B o l e t i m Número 44 de Outubro 2004 - Ano IV
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D E S T A Q U E

Projecto MICROGRIDS na Unidade de Energia

O fim dos apagões na Europa

A Unidade de Sistemas de Energia está a desenvolver um projecto europeu que introduz o conceito inovador da micro-rede. O MICROGRIDS é único porque permite tornar a rede de baixa tensão parcialmente autónoma. Em caso de apagão, as pequenas áreas de rede onde existir o conceito de micro-rede sobrevivem, ou seja, têm capacidade para alimentar uma parte dos consumos. Com a colaboração da Unidade de Telecomunicações e Multimédia, João Peças Lopes gere uma equipa que trabalha diariamente neste projecto. Este é só o princípio do fim dos apagões, mas mais ideias vêm a caminho.

O contexto tecnológico
O MICROGRIDS - Large Scale Integration of Micro-generation to Low Voltage Grids é um projecto europeu que está a ser desenvolvido pelo INESC Porto e vários parceiros europeus no âmbito do V Programa Quadro, com um financiamento de cerca de 400 mil euros.

Segundo o coordenador-adjunto da USE, este é um grande projecto pois desenvolve o conceito inovador da micro-rede como célula activa de uma rede eléctrica de distribuição. Como explica o investigador, “a tecnologia das micro-fontes tem vindo a ser desenvolvida nos últimos anos, mas o que a USE está a fazer agora é explorar e desenvolver o conceito da integração destes dispositivos de produção de uma forma em que estes participem activamente na gestão de uma rede de baixa tensão e onde também as cargas participem”.

A equipa multidisciplinar
O MICROGRIDS conta com a participação de João Peças Lopes (responsável pelo projecto), Carlos Moreira, André Madureira, Fernanda Resende e Patricia Abia. Estes bolseiros trabalham especificamente a componente de análise de comportamento dinâmico em rede isolada. Há ainda as contribuições de outros elementos da Unidade, tais como João Tomé Saraiva e Manuel Matos, na parte económica e de mercados, Pereira da Silva, na componente de análise de curto-circuitos e novas protecções, Rogério Almeida e João Luís Pinto em questões pontuais de modelização e desenvolvimento. Do lado da UTM, José Ruela assegura a participação neste projecto.

Até ao final de 2005, esta equipa continuará a desenvolver o conceito de micro-rede. Na opinião de João Peças Lopes, o MICROGRIDS é inovador porque dota de autonomia a rede de baixa tensão e permite a extensão de conceitos de mercado à gestão das micro-fontes e cargas. “Se a alimentação dessa rede eléctrica falhar a montante, ela deverá ter autonomia e robustez para suportar a alimentação das cargas, não de todas, mas pelo menos parcialmente”, garante o responsável.

A origem da ideia
O coordenador adjunto da USE recorda-se da origem da ideia do MICROGRIDS. “Tudo começou com conversas de café que eu e investigadores da Universidade de Atenas e da Universidade de Manchester (UMIST) tivemos durante alguns encontros em Bruxelas”, revela João Peças Lopes.

O professor também se lembra que a ideia nasceu no ano de 2000. Ainda hoje guarda os “bonecos” que desenhou com Nick Jenkins do UMIST. “Fizemos uns desenhos para tentar perceber como as coisas iam evoluir. Depois juntou-se a nós o Prof. Hatziargyriou da Universidade de Atenas, mais tarde o Prof. Goran, também do UMIST, e juntos montámos e criámos o projecto”, explica o investigador.

O fim do apagão
Uma das consequências mais visíveis deste projecto é a sua contribuição para a contenção das consequências dos apagões. Nas palavras do responsável pelo projecto, “se houver um apagão, as pequenas áreas de rede onde existir o conceito de micro rede sobrevivem”. Ou seja, quando este conceito for implementado, vai ser possível obter uma melhoria global da continuidade de serviço prestada aos consumidores finais.

Embora os apagões tenham uma probabilidade de ocorrência muito baixa, quando ocorrem têm consequências devastadoras. Houve, por exemplo, um apagão em Itália em Setembro de 2003 que deixou o país às escuras durante horas. João Peças Lopes assegura que, com o conceito MICROGRIDS, estas consequências seriam mitigadas.

O outro conceito
O MICROGRIDS explora e desenvolve ainda o conceito da utilização dos condutores da rede eléctrica para transmitir informação e gerir e controlar a microrede. É o que se chama de PLC - Power Line Carrier. Este conceito está a ser desenvolvido neste projecto com a colaboração da UTM, mais precisamente do coordenador José Ruela.

“Conseguimos assim juntar a UTM e USE num trabalho de I&D, envolvendo este aspecto”, realça João Peças Lopes. A questão das comunicações é aqui crucial para gestão e controlo dos vários dispositivos de produção e cargas. Há ainda conceitos de mercado de electricidade (para a micro-produção e consumo) que necessitam da componente de telecomunicações para a sua concretização. No âmbito do projecto existe ainda uma componente experimental, com desenvolvimento laboratorial, onde não estamos envolvidos.

Os parceiros europeus
Os parceiros deste projecto são a Universidade Técnica de Atenas (coordenador de projecto), UMIST (Universidade de Manchester), LABEIN (um laboratório associado à IBERDROLA), ISET (Instituto Alemão) e École des Mines (ARMINES). Existem ainda parceiros industriais como o SMA (parceiro alemão que fabrica inversores), EDF, PPC (empresa de electricidade Grega) e EDP.

Para o responsável pelo projecto, a participação da EDP é de extrema importância. “Julgo que a EDP está satisfeita porque vê aqui um novo nicho de negócio para o futuro. O sector eléctrico não é mais apenas vender electricidade. Agora é possível pensar em vender serviços e um deles é a gestão de um conjunto de dispositivos de produção e de cargas que estão disponíveis para contribuir para a gestão de um pequeno sistema”, declara João Peças Lopes. No domínio experimental foi já disponibilizada pela EDP uma pequena rede com uma micro-turbina, onde estamos a fazer alguns ensaios.

O novo projecto
A USE está agora a planear o desenvolvimento de um novo projecto a que vai chamar MORE MICROGRIDS, que desenvolve o conceito de multi micro-redes, ou seja, a gestão integrada de várias micro redes numa área de rede eléctrica de MT.

Se vier a ser aprovado, este projecto será maior do que o MICROGRIDS e poderá arrancar no início de 2006, juntando aos parceiros anteriores a ABB, a Siemens, algumas empresas de distribuidoras inglesas e holandesas. “Temos boas hipóteses de conseguir esse novo projecto porque fomos os pioneiros neste conceito”, finaliza o investigador.



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