Será que numa instituição de cientistas e
estudiosos da racionalidade e da técnica há quem acredite em
fenómenos sobrenaturais e em crenças populares?
Conta-se, admitamos que a história é
verdadeira, que o famoso Niels Bohr foi visitado em
Copenhaga por um jornalista que, vendo sobre uma porta uma
ferradura cravada, não resistiu a interpelá-lo: “Então
como é que um físico teórico aceitou colocar um objecto de
superstição precisamente na entrada do seu Laboratório de
Física Nuclear?”, ao que aquele respondeu: “Sabe, eu
não acredito em nada disso, mas é que me disseram que, quer
acreditasse quer não, dava sorte...”
Ora estava na altura de BIP tentar
conhecer um pouco melhor a generalidade dos colaboradores do
INESC Porto e, para isso, inquiriu uma amostra significativa
de colaboradores.
Nem todos responderam, talvez porque pode
dar azar responder a este tipo de inquéritos. Apesar de
tudo, pensamos que as respostas que recebemos podem dar uma
ideia da dimensão do sobrenatural no INESC Porto.
A maior parte dos inquiridos não acredita
nos dizeres populares que falam de azar mas, pelo sim, pelo
não ou... não vá o diabo tecê-las, vão evitando fazer certas
coisas.
À primeira questão que colocámos “Acha
que entrar com o pé direito nos sítios dá sorte?”,
apenas três inquiridos responderam afirmativamente. Quanto a
acreditar que “partir um espelho dá 7 anos de azar”,
ainda menos colaboradores acreditam. Um deles diz: “Já parti
um e não me considero azarado”, enquanto outro garante: “Já
parti vários e não me tem acontecido nada nos últimos
anos... só se se anularem uns aos outros...”
Nenhum dos inquiridos acredita que quem
passar por baixo de uma escada tem azar e alguns ironizam:
“Não acredito que traga azar, mas arrisca-se a que a escada
lhe caia em cima” ou “Ahn... É melhor não abusar da sorte...
a escada pode cair...”. Há uma inquirida que afirma que não
sabe se este acto lhe pode trazer azar mas, de qualquer
forma, simplesmente contorna a escada...
Apenas um inquirido crê que se um gato
preto se atravessar à sua frente terá azar garantido. Os
restantes não acreditam nesta crença. Uma inquirida afirma
que até gosta de gatos pretos e outra responde: “Não
acredito, mas faz-me parar para o não apanhar, aliás
qualquer gato independente da cor”.
Embora a generalidade dos inquiridos não
acreditem, há algumas inquiridas que crêem que dá azar se
o noivo vir o vestido da noiva antes do casamento. Ainda
relativamente ao tema do casamento, há um dizer popular que
afirma que se varrerem os pés às raparigas, elas
nunca casarão. Nenhum dos inquiridos acredita nisto e até
recebemos algumas respostas bem humoradas, tais como: “Não
acredito, se bem que...ainda não casei!” e “Não me parece,
mas varria muito os pés à minha irmã e ela casou com 17
anos:)”
Entornar azeite, não traz qualquer
azar aos inquiridos, embora alguns afirmem que dá trabalho
para limpar! Poucos inquiridos acreditam que se contarem
as estrelas do céu lhes crescem “cravos” nas mãos. Até
houve uma inquirida que respondeu :”As vezes que as conto já
devia estar "cravejada"... acho um belo passatempo”.
Quase metade dos inquiridos acredita no
significado dos sonhos, como "sonhar com dentes é
morte dos parentes". Algumas das respostas negativas
trouxeram uma explicação racional: “Acho que é um aviso para
ir ao dentista” ou “Os parentes morrem mesmo sem sonharmos
com dentes.”
Muitos inquiridos comem 12 passas
e pedem desejos na passagem de ano, mais “por tradição”,
justificam. Quanto a encaminhar mensagens de e-mail para
não quebrar as correntes (porque isso pode trazer azar),
poucos inquiridos admitem fazê-lo...embora muitos afirmem
que reencaminham algumas mensagens pelo conteúdo que
transmitem e não por causa da corrente.
A maior parte dos inquiridos não acredita
que a sexta-feira 13 seja um dia de azar. Há um
inquirido que até nos faz uma revelação: “Não acho que seja
um dia de azar, pois o meu filho nasceu a uma sexta feira 13
e tudo correu muito bem”. No lado oposto está um inquirido
que respondeu “Sim, é óbvio que acredito”.
Quanto ao número 13, nenhum
inquirido pensa que traga de alguma maneira qualquer azar.
Uma das nossas inquiridas até refere que vive num nš 13,
enquanto outra considera que em alguns dias 13 até tem sido
favorecida.
À última questão: “Mesmo que não acredite
na maior parte das crenças acima indicadas, evita fazer
algumas coisas e faz outras "pelo sim, pelo não"?”,
obtivemos algumas respostas interessantes:
- “Sim, não posso evitar lembrar-me da crença e isso pode,
por vezes, condicionar um bocadinho a minha atitude. Porém,
normalmente até gosto de desafiar a sorte!”
- “Não pelo "sobrenatural", mas pelo bom senso. Por exemplo,
passar por baixo de uma escada "tem o seu perigo" pois, se
ela não estiver bem apoiada poderá cair”.
- “Calçar e apertar o sapato direito em primeiro lugar...
mas não sei se é mais hábito do que qualquer outra coisa”.
- “Nem por isso, posso fazer uma ou outra coisa por hábito,
mas nunca por dar sorte, azar ou por acreditar em contos de
fadas”.
- “Sempre que ouço a música "Are you ready to be heart
broken?" (Lloyd Cole), preparo-me psicologicamente para ter
um desgosto, porque acho que isso já aconteceu várias vezes.
Acho que é a minha verdadeira superstição, porque fui eu que
a inventei.”