B o l e t i m Número 44 de Outubro 2004 - Ano IV
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O p i n i ã o  

A Vós a Razão
Leitor “novato” confessa: “De início, quando apostei no INESC Porto, pensava simplesmente que seria uma curta estadia de seis meses. Agora estou aqui por mais uns anos, e penso cada vez mais que foi óptimo ter decidido então, integrar esta instituição”.

Galeria do Insólito
Quem pensa que do INESC Porto só saem “spin-offs” de áreas tecnológicas, engana-se. A última foi uma papelaria chamada Ponto de Letras. Os donos são dois físicos da Unidade de Optoelectrónica.

Asneira Livre
Leitor reflecte: “Bons incentivos para melhorar o panorama das publicações científicas no INESC Porto são, naturalmente, bem-vindos. Mas mudar hábitos e gestos de menos exigência científica, bem como prioridades de trabalho existentes, não vai ser obra fácil”. Não perca o cartoon ilustrativo.

Biptoon
Bamos Indo Porreiros

Galeria Jorge de Sena
Se gosta de fotografia, não perca as fotos premiadas de António Lucas Soares, investigador da UESP e membro da equipa do BIP, que venceu o Prémio FNAC de Fotografia a nível nacional.

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A  V Ó S  A  R A Z Ã O

Novatos no INESC Porto

Por Filipe Abrantes*

A minha aventura inesquiana começou, juntamente com mais dois colegas, há cerca de oito meses quando procurávamos um rumo a seguir para o projecto de fim de curso. Foi então que nos foi proposto algo de ambicioso, "Inteligência Ambiente", um conceito completamente novo.

Os objectivos não eram muito claros, mas ficou certo que teríamos uma palavra a dizer na própria especificação do projecto, e que seria algo desafiador e novo. Nada de preocupante, pois segundo o nosso orientador, "aqui não podemos ter medo de arriscar".

Aliás, a segurança imprimida nas palavras fez-nos abraçar o projecto de imediato, e a vontade de trabalhar manifestou-se logo, com reuniões e, "mão-na-massa" em Fevereiro, enquanto os nossos outros colegas ainda gozavam os seus exames, ou pseudo-ferias, algo que a "fama e fortuna" iriam compensar seis meses depois pensámos nós.

Foi com facilidade que me integrei neste novo ambiente. as pessoas eram bastante acessíveis e simpáticas, e o ambiente de trabalho era óptimo. À medida que o nosso projecto ia decorrendo, iam aparecendo coisas novas para nos pôr à prova, fomentando o nosso espírito de sacrifício e "aguçando" o engenho. Momentos houve em que nos sentimos perdidos, desanimados, mas no fim as coisas acabaram por funcionar. E a conquista fez esquecer todas aquelas noites sem dormir decentemente.

É verdade que a fortuna nunca chegou e que a fama está longe mesmo dos gloriosos 15 minutos que todos ambicionamos, mas ficou uma experiência verdadeiramente enriquecedora e que decididamente valeu a pena, pelo espírito e pelo ambiente que aqui encontrei, pelos desafios que enfrentei e pelas oportunidades que me foram dadas para fazer aquilo que realmente gosto.

Agora, encontro-me a fazer um doutoramento aqui. De início, quando apostei no INESC Porto, pensava simplesmente que seria uma curta estadia de seis meses. Agora estou aqui por mais uns anos, e penso cada vez mais que foi óptimo ter decidido então, integrar esta instituição.

O que é que eu mudava no INESC Porto? Não sei muito bem, sou ainda relativamente novo aqui e a minha experiência profissional noutros sítios é nula. De qualquer maneira, há uma coisa que me faz alguma confusão. Nós estamos a cerca de 100 metros da FEUP onde existem, não sei bem, mas pelo menos uns 300 alunos de áreas de interesse do INESC Porto e no entanto são poucos os que, à excepção dos projectos de fim de curso, participam em projectos do INESC Porto.

Eu pelo menos, acho que só teria ganho em ter participado em projectos de uma maior dimensão e com uma maior aplicação prática do que os usuais trabalhos académicos que invariavelmente acabam no esquecimento. Acho que é uma mão-de-obra demasiado importante para ser ignorada.

Agradeço ao BIP a oportunidade que me deram para partilhar a minha experiência e já agora pela publicação em si que é um dos pontos de referência internos do INESC Porto (nunca perco um BIPtoon). Gostava também de deixar aqui um agradecimento a todos com quem tive e tenho a oportunidade de trabalhar e conviver no dia a dia e que têm facilitado a minha adaptação nesta nova etapa.

 

O CONSULTOR DO LEITOR COMENTA

Caro Filipe (e Ricardo), eis um testemunho agradável e que certamente encherá de satisfação todos os seus leitores.

A nossa capacidade de captação de jovens depende de muitos factores, mas certamente que a “vontade” é um deles. Estás certo que ali, na nossa frente, estão muitos potenciais interessados. Aliás, o INESC Porto não faz sentido sem a academia ao seu lado e do seu lado.

Mas há notórias dificuldades quanto à capacidade de acolhimento. Não dispomos dos laboratórios nem dos postos de trabalho devidamente equipados para acolhermos todos os estudantes que se poderiam interessar por uma experiência connosco. Temos também que ser muito ponderados no uso que damos aos investimentos, porque somos uma instituição privada, e é em primeiro lugar ao Estado que compete assegurar o serviço público de formação.

Dito isto, não te surpreendes que não haja um acordo institucional mais claro entre o DEEC (Departamento de Engenharia Electrotécnica e de Computadores) e o INESC Porto, para integrar a formação dos jovens engenheiros com a actividade de desenvolvimento e investigação?

Afinal, a FEUP é um dos associados do INESC Porto - um dos donos.

Se me disseres que te parece que ainda não estão exploradas as devidas sinergias entre o DEEC e os institutos de interface, eu teria que concordar.

Nas muitas discussões que tive no DEEC sobre muitos assuntos, raramente ou nunca testemunhei um genuíno projecto de integrar actividades e objectivos. Vou-te dar algumas ideias:

  • Certas áreas da licenciatura e da pós-graduação poderiam ser “adjudicadas” aos institutos, em termos de organização e garantia de funcionamento, contribuindo a FEUP/DEEC com as infraestruturas
  • Os institutos poderiam ser convidados, como tais, a negociar a oferta coordenada de apoio a Seminários/Projectos
  • Certas áreas físicas do DEEC poderiam ser colocadas à disposição dos institutos, de forma oficial e visível, para serem lançadas experiências pedagógicas e de iniciação à investigação.

Repara que deixei de falar do INESC Porto e passei a falar “dos institutos”. Não foi por acaso, foi porque falamos de uma política do DEEC (ou do défice dela).

Enquanto isto não for claro, enquanto não existir uma gestão do DEEC com ideias um pouco revolucionárias ou que, pelo menos, se disponha a ultrapassar a mera gestão corrente da boa vizinhança para passar a encarar os institutos como “braços armados” de uma política de educação, disponíveis para serem utilizados, teremos dificuldade em evoluir.

Os institutos não deveriam ser tratados em pé de igualdade com qualquer empresa ou instituição estranha ou externa à FEUP - deveriam ser peças importantes do conceito estratégico do DEEC.

Infelizmente, como saberás, não funciona no DEEC qualquer conselho que junte a Direcção do Departamento com representantes das Direcções dos Institutos, para que possam não só convergir em ideias e estratégias como possam passar essa ideia mesma para o exterior.

 

* Colaborador da Unidade de Telecomunicações e Multimédia (UTM);
com a colaboração de Ricardo Duarte (um dos colegas do projecto de fim de curso)



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