Por Filipe Abrantes*
A minha aventura inesquiana começou, juntamente com mais
dois colegas, há cerca de oito meses quando procurávamos um
rumo a seguir para o projecto de fim de curso. Foi então que
nos foi proposto algo de ambicioso, "Inteligência Ambiente",
um conceito completamente novo.
Os objectivos não eram muito claros, mas ficou certo que
teríamos uma palavra a dizer na própria especificação do
projecto, e que seria algo desafiador e novo. Nada de
preocupante, pois segundo o nosso orientador, "aqui não
podemos ter medo de arriscar".
Aliás, a segurança imprimida nas palavras fez-nos abraçar
o projecto de imediato, e a vontade de trabalhar
manifestou-se logo, com reuniões e, "mão-na-massa" em
Fevereiro, enquanto os nossos outros colegas ainda gozavam
os seus exames, ou pseudo-ferias, algo que a "fama e
fortuna" iriam compensar seis meses depois pensámos nós.
Foi com facilidade que me integrei neste novo ambiente.
as pessoas eram bastante acessíveis e simpáticas, e o
ambiente de trabalho era óptimo. À medida que o nosso
projecto ia decorrendo, iam aparecendo coisas novas para nos
pôr à prova, fomentando o nosso espírito de sacrifício e
"aguçando" o engenho. Momentos houve em que nos sentimos
perdidos, desanimados, mas no fim as coisas acabaram por
funcionar. E a conquista fez esquecer todas aquelas noites
sem dormir decentemente.
É verdade que a fortuna nunca chegou e que a fama está
longe mesmo dos gloriosos 15 minutos que todos ambicionamos,
mas ficou uma experiência verdadeiramente enriquecedora e
que decididamente valeu a pena, pelo espírito e pelo
ambiente que aqui encontrei, pelos desafios que enfrentei e
pelas oportunidades que me foram dadas para fazer aquilo que
realmente gosto.
Agora, encontro-me a fazer um doutoramento aqui. De
início, quando apostei no INESC Porto, pensava simplesmente
que seria uma curta estadia de seis meses. Agora estou aqui
por mais uns anos, e penso cada vez mais que foi óptimo ter
decidido então, integrar esta instituição.
O que é que eu mudava no INESC Porto? Não sei muito bem,
sou ainda relativamente novo aqui e a minha experiência
profissional noutros sítios é nula. De qualquer maneira, há
uma coisa que me faz alguma confusão. Nós estamos a cerca de
100 metros da FEUP onde existem, não sei bem, mas pelo menos
uns 300 alunos de áreas de interesse do INESC Porto e no
entanto são poucos os que, à excepção dos projectos de fim
de curso, participam em projectos do INESC Porto.
Eu pelo menos, acho que só teria ganho em ter participado
em projectos de uma maior dimensão e com uma maior aplicação
prática do que os usuais trabalhos académicos que
invariavelmente acabam no esquecimento. Acho que é uma
mão-de-obra demasiado importante para ser ignorada.
Agradeço ao BIP a oportunidade que me deram para
partilhar a minha experiência e já agora pela publicação em
si que é um dos pontos de referência internos do INESC Porto
(nunca perco um BIPtoon). Gostava também de deixar aqui um
agradecimento a todos com quem tive e tenho a oportunidade
de trabalhar e conviver no dia a dia e que têm facilitado a
minha adaptação nesta nova etapa.
O CONSULTOR DO LEITOR COMENTA
Caro Filipe (e Ricardo), eis um testemunho agradável e
que certamente encherá de satisfação todos os seus leitores.
A nossa capacidade de captação de jovens depende de
muitos factores, mas certamente que a “vontade” é um deles.
Estás certo que ali, na nossa frente, estão muitos
potenciais interessados. Aliás, o INESC Porto não faz
sentido sem a academia ao seu lado e do seu lado.
Mas há notórias dificuldades quanto à capacidade de
acolhimento. Não dispomos dos laboratórios nem dos postos de
trabalho devidamente equipados para acolhermos todos os
estudantes que se poderiam interessar por uma experiência
connosco. Temos também que ser muito ponderados no uso que
damos aos investimentos, porque somos uma instituição
privada, e é em primeiro lugar ao Estado que compete
assegurar o serviço público de formação.
Dito isto, não te surpreendes que não haja um acordo
institucional mais claro entre o DEEC (Departamento de
Engenharia Electrotécnica e de Computadores) e o INESC
Porto, para integrar a formação dos jovens engenheiros com a
actividade de desenvolvimento e investigação?
Afinal, a FEUP é um dos associados do INESC Porto - um
dos donos.
Se me disseres que te parece que ainda não estão
exploradas as devidas sinergias entre o DEEC e os institutos
de interface, eu teria que concordar.
Nas muitas discussões que tive no DEEC sobre muitos
assuntos, raramente ou nunca testemunhei um genuíno projecto
de integrar actividades e objectivos. Vou-te dar algumas
ideias:
- Certas áreas da licenciatura e da pós-graduação
poderiam ser “adjudicadas” aos institutos, em termos de
organização e garantia de funcionamento, contribuindo a
FEUP/DEEC com as infraestruturas
- Os institutos poderiam ser convidados, como tais, a
negociar a oferta coordenada de apoio a
Seminários/Projectos
- Certas áreas físicas do DEEC poderiam ser colocadas à
disposição dos institutos, de forma oficial e visível,
para serem lançadas experiências pedagógicas e de
iniciação à investigação.
Repara que deixei de falar do INESC Porto e passei a
falar “dos institutos”. Não foi por acaso, foi porque
falamos de uma política do DEEC (ou do défice dela).
Enquanto isto não for claro, enquanto não existir uma
gestão do DEEC com ideias um pouco revolucionárias ou que,
pelo menos, se disponha a ultrapassar a mera gestão corrente
da boa vizinhança para passar a encarar os institutos como
“braços armados” de uma política de educação, disponíveis
para serem utilizados, teremos dificuldade em evoluir.
Os institutos não deveriam ser tratados em pé de
igualdade com qualquer empresa ou instituição estranha ou
externa à FEUP - deveriam ser peças importantes do conceito
estratégico do DEEC.
Infelizmente, como saberás, não funciona no DEEC qualquer
conselho que junte a Direcção do Departamento com
representantes das Direcções dos Institutos, para que possam
não só convergir em ideias e estratégias como possam passar
essa ideia mesma para o exterior.
* Colaborador da Unidade de
Telecomunicações e Multimédia (UTM);
com a colaboração de Ricardo Duarte (um dos colegas do
projecto de fim de curso)
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