Por Luís Seca*
Quis a equipa do BIP que eu voltasse a escrever umas
linhas com os meus devaneios sobre a nossa mui nobre
instituição. Agradecendo desde já o convite, não posso
deixar de pedir desculpa aos desgraçados que têm de
interromper o seu trabalho para ler este pequeno conjunto de
baboseiras.
Quando me foi proposta esta rubrica, assolaram-me o
pensamento dois temas que, apesar de serem capazes de
preencher os requisitos para aquele programa triste que
reflecte as vidas reais, penso merecerem aqui o devido
destaque.
Em primeiro lugar…o inevitável cartão de ponto!!!! É
incrível como um pequeno cartão com uma foto em que
parecemos uns presidiários, pode de facto mudar a vida a
tanta gente. Recordo a primeira semana em que foram
distribuídos…tive de estacionar quase no meio das couves da
Dona Maria (que para quem não sabe é aquele senhora que vem
passear os cães e cujo grito de chamamento faz Ipiranga
parecer um eco), tamanha era a concentração de viaturas
antes da 9h no nosso estacionamento privativo. Saio do
carro, ainda a tentar acordar e perceber o que raio se
passava ali, quando sou subitamente ultrapassado pela
direita por um companheiro de trabalho anormalmente
acelerado… o ponto estava instaurado! Notava-se um stress
adicional em todas as pessoas, que só diminuía depois
daquele “pi” mágico acompanhado do pensamento…”já está!”.
Agora já se pode ir calmamente tomar café e mandar umas
boquitas sobre a jornada terminada, visto que o tempo, o
nosso tempo, já decresce até às fatídicas 07h12. O almoço
passa a ser prejudicial à saúde humana e aos dentistas…
explico… a comida é agora deglutida em vez de mastigada pois
é preciso rapidamente voltar a picar! O fim de tarde
aproxima-se, com um aumento vertiginoso das consultas ao
relógio da Intranet onde se visualiza o nosso horário e o
dos vizinhos. Afinal de contas, mais do que cumprir as horas
estipuladas, é importante vencer o comparativo, a bem da
ciência, entre as horas que demos e os restantes.
Felizmente, para pessoas com horários estranhos como eu, o
relógio já faz marcação 24 hora por dia, para que também eu
possa mostrar a minha dedicação e esforço laboral, mesmo sem
ter aquele conjunto bonito 8h30-12h30 e 14h00-18h00.
O segundo tema seria inevitavelmente o parque de
estacionamento. Não passa ao lado de ninguém o brusco e
avolumado aumento do número de clientes do mesmo, fruto da
decisão da Direcção em perdoar o seu pagamento mensal. Um
espelho da sociedade portuguesa, onde se tenta usufruir o
máximo a custo zero, ficando alguns de nós que sempre
pagamos, com aquela sensação de “pato” que esteve a dar para
agora todos comerem, inclusive os melhores lugares. Sim,
porque a continuar assim ou compro um Smart ForTwo em
terceira mão ou qualquer dia tem mesmo de ficar lá fora.
Serve de consolo pensar que não traímos a instituição quando
se estabeleceu o compromisso de interesse, ajudando a
diminuir o rombo mensal provocado por aqueles que queriam
mas, afinal, por aquele preço exorbitante, já não podiam.
Mas nem tudo é mau, tendo esta iniciativa não só aliviado a
despesa mensal de cada um de nós, como também reduzido os
insectos anexos ao matagal que se estava a formar.
Dadas as estocadas, só me resta voltar ao trabalho…oops…já
é 12h30…deixa-me ir picar senão depois entro tarde e fica
tudo a olhar para mim pensando “Ehehehe…já vou dar mais
vinte minutos que o 5846!”
* Colaborador da Unidade de Sistemas de
Energia (USE)
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