Por Armando Leite da Silva*
É sempre bom reflectir sobre o sucesso experimentado por
certos povos durante todo o processo evolutivo da
humanidade. É ainda mais interessante lembrar que o
chimpanzé e o homem compartilham cerca de 99,5% da sua
história evolutiva.
Esta pequena diferença de 0,5% nos empurra para uma
uniformidade física e intelectual surpreendente, que inibe
qualquer tentativa preconceituosa de esteriotipação dos
seres humanos e seus agrupamentos sociais. Mesmo assim, há
enormes diferenças sociais e económicas entre as nações
actuais, que os nossos mais proeminentes xólogos (i.e. x =
soci, antrop, etc.) procuram desesperadamente explicar.
A percepção de sucesso faz-se através dos níveis de
bem-estar social, estabilidade económica, educação, cultura,
ciência & tecnologia (C&T), etc. O que não sabemos
exactamente é como iniciar este maravilhoso ciclo de
desenvolvimento. Temos exemplos de sociedades que, apesar de
suas riquezas naturais e/ou de investimentos em treinamento
educacional, não conseguiram destaque no cenário mundial.
Podemos pensar que a promiscuidade cultural tem sido um
factor importante para o sucesso de uma nação, e temos bons
exemplos na história. Mas também temos bons exemplos em que
povos relativamente isolados atingiram níveis consideráveis
de desenvolvimento. Talvez, um dos ingredientes mais
importantes presente na poção mágica que inicia o ciclo
maravilhoso que mencionamos seja a C&T. Existem duas grandes
dificuldades.
A primeira, refere-se à proporção na fórmula das
componentes C e T. É como ponderar entre o sonho e a
realização, ou ainda, entre o emocional e o racional. Uma
boa dose de planeamento e gestão faz parte deste processo. A
segunda dificuldade, mais complicada, é fazer com que todos
bebam a tal poção: homens, mulheres, crianças, políticos,
religiosos, professores, etc.
Há pouco mais de meio milénio, o povo Português bebeu
desta poção mágica, que talvez tenha sido preparada no
Norte, provavelmente no Porto, mas que depois passou a ser
distribuída em Sagres. O Norte ainda continua orientando
nossas bússolas. A recente experiência que transformou os
povos Nórdicos em campeões dos índices de desenvolvimento
pode ser uma boa dica de como resolver as dificuldades
mencionadas.
O mais interessante nesta experiência é a inexistência de
qualquer processo belicoso que, infelizmente, ainda está
presente na arrogância e violência de certos grupos sociais.
Esta fabulosa experiência precisa ser devidamente avaliada
por todas as nações, incluindo aquelas que um dia beberam a
tal poção e não sabem mais como prepará-la, mas lembram com
orgulho um pouquinho do seu sabor.
* Investigador colaborando com o INESC
Porto no âmbito de Laboratório Associado
Professor Titular da Univerversidade Federal de Itajubá, Brasil
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