B o l e t i m Número 47 de Janeiro 2005 - Ano IV
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D E S T A Q U E

Novos coordenadores na UESP e USIC

Duas cabeças pensam melhor do que uma

A Unidade de Engenharia de Sistemas de Produção (UESP) e a Unidade de Sistemas de Informação e Comunicação (USIC) ganharam recentemente dois novos coordenadores. Os investigadores Jorge Pinho de Sousa e João José Pinto Ferreira aceitaram o desafio e serão os esteios da estratégia científica destas Unidades. Desenvolver a massa crítica nas várias áreas, melhorar a articulação com a FEUP e aumentar capacidade de acção são as palavras de ordem.

 

A ideia da coordenação bicéfala
A UESP e USIC são as primeiras unidades do INESC Porto a ter dois coordenadores em simultâneo. Para Pedro Guedes de Oliveira, este facto é normal numa estrutura tão flexível como a do INESC Porto, onde houve sempre uma maior preocupação com a resolução dos problemas específicos de cada unidade ou grupo do que com a simetria ou homogeneidade dessa mesma estrutura.

Segundo o presidente do INESC Porto, a coordenação bicéfala da UESP começou a fazer sentido quando se percebeu que um certo tipo de actividade já não podia ser vista como apenas visando os sistemas de produção, mas tinha um âmbito mais geral de aplicação. No caso da USIC, havia uma capacidade muito elevada de acção, mas uma pequena ancoragem académica. Em simultâneo, reconhecia-se que ambas as unidades estavam dirigidas por não académicos e era notório que tal facto dificultava a sua articulação com a FEUP.

Sem querer perder o “enorme profissionalismo com que estas unidades têm vindo a ser geridas”, a Direcção do INESC Porto considerou que fazer partilhar a sua gestão com universitários corresponderia a adicionar ainda mais competência e eficácia. “A lógica não é que um faça as contas e o outro "pense" os projectos a um nível mais conceptual, mas sim que ambos pensem os projectos conceptualmente, olhando às contas”, esclarece Pedro Guedes de Oliveira.

 

A solução consensual
Questionado sobre o risco de esta reestruturação se traduzir na criação de uma sub-unidade dentro de cada unidade, e não numa gestão coordenada, o presidente mostra-se seguro. “Não só a solução apontada foi construída consensualmente e com um grande envolvimento dos vários elementos, como há uma clara interiorização da importância de conseguir que o conjunto seja mais do que a soma das partes e, portanto, que dividir é perder”, garante.

Pedro Guedes de Oliveira admite que este processo não será fácil e acabará por exigir de todos uma monitorização cuidada, bem como flexibilidade, capacidade de compreensão mútua e diálogo, análise objectiva das situações, com vista a encontrar as soluções óptimas, em cada contexto. “Mas afinal, como gente ligada à ciência e tecnologia, não é isto mesmo que é nosso dever fazer e para o qual somos treinados?”, questiona o presidente.

Demonstrando o espírito ganhador que sempre o caracteriza, o professor acredita que esta reestruturação representará para o INESC Porto, a longo prazo, mais coerência e massa crítica nas várias áreas, melhor articulação com a FEUP e maior capacidade de acção.

Discurso Directo

Jorge Pinho de Sousa, o poeta diplomata


BIP - É a primeira vez que vai assumir um cargo de chefia no INESC Porto (pelo menos a este nível). Como encara esta nova situação?
JPS - É um pouco a ordem natural das coisas que, com o tempo, alguns de nós acabem por assumir cargos de chefia. Sobretudo aqueles que, de maneiras às vezes muito diferentes, se têm dedicado mais ao INESC Porto e que compreendem melhor o carácter especial da instituição, que assenta na, por vezes difícil articulação entre a actividade académica e actividades de desenvolvimento e de prestação de serviços.

Num certo sentido esta alteração decorre também, e de uma forma natural, de uma proximidade entre mim e o Luís Carneiro, construída pelo trabalho dos últimos anos, e que tem passado por frequentemente discutirmos e partilharmos muitas das coisas que se vão fazendo na Unidade.

Mas devo dizer que tenho, quanto a esta mudança, um sentimento contraditório... por um lado, tendo a considerá-la como uma evolução natural e, por outro, como um momento de ruptura, capaz de induzir alterações substantivas no funcionamento do grupo. Penso que se criam, assim, oportunidades únicas para pensar em formas inovadoras de melhorar a nossa actividade.

BIP - Pode nomear os principais desafios e objectivos que encontra nesta mudança?
JPS - Para mim, o maior desafio consiste claramente em aproveitar um momento de mudança como este para promover a participação efectiva dos elementos da UESP, criando mecanismos simples de intervenção, mas sobretudo, desenvolvendo um ambiente em que intervir e participar seja natural. É fundamental que todos se identifiquem um pouco com uma estratégia global, clara e forte, mas partilhada.

É óbvio que com gente como a que temos no INESC Porto - académicos, investigadores, jovens com enorme potencial e ambição - as motivações e as expectativas individuais são fortíssimas, tornando crítico este alinhamento.

Um objectivo fundamental da formalização desta mudança passa pelo reforço da estratégia científica da Unidade. Neste domínio e nos últimos anos, os resultados têm estado claramente abaixo do que seria razoável esperar tendo em conta a quantidade e a qualidade dos recursos humanos em jogo.

Pugnar por um desempenho científico excelente passa, não tenho dúvidas, pela definição de uma estratégia clara e de metas a atingir, precisas mas ambiciosas. Essas metas envolvem talvez direccionar a actividade científica para a publicação de artigos em revistas internacionais, em enquadrar devidamente os projectos de doutoramento e de mestrado, e em tirar um maior partido da participação em projectos (sobretudo os europeus e os da FCT).

BIP - Quais são as maiores dificuldades que prevê encontrar nesta nova função?
JPS - A coordenação bicéfala pressupõe uma distribuição de tarefas que, em princípio, me permitirá concentrar na gestão científica, libertando-me, em parte, de um conjunto de actividades não directamente relacionadas com a investigação.

Pode acontecer que as circunstâncias não permitam que tal aconteça e a certa altura, o peso dessas actividades mais “administrativas” seja excessivo. Isso impedir-me-ia de me concentrar naquilo que me parece fundamental - trabalhar para a estruturação de um verdadeiro grupo de investigação, multidisciplinar mas coeso, que venha a ser excelente e reconhecido internacionalmente.

Para ser franco, só se lá chegarmos é que esta mudança tem sentido, mas eu tenho todas as condições para que tal aconteça - tenho a motivação, acho que o desafio é interessante e sobretudo, estou num grupo com pessoas bastante diversas, a maioria delas divertidas e civilizadas, e quase todas com inegáveis qualidades.

BIP - Como explica esta novidade de passar a existir uma coordenação bicéfala na UESP?
JPS - Esta coordenação bicéfala corresponde quase só a fazer reflectir na liderança do grupo, as diferenças “fundamentais” que existem, quanto à actividade e ao estilo. Por um lado, as actividades de desenvolvimento e de prestação de serviços, estão naturalmente mais ligadas ao Luís Carneiro, e as dos universitários e dos investigadores, a mim.

O Luís tem uma enorme experiência de gestão da Unidade, conhece o “aparelho” INESC, sabe como se fazem muitas coisas... Eu conheço os universitários, sei (mais ou menos...) o que eles pensam e querem, como funcionam e sobretudo, tenho ideias claras sobre o que é a actividade de investigação e de gestão científica. Mas, para além disso, temos cada um de nós, algum domínio da lógica e das competências associadas à actividade do outro... Eu sei ler um balanço ou fazer uma demonstração de resultados previsional...

BIP - O que espera conseguir alcançar a longo prazo?
JPS - A ideia fundamental é reestruturar parcialmente a acção da Unidade, clarificando e reforçando as actividades de investigação e dos universitários. E sobretudo articular melhor estas actividades com o desenvolvimento e a prestação de serviços.

Em termos estratégicos, esperamos vir a concentrar a actividade, reduzir a dispersão, criar uma identidade, desenvolver acções para fortalecer a imagem do INESC Porto e da UESP. Tal passará pela criação de grandes áreas de intervenção (na gestão de operações, nas redes de cooperação,...) e na dinamização de acções de formação avançada. Em resumo, queremos maximizar o nosso impacto na sociedade, em simultâneo com uma produção científica regular e sustentada.

 

João José Pinto Ferreira, o maratonista trabalhófilo


BIP - É a primeira vez que vai assumir um cargo de chefia no INESC Porto (pelo menos a este nível). Como encara esta nova situação?
JJPF - Como um desafio! O INESC Porto é uma instituição que admiro e à qual pertenço desde o final dos anos 80. Sinto-me por isso honrado com o convite feito pela Direcção do INESC Porto, em meados de 2004, para assumir responsabilidades de coordenação na USIC.

BIP - Pode nomear os principais desafios e objectivos que encontra nesta mudança?
JJPF - O maior desafio está certamente na gestão dos recursos humanos. Como principal objectivo colocaria a pesquisa de oportunidades na investigação e na prestação de serviços, num processo sistemático que, com o tempo, deveria ser um factor distintivo da cultura do INESC Porto.

BIP - Quais são as maiores dificuldades que prevê encontrar nesta nova função?
JJPF - Não vejo dificuldades, vejo, isso sim, desafios:
- Para sermos os melhores.
- Para sermos diferentes.

BIP - Como explica esta novidade de passar a existir uma coordenação bicéfala na USIC?
JJPF
- Um acto de gestão da Direcção do INESC Porto. Uma decisão certamente reflectida que poderá ter como objectivo dar uma nova dinâmica às duas unidades envolvidas e à interacção entre estas e as restantes. O INESC Porto é um todo com uma combinação pouco frequente de competências da qual devemos ser capazes de criar sinergias.

BIP - O que esperam conseguir alcançar a longo prazo?
JJPF - A satisfação de poder contribuir para que o INESC Porto se possa transformar num Instituto de Referência:
- na competência científica
- e na atitude perante os desafios que em cada momento se lhe colocam.

 



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