC Porto num único edifício deve ter trazido uma diferente estrutura e orgânica no sentido de aproveitar sinergias existentes entre essas mesmas Unidades.

 

Gabriel Falcão Fernandes

 Ex-colaborador da Unidade de Telecomunicações e Multimédia (UTM), actualmente no DEEC da Universidade de Coimbra.

 

BIP - Que memórias boas guarda da sua passagem pelo INESC Porto?

GFF - No seguimento de um projecto de fim de curso que teve tanto de ambicioso como de bem sucedido, e no seio de um grupo dinâmico cheio de ideias e vontade de embarcar por uma área (na época) pouco explorada em Portugal (o mundo dos DSPs e do processamento digital do áudio em particular), formámos um grupo com a intenção de trilhar um caminho próprio, na área, em Portugal. De alguma forma esse caminho foi iniciado e continua a ser construído. Guardo na memória o conhecimento que acumulei, as experiências, os trabalhos, as publicações, o mestrado, mas sobretudo trago comigo a recordação das pessoas. O Aníbal, o Miguel e o Gustavo, o Alberto Maia, Filipe, Zé, Nuno e Gaspar, a Carla, o Humberto e o Vasco, bem como muitos outros. Com eles aprendi. 

BIP - A sua experiência de trabalho no INESC Porto tem sido útil na sua vida futura? Em que medida?

GFF - Sem dúvida. Mais importante do que ter aprendido a dominar a linguagem A ou B, na plataforma X ou Y, no INESC Porto adquiri a capacidade de me adaptar rapidamente a novas tecnologias, sempre que a necessidade o obriga. Discute-se com alguém uma tarefa comum, alinham-se ideias e começa-se o trabalho. Com que ferramentas? Não importa, rapidamente se começa a dominar uma até aí desconhecida. A universidade assume o papel de criar as bases. O resto vem por si. É nas pós-graduações, nos mestrados e doutoramentos, na educação contínua que a universidade se liga de forma consistente à indústria. E o INESC Porto desempenha um papel muito importante neste aspecto. Por outro lado, um jovem investigador ambiciona trabalhar num meio estimulante, onde tenha a oportunidade de se desenvolver do ponto de vista científico. Sonha obter uma boa formação e (e em muitos casos, como o meu) um grau académico que lhe seja útil e o torne competitivo em qualquer parte. O INESC Porto foi muito importante. Proporcionou-me tudo isto.

BIP - Com a visão distanciada que tem agora, o que pensa que poderia ser feito para melhorar o INESC Porto?

GFF - A investigação que se faz hoje em Portugal está, sem dúvida, muito acima da que se fazia há alguns anos. A qualidade dos projectos é outra, o profissionalismo dos investigadores melhorou, a qualidade e quantidade dos equipamentos também, o grau de dificuldade dos desafios subiu (bem como a capacidade de lhes dar resposta) e o processo de avaliação independente das instituições veio dar mais credibilidade ao meio científico.

O que nos falta? Apetecia-me dizer que para melhorar, nos poderíamos tornar numa espécie de Alemanha ou Estados Unidos, com um suporte empresarial fabuloso, que “puxasse” pelos centros de I&D (ou pelo qual estes pudessem de vez em quando “puxar”). Mas, em Portugal, a realidade é outra, bem diferente. Na busca da tão desejada interactividade com as empresas, seria de esperar que fossem estas, fruto do seu desenvolvimento tecnológico e da necessidade de competir, a solicitar os centros de I&D. Mas não temos indústria (ou temos muito pouca) capaz de lançar esse tipo de desafios em Portugal. Como tal, o caminho passa pelo estrangeiro, se o soubermos cativar. E aí, o panorama muda. Fazemos investigação respeitada lá fora. Portugal tem actualmente uma comunidade científica significativa a trabalhar em laboratórios de renome, no estrangeiro. Se não podemos usar essas mentes a produzir algo de válido no nosso país, usemo-las para publicitar a nossa capacidade de trabalho no domínio da I&D.

Como publicitar a I&D em Portugal? Sendo um dos melhores centros de I&D em Portugal, no INESC Porto desenvolve-se trabalho imensamente interessante e sem dúvida muitíssimo meritório. De acordo. Mas falta, na minha opinião alguém que seja capaz de fazer o interface entre a indústria e o investigador. Alguém capaz de gerir a área comercial, de fazer o marketing de uma instituição como o INESC Porto, publicitando as ideias e o know-how, levando todo este potencial até um leque de contactos inacessível ao investigador (que por vezes passa muito tempo fechado no gabinete, no laboratório, ou na sala de aulas), alguém conhecedor das tendências e necessidades do mercado nas mais diversas áreas, possuidor de uma visão realista, capaz de lidar com números e cifrões e dar uma opinião válida sobre a viabilidade de um determinado projecto. Em suma, uma instituição de I&D deveria, na minha opinião, possuir aquilo que se poderia talvez designar por “gestor de actividade científica”. É importante haver gente que compreenda as necessidades da indústria e, de forma expedita, seja capaz de passar ao empresário a informação de que o centro de I&D tem gente capaz de resolver um determinado problema, e que ao mesmo tempo compreenda (ainda que superficialmente) o conceito ou a solução defendida pelo investigador, a ponto de ser capaz de fazer sugestões ao nível empresarial. Há em qualquer empresa, indivíduos que se dedicam exclusivamente a este tipo de tarefa: vender o que a empresa produz. Porque haveria um centro de I&D de ser assim tão diferente?

Prestação de serviços. Adicionalmente, há hoje em Portugal institutos, como o IPATIMUP, onde uma percentagem do budget (no caso concreto é de um terço) é obtida através da prestação de serviços. Dentro de um instituto de I&D haverá com certeza gente disposta a executar este tipo de trabalho, a servir de suporte a quem faz a investigação de fundo não rentável. No caso de não haver, a outra solução passaria por obrigar todos os grupos a articular a produção de investigação com a prestação de serviços. Prestando serviços durante um terço do tempo, poderiam dedicar-se a produzir investigação e consequente publicação nos dois terços restantes. E cada grupo deveria ter um investigador responsável por essa prestação de serviços e pelo consequente retorno financeiro, como aliás acontece nas empresas.

Cientistas estrangeiros. Comparando a Europa com os Estados Unidos, percebe-se que estes últimos formam uma sociedade muito flexível e diversificada do ponto de vista cultural. Essas características reflectem-se no funcionamento das suas instituições. Uma sociedade aberta, que sabe receber os melhores contributos de todo o mundo possui vantagens claras relativamente a outras fechadas. Também neste ponto, seria positivo o INESC Porto criar condições capazes de atrair cientistas estrangeiros, de quem pudesse beber novas ideias e partilhar novas experiências. É extremamente enriquecedor do ponto de vista científico, económico e cultural, e é em grande parte por esse motivo que os Estados Unidos lideram em quase tudo.

Estas reflexões são feitas à luz da realidade que eu conhecia quando me encontrava ao serviço do INESC Porto. Desconheço as alterações que entretanto possam ter surgido no funcionamento da instituição.