Até ao final de 2005, a secção Especial do BIP será dedicada
à comemoração dos 20 anos do INESC no Porto.
No terceiro “capítulo”, o BIP entrevistou o director José
Carlos Caldeira que, com José Marques dos Santos e José
Manuel Mendonça, esteve na génese da criação da Unidade de
Engenharia de Sistemas de Produção (UESP).
BIP
- Como e quando “nasceu” a UESP?
José Carlos Caldeira - Com essa designação, a UESP foi
criada ainda antes da constituição do INESC Porto, como
resultado da fusão entre a Unidade de Investigação de
Engenharia de Sistemas de Produção e o Centro de
Transferência de Tecnologia em Automação e Controlo para
PME’s. Ela é, no entanto, a herdeira de uma área de trabalho
que surgiu praticamente em simultâneo com a fundação do
INESC no Porto, chamada Automatização Industrial e Gestão de
Energia.
BIP - Qual foi o seu papel neste "nascimento"?
JCC - Na altura da criação da UESP, eu era o
coordenador do Centro de Transferência de Tecnologia, pelo
que se pode dizer que fui um dos (vários) “progenitores”.
BIP
- Quais foram as alterações que a Unidade sofreu no âmbito
da gestão industrial?
JCC - Eu penso que a evolução da intervenção na área
industrial pode ser dividida em quatro fases. A Unidade
iniciou a sua actividade na área da automação industrial,
onde se destacavam os sensores e actuadores, a aquisição,
transmissão e processamento de dados, a monitorização e
supervisão, etc.. Na segunda metade dos anos 80, os
projectos começaram progressivamente a contemplar as áreas
normalmente designadas como gestão industrial, nomeadamente
o planeamento e controlo da produção, a engenharia de
produto e de processo, a qualidade, a manutenção, etc..
Finalmente, em meados dos anos 90, iniciou-se o período do
E-Business, onde as tradicionais áreas de gestão industrial
começaram a ser redefinidas, através da combinação de novos
conceitos e modelos de negócio com as tecnologias emergentes
nas áreas das comunicações. Actualmente, as redes de
cooperação empresarial são a forma mais avançada de
relacionamento inter-organizacional e é nessa área que
estamos a centrar o nosso esforço de I&D.
BIP
- Quais foram os grandes sucessos/marcos na Unidade?
JCC - Penso que podemos destacar dois tipos de
“sucesso” na UESP. Em primeiro lugar, um sucesso genérico,
ao ter conseguido manter ao longo dos anos um relacionamento
significativo e estável com as empresas em geral e com as
PME’s dos sectores mais tradicionais da nossa economia em
particular, um terreno reconhecidamente difícil para
instituições de I&D. Em segundo lugar, um conjunto de
projectos que, pelas suas características e/ou impacto,
marcaram a nossa existência, nomeadamente o sistema de
gestão de energia (instalado em empresas de diversos
sectores), o sistema de automatização dos laboratórios de
controlo de qualidade para rolhas de cortiça (que passou a
ser uma referência no sector), o projecto europeu
Shop-Control (o primeiro grande projecto europeu na área da
gestão industrial), toda a intervenção no sector do calçado
(que engloba mais de uma dezena de projectos, nacionais e
europeus, alguns deles de grande dimensão e com grande
impacto no sector) e o projecto europeu X-CITTIC, o primeiro
grande projecto na área de redes de empresas.
BIP
- Um dos primeiros projectos da UESP foi o projecto das
rolhas com a Seagraem. Em que consistiu esse projecto?
JCC - O controlo de qualidade dos lotes de rolhas de
cortiça era feito realizando um conjunto de ensaios e
medições a amostras relativamente grandes. Todos os dados
eram recolhidos e processados manualmente, o que resultava
num processo moroso, caro e muito sujeito a erros. Por outro
lado, os resultados tinham um enorme impacto económico, uma
vez que estamos a falar de uma matéria-prima cara.
O INESC propôs à Seagraem o desenvolvimento de um
sistema automático para a recolha, armazenamento e
processamento dos dados dos ensaios. Para além disso, foram
ainda automatizadas algumas das medições, tendo sido
desenvolvidos sistemas específicos para esse efeito,
nomeadamente em colaboração com o Departamento de Mecânica
da FEUP.
O sistema permitiu assim reduzir o tempo do processo
de vários dias para algumas horas e reduzir
significativamente os erros e os custos. O sistema passou a
ser uma referência no sector, tendo sido adquirido por
empresas clientes de rolhas e também pelos próprios
fabricantes.
BIP
- Qual foi, na sua opinião, o projecto mais emblemático de
sempre?
JCC - Eu gostaria de destacar três projectos: em
primeiro lugar, os dois projectos iniciais da Unidade, o
sistema de gestão de energia e o sistema de controlo de
qualidade para as rolhas de cortiça. Talvez por serem os
primeiros e, certamente, porque tiveram grande sucesso
(sobretudo pela sua inovação e pelo impacto que causaram),
estes projectos marcaram por muitos anos a actividade da
UESP. Merece igualmente destaque toda a intervenção na área
do calçado, quer pela sua dimensão, duração e abrangência,
quer pelo impacto que teve no sector, quer ainda pela
visibilidade externa que deu à Unidade.
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