Por José Correia*
Entrei para o INESC em finais de 1989, na altura como
aluno finalista. Um ano depois passei para bolseiro e desde
Abril de 1992 que pertenço aos quadros do INESC, como
contratado. É verdade, já cá estou há mais de 15 anos. Sou
um inescossauro.
Ao longo deste período muita coisa mudou.
O país passou pelos ciclos do “cavaquismo”, “guterrismo”
e “barrosismo” / ”santanismo”, mas continua à deriva, sem
rumo, sem estratégia, sem desígnios mobilizadores da
sociedade.
O Porto - cidade, área metropolitana e região - continua
a definhar, com as suas elites e protagonistas políticos de
costas voltadas, todos em permanentes guerrinhas de lana
caprina enquanto, um a um, os centros de competência e
decisão foram fechando portas e concentraram-se em Lisboa,
levando atrás os melhores profissionais, em busca das
melhores (em alguns casos únicas) oportunidades de trabalho.
A FEUP mudou do histórico, velhinho e desadequado
edifício da rua dos Bragas para o moderno e espaçoso campus
da Asprela, os espaços físicos e equipamentos melhoraram
muito, mas será que o produto final acompanhou essa
melhoria? Isto é, as novas gerações de licenciados saem da
FEUP mais bem preparadas para enfrentar os desafios deste
início do século XXI?
E o INESC Porto?
No INESC assisti à expansão nacional (Lisboa, Porto,
Aveiro, Coimbra e Braga) e à actual separação; vivi o
período dourado do FUNDETEC e os problemas que levaram ao
fim da formação apoiada pelo FSE; estive envolvido em N
reestruturações (Grupos, Grupos + Centros PEDIP, cartas
azuis, vermelhas e verdes) e trabalhei em vários
enquadramentos e com diferentes responsáveis.
De facto, muita coisa mudou e do INESC no Porto surgiu o
nosso INESC Porto - Laboratório Associado.
Sem poder contar com o apoio dos operadores (TLP, PT,
CTT), sem beneficiar de fluxos financeiros decorrentes da
formação profissional, sem injecções de PEDIP’s ou PRAXIS, e
enfrentando uma conjuntura político-económica difícil, que
já dura há vários anos e cujo fim ainda não está à vista,
sobreviver tem sido a palavra de ordem.
Nas circunstâncias actuais, sobreviver e afirmarmo-nos
como INESC Porto, foi e é um desafio difícil, mas chega para
nos satisfazer?
Estamos em vias de completar 20 anos de INESC no Porto e,
caros inesquianos, está na altura de voltarmos a sonhar.
Sonhar com uma instituição virada para o exterior e não para
nós próprios. Sonhar com uma instituição obcecada em
contribuir, activamente, para a modernização do Estado e
para a inovação do tecido empresarial. Sonhar com uma
instituição cada vez mais atractiva, onde os que estão
tenham orgulho em estar e os que não estão tenham saudades,
ou vontade, de cá estar.
Recentemente, faleceu um dos homens que, no início dos
anos 80, sonhou e lançou os alicerces do INESC. Quando, no
Verão de 1997, o Professor Lourenço Fernandes saiu
temporariamente do INESC, escreveu uma carta aberta ao
Professor José Tribolet, em que dizia que “contrariamente
ao que seria de esperar num País de gente que pensa pequeno,
se move pela inveja e pela pequena quezília, em que o
acessório teima em ter a primazia ao essencial”, ele
saía “imbuído dos mesmos ideais” e com uma “energia
reforçada, para continuar a mesma luta”.
De facto, vencer o Adamastor é uma luta que ainda não
está ganha e na qual todos temos uma palavra a dizer.
No INESC Porto, ainda há quem sonhe?
O CONSULTOR DO LEITOR COMENTA
Caro INESCOSSAURO,
Adorei esse termo e vou adoptá-lo - até porque me recorda
que os dinossauros foram extremamente bem sucedidos e
sobreviveram por centenas de milhões de anos e, mesmo quando
aparentemente desapareceram, deixaram afinal ainda nas aves
uma descendência pujante e viva. Eles estão no meio de nós.
Quero ser um Inescossauro! E sonho deixar pegadas tais
que tenham que as acomodar numa nova pedreira do Galinha,
tecnológica, já se vê.
Quanto ao mais, eu acho que temos feito um percurso
extraordinário, nestes 20 anos - e arrisco a afirmar que
superámos a mais atrevida ou visionária aposta que no
passado se fizesse sobre onde conseguiríamos chegar.
No INESC Porto ainda há quem sonha, isso te posso
garantir.
O sonho faz-se de movimento, e tu tens razão: para onde
nos movemos? Aproveitemos a desculpa do aniversário dos 20
anos para o debate. Mas, por favor, poupem-me ao choradinho
nacional, que se excede em diagnósticos só para poder ter
razão a afirmar a desgraça, a miséria nacional e a
impossibilidade de ser mais. Para esse peditório, nem sequer
já dei, porque nunca dei - mas estou farto de enxotar os
pedintes.
Terá dito Sun Tzu: “Conhece um desafio, e conhecerás
um caminho da vitória; conhece os caminhos da vitória, e
muitos desafios podem ser vencidos”. Se souberes onde
queres chegar, podes ganhar, mas se dominares as vias, mais
do que uma oportunidade estarão ao teu alcance.
Há muitos sonhos num sonho. Eis um que te ofereço:
colocar no MAPA MUNDIAL da excelência tecnológica o INESC
Porto. Agora, depois de uma década a nascer e outra a
consolidar a casa em terra lusa, é chegada a década da
presença planetária. Nos próximos 10 anos, o nosso desígnio
terá que ser estar entre os melhores do mundo - e ser
reconhecido por isso.
Na próxima década, quero o INESC Porto reconhecido como INESCOSSAURUS
REX(1).
Luce et impera (2)
Não é brincadeira.
(1) rex = rei (latim)
(2) emite luz e reina (latim)
* Colaborador da Unidade de Sistemas de
Informação e Comunicação (USIC)
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