Por Paulo Monteiro*
Há muitos, muitos anos, andava eu pela antiguinha FEUP da
Rua dos Bragas a fazer por estudar e a sonhar ser engenheiro
e lembro-me de uma sessão com o nosso Professor Tribolet
tentando promover o alargamento do INESC de Lisboa para o
Porto e converter as massas à causa. E assim foi, em meados
dos anos 80, a criação do pólo do INESC no Porto. Era coisa
nunca vista, pelo menos para mim, o ambiente que então
reinava naquela inovadora instituição, onde já se respirava
a Europa, a esperança e até recompensas interessantes pelo
trabalho efectuado, quando comparado com o panorama da
época. Nessa altura o INESC inspirava, estimulava e prometia
um futuro próspero e feliz.
Entretanto a vida levou-me para outras experiências,
durante vários anos, desde o CERN, a “tropa”, ou as empresas
da SONAE. Nova reviravolta da vida, as saudades da
Engenharia e o acaso, trouxeram-me de novo ao INESC. E
encontrei um INESC em contra ciclo com as empresas, nessa
altura, por inícios dos anos 90, onde ainda haviam viagens
de avião e visitas às feiras internacionais onde se
encontrava a nata das nossas áreas tecnológicas e,
claramente, ainda íamos à frente em relação à maioria das
empresas, liderando o conhecimento tecnológico.
Nessa altura as grandes empresas nacionais tremiam, e
debatiam-se com o processo da grande concentração em Lisboa,
processo que para nossa infelicidade ainda hoje continua,
qual buraco negro faminto, que numa clara fuga para a frente
tudo suga ao resto do país. Mas não vale a pena culpar os
outros, pelo espaço que não conseguimos ocupar, nem é só por
isso que estou aqui a meditar. Assim, o próprio INESC
entrava numa crise existencial, se INESC, se INESC Porto? Se
mais académico, se mais empresarial. Ganhou o INESC Porto e
o mais académico. Nem Links, nem Novabases. Só o INESC
original, o “puro”, como no início.
E agora, perante o cenário actual, de crise cada vez mais
profunda, pergunto-me para onde vamos. Quais as grandes
estratégias para a nossa instituição para ultrapassar estes
momentos de aperto e conseguir pôr de novo o INESC Porto na
vanguarda? Possivelmente a resposta vai ser que cada um,
cada grupo ou Unidade terá de encontrar o seu caminho.
Interessaria porém pensar quais os modelos que estão a
ter sucesso nas Unidades da nossa Instituição, e se estão
alinhados com os objectivos gerais do INESC Porto.
Da perspectiva de quem olha sem o conhecimento completo
da situação, diria que a Unidade de Energia parece ter um
modelo ganhador alinhada pelos diversos critérios, desde os
académicos, ao nível da prestação de serviços, publicações,
cumprimento do orçamento, equilíbrio no número de
contratados versus universitários ou bolseiros, etc.
Se a minha perspectiva estiver correcta, e este é um caso
de sucesso, como é que tal acontece? Porque não acontece nas
outras Unidades? Tenho a certeza que há cá muita gente a
pensar nisto e provavelmente já haverá conclusões. Para mim,
e outros como eu, um contratado, isto são questões
importantes até porque é necessário alinhar as nossas
estratégias pessoais com as do INESC Porto, a bem de todos.
Acredito que é por instituições como o INESC Porto que
passa a solução de muitos dos problemas do nosso país, só
que tem de ser um INESC Porto mais dinâmico, renovado e
capaz de vencer os novos desafios. Para isso tem também de
ser um INESC Porto capaz de inspirar, estimular e prometer
um futuro próspero e feliz, como o foi no seu início.
O CONSULTOR DO LEITOR COMENTA
Caro Paulo,
O teu exercício, a tua proposta de reflexão são oportunos e
só faz falta quem mais proponha disso.
O que tu sugeres: que se faça uma inventariação e uma
reflexão sobre boas práticas, no INESC Porto. Ora nem mais.
Há anos, tivemos uma encontro, uma jornadas internas e
reflectimos sobre o futuro do INESC Porto. Ainda me recordo
que tivemos que ir para o Salão Nobre da FEUP, na Rua dos
Bragas, para podermos acolher todos os interessados em
apresentar e discutir as teses submetidas. Foi
interessantíssimo, o exercício, e muito útil.
Está, talvez, amadurecido o momento de fazermos um novo
exame interno, em figurino parecido, com apelo a teses e sua
discussão colectiva. Sobre boas práticas.
Temos a maturidade suficiente para nos examinarmos e
avaliarmos sem ciúmes entre áreas ou rivalidades de imagem
entre grupos. As coisas são como são, e não basta apenas
olhar para indicadores de resultado, é preciso ir às causas,
à conjuntura, aos elementos de rigidez estrutural, sem
cegueira, sem desculpas e sem análise tendenciosa.
Tiveste uma coragem essencial, que foi indicar pelo nome
a USE como o que te aparece, no alcance do teu exame, como
possível modelo ganhador. Não sei se é, mas o que precisamos
é de mais humildade dessa natureza, para ver o que está bom
e elogiar e querer verificar se há virtudes ali, e se há
forma de as adquirirmos também. Precisamos dessa falta de
pudor para vencer o pudor debilitante tão tipicamente
português, que prefere deixar tudo num cinzentismo medíocre
(pois, se alguém se salienta, faz-nos sombra...) e que,
usando de melíflua hipocrisia travestida de boa moral,
sustenta que apontar um bom exemplo alheio é diminuir
alguém.
Não é. Nas sociedades, nas organizações eficientes e
evoluídas, os bons modelos são para identificar e elogiar,
visivelmente, para serem isso mesmo: modelos.
* Colaborador da Unidade de Sistemas de
Informação e Comunicação (USIC)
<< Anterior
| Seguinte >>
|