Por Patricia Gómez Abia*
E assim mesmo, de repente, estava aqui, no Porto. Esse
país desconhecido para mim, com o seu bacalhau, as suas
roupinhas penduradas na varanda, e um fuso horário diferente
...pois isso era tudo o que eu sabia de Portugal, das suas
gentes e da sua cultura, mas estava impaciente por
descobrir...
Um dos propósitos da minha vinda para o INESC Porto é
colaborar num projecto europeu chamado ”Microgrids” e uma
das suas finalidades é compreender melhor o comportamento em
termos de estabilidade e voltagem da rede eléctrica quando
são conectadas muitas microredes. A Geração Distribuída, uma
nova forma de entender a produção e distribuição de
electricidade desde um ponto de vista mais ecológico e menos
nocivo para o meio ambiente. Gosto imensamente da
possibilidade de poder fazer a minha pequena contribuição
num assunto que envolve energias renováveis e uma utilização
melhor dos recursos de que disporemos.
Os meus companheiros? Ao princípio fiquei um pouco
surpreendida porque a maioria não falava comigo. Tinha eu
algo estranho? Não era isso. Cedo descobri que se és
espanhola, as relações sociais com os portugueses são mais
difíceis porque tens que falar a sua língua.... Agora digo
que muito obrigada. A melhor forma de aprender é essa, não?
E não posso dizer mais coisas “malas”. Eles sempre me
ajudaram, mesmo em assuntos de trabalho (dúvidas técnicas,
problemas com o computador), como em temas mais pessoais
como a procura do apartamento, o empréstimo dum radiador,
requisições da biblioteca, traduções castelão - português e
inclusivamente como cozinhar uma boa feijoada brasileira ou
as melhores rotas turísticas por todo o país.
Nesta altura muito tenho descoberto sobre o país vizinho
e principalmente sobre o Porto, a cidade trabalhadora. Os
portugueses gostam tanto do café (e é tão bom!), que tem
coffee points nos concertos; as praias são tão ventosas que
precisam de pára-ventos; adoram de tal forma o arroz que
mais bem parecem chineses; e a grande paixão pelo
futebol!!!!!!!!!....Já vivi aqui o Euro 2004 e posso dizer
que a bola é o desporto nacional, tudo pára quando a
selecção ou o seu querido FCP têm um jogo. E as ruas
empedradas! Não sei quem inventou tal coisa, mas acho que
não foi uma mulher.... No entanto posso desculpar tudo isso
se os tripeiros continuarem a deixar-me caminhar pela
Ribeira à noite e passear na Foz para logo tomar um copo num
desses restaurantes tão pertinho do mar. Espectacular!
É um prazer escrever estas linhas para a sua revista,
gostaria também que vocês escrevessem no meu pequeno livro
de Porto (alguns já o fizeram) onde guardo todas as anedotas
que aconteceram nesta viagem de um ano.
*
Colaboradora da Unidade de Sistemas de Energia (USE)
O CONSULTOR DO LEITOR COMENTA
Querida Aventureira,
Como responder a uma declaração de amor? Só de forma
igual.
Imaginas que o Porto ficou mais lindo para te receber?
Pois ficou mais lindo por te receber...
(os leitores que me desculpem, mas há momentos na vida em
que o coração derrete, e no induzir desse fenómeno contam
mais as palavras escorreitas e as confissões sinceras do que
gestos grandiloquentes ou prendas materiais - é assim a
gente do Porto, que sorri amiga a qualquer crítica envolta
em ternura)