Jorge
Pinho de Sousa, o poeta diplomata
BIP - É a primeira vez que vai assumir um cargo de chefia no
INESC Porto (pelo menos a este nível). Como encara esta nova
situação?
JPS - É um pouco a ordem natural das coisas que, com o
tempo, alguns de nós acabem por assumir cargos de chefia.
Sobretudo aqueles que, de maneiras às vezes muito
diferentes, se têm dedicado mais ao INESC Porto e que
compreendem melhor o carácter especial da instituição, que
assenta na, por vezes difícil articulação entre a actividade
académica e actividades de desenvolvimento e de prestação de
serviços.
Num certo sentido esta alteração decorre também, e de uma
forma natural, de uma proximidade entre mim e o Luís
Carneiro, construída pelo trabalho dos últimos anos, e que
tem passado por frequentemente discutirmos e partilharmos
muitas das coisas que se vão fazendo na Unidade.
Mas devo dizer que tenho, quanto a esta mudança, um
sentimento contraditório... por um lado, tendo a
considerá-la como uma evolução natural e, por outro, como um
momento de ruptura, capaz de induzir alterações substantivas
no funcionamento do grupo. Penso que se criam, assim,
oportunidades únicas para pensar em formas inovadoras de
melhorar a nossa actividade.
BIP - Pode nomear os principais desafios e objectivos que
encontra nesta mudança?
JPS - Para mim, o maior desafio consiste claramente em
aproveitar um momento de mudança como este para promover a
participação efectiva dos elementos da UESP, criando
mecanismos simples de intervenção, mas sobretudo,
desenvolvendo um ambiente em que intervir e participar seja
natural. É fundamental que todos se identifiquem um pouco
com uma estratégia global, clara e forte, mas partilhada.
É óbvio que com gente como a que temos no INESC Porto -
académicos, investigadores, jovens com enorme potencial e
ambição - as motivações e as expectativas individuais são
fortíssimas, tornando crítico este alinhamento.
Um objectivo fundamental da formalização desta mudança
passa pelo reforço da estratégia científica da Unidade.
Neste domínio e nos últimos anos, os resultados têm estado
claramente abaixo do que seria razoável esperar tendo em
conta a quantidade e a qualidade dos recursos humanos em
jogo.
Pugnar por um desempenho científico excelente passa, não
tenho dúvidas, pela definição de uma estratégia clara e de
metas a atingir, precisas mas ambiciosas. Essas metas
envolvem talvez direccionar a actividade científica para a
publicação de artigos em revistas internacionais, em
enquadrar devidamente os projectos de doutoramento e de
mestrado, e em tirar um maior partido da participação em
projectos (sobretudo os europeus e os da FCT).
BIP - Quais são as maiores dificuldades que prevê
encontrar nesta nova função?
JPS - A coordenação bicéfala pressupõe uma distribuição
de tarefas que, em princípio, me permitirá concentrar na
gestão científica, libertando-me, em parte, de um conjunto
de actividades não directamente relacionadas com a
investigação.
Pode acontecer que as circunstâncias não permitam que tal
aconteça e a certa altura, o peso dessas actividades mais
“administrativas” seja excessivo. Isso impedir-me-ia de me
concentrar naquilo que me parece fundamental - trabalhar
para a estruturação de um verdadeiro grupo de investigação,
multidisciplinar mas coeso, que venha a ser excelente e
reconhecido internacionalmente.
Para ser franco, só se lá chegarmos é que esta mudança
tem sentido, mas eu tenho todas as condições para que tal
aconteça - tenho a motivação, acho que o desafio é
interessante e sobretudo, estou num grupo com pessoas
bastante diversas, a maioria delas divertidas e civilizadas,
e quase todas com inegáveis qualidades.
BIP - Como explica esta novidade de passar a existir uma
coordenação bicéfala na UESP?
JPS - Esta coordenação bicéfala corresponde quase só a
fazer reflectir na liderança do grupo, as diferenças
“fundamentais” que existem, quanto à actividade e ao estilo.
Por um lado, as actividades de desenvolvimento e de
prestação de serviços, estão naturalmente mais ligadas ao
Luís Carneiro, e as dos universitários e dos investigadores,
a mim.
O Luís tem uma enorme experiência de gestão da Unidade,
conhece o “aparelho” INESC, sabe como se fazem muitas
coisas... Eu conheço os universitários, sei (mais ou
menos...) o que eles pensam e querem, como funcionam e
sobretudo, tenho ideias claras sobre o que é a actividade de
investigação e de gestão científica. Mas, para além disso,
temos cada um de nós, algum domínio da lógica e das
competências associadas à actividade do outro... Eu sei ler
um balanço ou fazer uma demonstração de resultados
previsional...
BIP - O que espera conseguir alcançar a longo prazo?
JPS - A ideia fundamental é reestruturar parcialmente a
acção da Unidade, clarificando e reforçando as actividades
de investigação e dos universitários. E sobretudo articular
melhor estas actividades com o desenvolvimento e a prestação
de serviços.
Em termos estratégicos, esperamos vir a concentrar a
actividade, reduzir a dispersão, criar uma identidade,
desenvolver acções para fortalecer a imagem do INESC Porto e
da UESP. Tal passará pela criação de grandes áreas de
intervenção (na gestão de operações, nas redes de
cooperação,...) e na dinamização de acções de formação
avançada. Em resumo, queremos maximizar o nosso impacto na
sociedade, em simultâneo com uma produção científica regular
e sustentada.
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João José Pinto Ferreira, o maratonista trabalhófilo
BIP - É a primeira vez que vai assumir um cargo de chefia no
INESC Porto (pelo menos a este nível). Como encara esta nova
situação?
JJPF - Como um desafio! O INESC Porto é uma instituição
que admiro e à qual pertenço desde o final dos anos 80.
Sinto-me por isso honrado com o convite feito pela Direcção
do INESC Porto, em meados de 2004, para assumir
responsabilidades de coordenação na USIC.
BIP - Pode nomear os principais desafios e objectivos que
encontra nesta mudança?
JJPF - O maior desafio está certamente na gestão dos
recursos humanos. Como principal objectivo colocaria a
pesquisa de oportunidades na investigação e na prestação de
serviços, num processo sistemático que, com o tempo, deveria
ser um factor distintivo da cultura do INESC Porto.
BIP - Quais são as maiores dificuldades que prevê
encontrar nesta nova função?
JJPF - Não vejo dificuldades, vejo, isso sim, desafios:
- Para sermos os melhores.
- Para sermos diferentes.
BIP - Como explica esta novidade de passar a existir uma
coordenação bicéfala na USIC?
JJPF - Um acto de gestão da Direcção do INESC Porto. Uma
decisão certamente reflectida que poderá ter como objectivo
dar uma nova dinâmica às duas unidades envolvidas e à
interacção entre estas e as restantes. O INESC Porto é um
todo com uma combinação pouco frequente de competências da
qual devemos ser capazes de criar sinergias.
BIP - O que esperam conseguir alcançar a longo prazo?
JJPF - A satisfação de poder contribuir para que o INESC
Porto se possa transformar num Instituto de Referência:
- na competência científica
- e na atitude perante os desafios que em cada momento se
lhe colocam.
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