B o l e t i m Número 48 de Fevereiro 2005 - Ano IV
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O p i n i ã o  

A Vós a Razão
"O país passou pelos ciclos do 'cavaquismo', 'guterrismo' e 'barrosismo' / 'santanismo', mas continua à deriva, sem rumo, sem estratégia, sem desígnios mobilizadores da sociedade", desabafa um dos nossos leitores, que se descreve como um inescossauro.

Galeria do Insólito
A cena passa-se em plena visita do Secretário de Estado do Desenvolvimento Económico, Manuel de Lancastre, ao INESC Porto. Estava o ilustre visitante a conhecer a mais recente spin-off do INESC Porto, quando o olho clínico do BIP (que está em todas) entra em alerta vermelho: sobre um ecrã apresentando um esquema técnico para Secretário de Estado ver, abre-se inopinadamente uma janela do Messenger!

Asneira Livre
Leitor aborda temas que estão na ordem do dia para a maior parte dos inesquianos: "É incrível como um pequeno cartão, com uma foto em que parecemos uns presidiários, pode de facto mudar a vida a tanta gente"

Biptoon
Bamos Indo Porreiros

Carpe Diem
Descubra nesta secção quem são os aniversariantes do mês de Março

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A  V Ó S  A  R A Z Ã O

Ainda há quem sonhe?

Por José Correia*

Entrei para o INESC em finais de 1989, na altura como aluno finalista. Um ano depois passei para bolseiro e desde Abril de 1992 que pertenço aos quadros do INESC, como contratado. É verdade, já cá estou há mais de 15 anos. Sou um inescossauro.

Ao longo deste período muita coisa mudou.

O país passou pelos ciclos do “cavaquismo”, “guterrismo” e “barrosismo” / ”santanismo”, mas continua à deriva, sem rumo, sem estratégia, sem desígnios mobilizadores da sociedade.

O Porto - cidade, área metropolitana e região - continua a definhar, com as suas elites e protagonistas políticos de costas voltadas, todos em permanentes guerrinhas de lana caprina enquanto, um a um, os centros de competência e decisão foram fechando portas e concentraram-se em Lisboa, levando atrás os melhores profissionais, em busca das melhores (em alguns casos únicas) oportunidades de trabalho.

A FEUP mudou do histórico, velhinho e desadequado edifício da rua dos Bragas para o moderno e espaçoso campus da Asprela, os espaços físicos e equipamentos melhoraram muito, mas será que o produto final acompanhou essa melhoria? Isto é, as novas gerações de licenciados saem da FEUP mais bem preparadas para enfrentar os desafios deste início do século XXI?

E o INESC Porto?

No INESC assisti à expansão nacional (Lisboa, Porto, Aveiro, Coimbra e Braga) e à actual separação; vivi o período dourado do FUNDETEC e os problemas que levaram ao fim da formação apoiada pelo FSE; estive envolvido em N reestruturações (Grupos, Grupos + Centros PEDIP, cartas azuis, vermelhas e verdes) e trabalhei em vários enquadramentos e com diferentes responsáveis.

De facto, muita coisa mudou e do INESC no Porto surgiu o nosso INESC Porto - Laboratório Associado.

Sem poder contar com o apoio dos operadores (TLP, PT, CTT), sem beneficiar de fluxos financeiros decorrentes da formação profissional, sem injecções de PEDIP’s ou PRAXIS, e enfrentando uma conjuntura político-económica difícil, que já dura há vários anos e cujo fim ainda não está à vista, sobreviver tem sido a palavra de ordem.

Nas circunstâncias actuais, sobreviver e afirmarmo-nos como INESC Porto, foi e é um desafio difícil, mas chega para nos satisfazer?

Estamos em vias de completar 20 anos de INESC no Porto e, caros inesquianos, está na altura de voltarmos a sonhar. Sonhar com uma instituição virada para o exterior e não para nós próprios. Sonhar com uma instituição obcecada em contribuir, activamente, para a modernização do Estado e para a inovação do tecido empresarial. Sonhar com uma instituição cada vez mais atractiva, onde os que estão tenham orgulho em estar e os que não estão tenham saudades, ou vontade, de cá estar.

Recentemente, faleceu um dos homens que, no início dos anos 80, sonhou e lançou os alicerces do INESC. Quando, no Verão de 1997, o Professor Lourenço Fernandes saiu temporariamente do INESC, escreveu uma carta aberta ao Professor José Tribolet, em que dizia que “contrariamente ao que seria de esperar num País de gente que pensa pequeno, se move pela inveja e pela pequena quezília, em que o acessório teima em ter a primazia ao essencial”, ele saía “imbuído dos mesmos ideais” e com uma “energia reforçada, para continuar a mesma luta”.

De facto, vencer o Adamastor é uma luta que ainda não está ganha e na qual todos temos uma palavra a dizer.

No INESC Porto, ainda há quem sonhe?

 

O CONSULTOR DO LEITOR COMENTA
Caro INESCOSSAURO,

Adorei esse termo e vou adoptá-lo - até porque me recorda que os dinossauros foram extremamente bem sucedidos e sobreviveram por centenas de milhões de anos e, mesmo quando aparentemente desapareceram, deixaram afinal ainda nas aves uma descendência pujante e viva. Eles estão no meio de nós.

Quero ser um Inescossauro! E sonho deixar pegadas tais que tenham que as acomodar numa nova pedreira do Galinha, tecnológica, já se vê.

Quanto ao mais, eu acho que temos feito um percurso extraordinário, nestes 20 anos - e arrisco a afirmar que superámos a mais atrevida ou visionária aposta que no passado se fizesse sobre onde conseguiríamos chegar.

No INESC Porto ainda há quem sonha, isso te posso garantir.

O sonho faz-se de movimento, e tu tens razão: para onde nos movemos? Aproveitemos a desculpa do aniversário dos 20 anos para o debate. Mas, por favor, poupem-me ao choradinho nacional, que se excede em diagnósticos só para poder ter razão a afirmar a desgraça, a miséria nacional e a impossibilidade de ser mais. Para esse peditório, nem sequer já dei, porque nunca dei - mas estou farto de enxotar os pedintes.

Terá dito Sun Tzu: “Conhece um desafio, e conhecerás um caminho da vitória; conhece os caminhos da vitória, e muitos desafios podem ser vencidos”. Se souberes onde queres chegar, podes ganhar, mas se dominares as vias, mais do que uma oportunidade estarão ao teu alcance.

Há muitos sonhos num sonho. Eis um que te ofereço: colocar no MAPA MUNDIAL da excelência tecnológica o INESC Porto. Agora, depois de uma década a nascer e outra a consolidar a casa em terra lusa, é chegada a década da presença planetária. Nos próximos 10 anos, o nosso desígnio terá que ser estar entre os melhores do mundo - e ser reconhecido por isso.

Na próxima década, quero o INESC Porto reconhecido como INESCOSSAURUS REX(1).

Luce et impera (2)

Não é brincadeira.

(1) rex = rei (latim)
(2) emite luz e reina (latim)

 

* Colaborador da Unidade de Sistemas de Informação e Comunicação (USIC)



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