Por Carla Carmelo Rosa*
Como já devem ter notado, 2005 é o ano mundial da Física.
Há cartazes espalhados pela cidade, lembrando dos 100 anos
passados sobre as revolucionárias publicações do, então
anónimo, oficial de patentes, envolvendo conceitos
fundamentais que revolucionaram a Física do século XX: o
fotão, a relatividade especial, o famoso E = mc2, o
movimento browniano... Se nos armarmos de lupa histórica
vamos descobrir um cientista astuto, que trabalhou em
diferentes áreas da Física, com uma coragem e humildade
raras, com as quais ousou questionar e propor novos
caminhos.
A comemoração do centenário vem numa altura em que, a
nível mundial, grandes desafios se colocam às áreas
científicas mais aplicadas: reverter a falta de motivação
generalizada das crianças para a Matemática, a Física, a
Química; formar profissionais de competência, com capacidade
de resposta, capazes de solucionar problemas e desafios,
numa sociedade cada vez mais automatizada/instrumentalizada.
As comemorações proporcionam assim uma oportunidade única
para a divulgação da realidade da investigação em diferentes
domínios da Física, a nível nacional e mundial, podendo até
demonstrar o impacto prático do investimento feito, quer por
entidades oficiais como empresariais, em projectos de
investigação. Se bem que o objectivo prioritário é
frequentemente o de estimular jovens estudantes para as
ciências exactas, sou de opinião que tal deveria ser
alargado a outros sectores da sociedade, pessoas e empresas,
como um estímulo à modernização e inovação.
Nada mais importante do que ter um gestor/director com
uma boa base e visão científica, capaz de se deixar levar
pelo imaginário de um cientista, retirando as mais-valias
económico-sociais para proveito do seu negócio. Podia
falar-vos de um Oftalmologista que conheci, capaz de
discutir Mecânica Quântica com um especialista, e grande
investidor em (e logo utilizador de...) novos conceitos de
imagiologia médica... mas não é com a sua história que eu
quero terminar.
Estão abertos projectos de curtos estágios para
estudantes pré-universitários, a decorrer nos meses de
Verão, como o projecto Universidade Júnior, pela
Universidade do Porto.
A Física tem uma série de propostas em diferentes
domínios de investigação, para os quais chamo a vossa
atenção. Em Julho as actividade surgem em paralelo com
ofertas de estágio de outras faculdades e departamentos, e
em Setembro decorrerá uma Escola de Física, mais
direccionada. A divulgação pela reitoria parece-me um pouco
atrasada (vejam em
http://www.up.pt/universidadejunior/index.php?page=1),
mas se alguém precisar de informações adicionais no que
concerne à Física, não hesitem em contactar-me.
Eu gostava de ver alunos de todo o Norte (e Sul, porque
não?!) de Portugal a participar nestes estágios - vai
existir alojamento para alunos que se desloquem de fora do
Grande Porto. A organização acaba por favorecer os jovens
pré-universitários que estão ligados a pessoas que trabalham
na Universidade do Porto, quando muitas das vezes há alunos
interessados, de áreas mais desfavorecidas ou de menos
recursos, que muito poderiam beneficiar destas iniciativas.
Mesmo assim, há que não desistir e usar a nossa capacidade
de mobilização e divulgação para fazer chegar esta
iniciativa mais longe. Se souberem de jovens curiosos....
Carla Carmelo Rosa
ccrosa@fc.up.pt
PS: Numa próxima oportunidade, promessa de alentejana,
Migas à Tripeira...
O CONSULTOR DO LEITOR COMENTA
Cara amiga, que oportuno o teu comentário!
E queres melhor comemoração no INESC Porto do que termos
lançado uma empresa cujos promotores são FÍSICOS???
Falo da FiberSensing SA, como imaginas. Não achas que
devemos capitalizar no que isso representa de oportunidades
para jovens que queiram tirar um curso de Física? É que a
Física, como curso, goza de um défice de imagem duplo: que é
difícil e que não dá saída profissional.
Que é difícil, sabemos. Não pode deixar de ser, embora os
seus actores devam fazer um sério exercício de reflexão
sobre como a visão que têm de um curso de Física se adapta à
cultura e sociedade actuais e sobre como se faz o
marketing de um curso de Física. Há um défice assustador de
procura da Física como opção dos alunos e a culpa não pode
estar toda neles ou nos pais ou no secundário. Que faz a
Faculdade para conquistar a sua fatia de mercado?
Que não dá saídas profissionais, ainda falta ser provado.
Mas não é espantoso que permita ser-se empresário? E permita
a criação, em Portugal, de empresas de alta tecnologia? E
(supõe-se, espera-se) ganhar dinheiro?
Quando receberes os teus jovens, na Universidade júnior,
não te esqueças das motivações deles em vez de só veres as
tuas. Não te esqueças de usar o exemplo da FiberSensing SA
como demonstração que na Física também há vida.
* Colaboradora da Unidade de
Optoelectrónica e Sistemas Electrónicos (UOSE)
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