B o l e t i m Número 47 de Janeiro 2005 - Ano IV
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E S P E C I A L

Tribuna

A Poção Mágica de Sagres

Por Armando Leite da Silva*

É sempre bom reflectir sobre o sucesso experimentado por certos povos durante todo o processo evolutivo da humanidade. É ainda mais interessante lembrar que o chimpanzé e o homem compartilham cerca de 99,5% da sua história evolutiva.

Esta pequena diferença de 0,5% nos empurra para uma uniformidade física e intelectual surpreendente, que inibe qualquer tentativa preconceituosa de esteriotipação dos seres humanos e seus agrupamentos sociais. Mesmo assim, há enormes diferenças sociais e económicas entre as nações actuais, que os nossos mais proeminentes xólogos (i.e. x = soci, antrop, etc.) procuram desesperadamente explicar.

A percepção de sucesso faz-se através dos níveis de bem-estar social, estabilidade económica, educação, cultura, ciência & tecnologia (C&T), etc. O que não sabemos exactamente é como iniciar este maravilhoso ciclo de desenvolvimento. Temos exemplos de sociedades que, apesar de suas riquezas naturais e/ou de investimentos em treinamento educacional, não conseguiram destaque no cenário mundial.

Podemos pensar que a promiscuidade cultural tem sido um factor importante para o sucesso de uma nação, e temos bons exemplos na história. Mas também temos bons exemplos em que povos relativamente isolados atingiram níveis consideráveis de desenvolvimento. Talvez, um dos ingredientes mais importantes presente na poção mágica que inicia o ciclo maravilhoso que mencionamos seja a C&T. Existem duas grandes dificuldades.

A primeira, refere-se à proporção na fórmula das componentes C e T. É como ponderar entre o sonho e a realização, ou ainda, entre o emocional e o racional. Uma boa dose de planeamento e gestão faz parte deste processo. A segunda dificuldade, mais complicada, é fazer com que todos bebam a tal poção: homens, mulheres, crianças, políticos, religiosos, professores, etc.

Há pouco mais de meio milénio, o povo Português bebeu desta poção mágica, que talvez tenha sido preparada no Norte, provavelmente no Porto, mas que depois passou a ser distribuída em Sagres. O Norte ainda continua orientando nossas bússolas. A recente experiência que transformou os povos Nórdicos em campeões dos índices de desenvolvimento pode ser uma boa dica de como resolver as dificuldades mencionadas.

O mais interessante nesta experiência é a inexistência de qualquer processo belicoso que, infelizmente, ainda está presente na arrogância e violência de certos grupos sociais. Esta fabulosa experiência precisa ser devidamente avaliada por todas as nações, incluindo aquelas que um dia beberam a tal poção e não sabem mais como prepará-la, mas lembram com orgulho um pouquinho do seu sabor.

 

* Investigador colaborando com o INESC Porto no âmbito de Laboratório Associado
  Professor Titular da Univerversidade Federal de Itajubá, Brasil



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