A Unidade de Sistemas de Energia está a desenvolver um
projecto europeu que introduz o conceito inovador da
micro-rede. O MICROGRIDS é único porque permite tornar a rede
de baixa tensão parcialmente autónoma. Em caso de apagão, as
pequenas áreas de rede onde existir o conceito de micro-rede
sobrevivem, ou seja, têm capacidade para alimentar uma parte
dos consumos. Com a colaboração da Unidade de
Telecomunicações e Multimédia, João Peças Lopes gere uma
equipa que trabalha diariamente neste projecto. Este é só o
princípio do fim dos apagões, mas mais ideias vêm a caminho.
O
contexto tecnológico
O MICROGRIDS - Large Scale Integration of Micro-generation
to Low Voltage Grids é um projecto europeu que está a ser
desenvolvido pelo INESC Porto e vários parceiros europeus no
âmbito do V Programa Quadro, com um financiamento de cerca
de 400 mil euros.
Segundo o coordenador-adjunto da USE, este é um grande
projecto pois desenvolve o conceito inovador da micro-rede
como célula activa de uma rede eléctrica de distribuição.
Como explica o investigador, “a tecnologia das micro-fontes
tem vindo a ser desenvolvida nos últimos anos, mas o que a
USE está a fazer agora é explorar e desenvolver o conceito
da integração destes dispositivos de produção de uma forma
em que estes participem activamente na gestão de uma rede de
baixa tensão e onde também as cargas participem”.
A
equipa multidisciplinar
O MICROGRIDS conta com a participação de João Peças Lopes
(responsável pelo projecto), Carlos Moreira, André
Madureira, Fernanda Resende e Patricia Abia. Estes bolseiros
trabalham especificamente a componente de análise de
comportamento dinâmico em rede isolada. Há ainda as
contribuições de outros elementos da Unidade, tais como João
Tomé Saraiva e Manuel Matos, na parte económica e de
mercados, Pereira da Silva, na componente de análise de
curto-circuitos e novas protecções, Rogério Almeida e João
Luís Pinto em questões pontuais de modelização e
desenvolvimento. Do lado da UTM, José Ruela assegura a
participação neste projecto.
Até ao final de 2005, esta equipa continuará a
desenvolver o conceito de micro-rede. Na opinião de João
Peças Lopes, o MICROGRIDS é inovador porque dota de
autonomia a rede de baixa tensão e permite a extensão de
conceitos de mercado à gestão das micro-fontes e cargas. “Se
a alimentação dessa rede eléctrica falhar a montante, ela
deverá ter autonomia e robustez para suportar a alimentação
das cargas, não de todas, mas pelo menos parcialmente”,
garante o responsável.
A
origem da ideia
O coordenador adjunto da USE recorda-se da origem da ideia
do MICROGRIDS. “Tudo começou com conversas de café que eu e
investigadores da Universidade de Atenas e da Universidade
de Manchester (UMIST) tivemos durante alguns encontros em
Bruxelas”, revela João Peças Lopes.
O professor também se lembra que a ideia nasceu no ano de
2000. Ainda hoje guarda os “bonecos” que desenhou com Nick
Jenkins do UMIST. “Fizemos uns desenhos para tentar perceber
como as coisas iam evoluir. Depois juntou-se a nós o Prof.
Hatziargyriou da Universidade de Atenas, mais tarde o Prof.
Goran, também do UMIST, e juntos montámos e criámos o
projecto”, explica o investigador.
O
fim do apagão
Uma das consequências mais visíveis deste projecto é a sua
contribuição para a contenção das consequências dos apagões.
Nas palavras do responsável pelo projecto, “se houver um
apagão, as pequenas áreas de rede onde existir o conceito de
micro rede sobrevivem”. Ou seja, quando este conceito for
implementado, vai ser possível obter uma melhoria global da
continuidade de serviço prestada aos consumidores finais.
Embora os apagões tenham uma probabilidade de ocorrência
muito baixa, quando ocorrem têm consequências devastadoras.
Houve, por exemplo, um apagão em Itália em Setembro de 2003
que deixou o país às escuras durante horas. João Peças Lopes
assegura que, com o conceito MICROGRIDS, estas consequências
seriam mitigadas.
O
outro conceito
O MICROGRIDS explora e desenvolve ainda o conceito da
utilização dos condutores da rede eléctrica para transmitir
informação e gerir e controlar a microrede. É o que se chama
de PLC - Power Line Carrier. Este conceito está a ser
desenvolvido neste projecto com a colaboração da UTM, mais
precisamente do coordenador José Ruela.
“Conseguimos assim juntar a UTM e USE num trabalho de
I&D, envolvendo este aspecto”, realça João Peças Lopes. A
questão das comunicações é aqui crucial para gestão e
controlo dos vários dispositivos de produção e cargas. Há
ainda conceitos de mercado de electricidade (para a
micro-produção e consumo) que necessitam da componente de
telecomunicações para a sua concretização. No âmbito do
projecto existe ainda uma componente experimental, com
desenvolvimento laboratorial, onde não estamos envolvidos.
Os
parceiros europeus
Os parceiros deste projecto são a Universidade Técnica de
Atenas (coordenador de projecto), UMIST (Universidade de
Manchester), LABEIN (um laboratório associado à IBERDROLA),
ISET (Instituto Alemão) e École des Mines (ARMINES). Existem
ainda parceiros industriais como o SMA (parceiro alemão que
fabrica inversores), EDF, PPC (empresa de electricidade
Grega) e EDP.
Para o responsável pelo projecto, a participação da EDP é
de extrema importância. “Julgo que a EDP está satisfeita
porque vê aqui um novo nicho de negócio para o futuro. O
sector eléctrico não é mais apenas vender electricidade.
Agora é possível pensar em vender serviços e um deles é a
gestão de um conjunto de dispositivos de produção e de
cargas que estão disponíveis para contribuir para a gestão
de um pequeno sistema”, declara João Peças Lopes. No domínio
experimental foi já disponibilizada pela EDP uma pequena
rede com uma micro-turbina, onde estamos a fazer alguns
ensaios.
O
novo projecto
A USE está agora a planear o desenvolvimento de um novo
projecto a que vai chamar MORE MICROGRIDS, que desenvolve o
conceito de multi micro-redes, ou seja, a gestão integrada
de várias micro redes numa área de rede eléctrica de MT.
Se vier a ser aprovado, este projecto será maior do que o
MICROGRIDS e poderá arrancar no início de 2006, juntando aos
parceiros anteriores a ABB, a Siemens, algumas empresas de
distribuidoras inglesas e holandesas. “Temos boas hipóteses
de conseguir esse novo projecto porque fomos os pioneiros
neste conceito”, finaliza o investigador.
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