D E S T A Q U E Para evitar o perigo de “apagões” em Portugal e Espanha
INESC Porto realiza grande estudo para planeamento de reservas de energia Consegue imaginar os efeitos do apagão de 1999 no Brasil? Recorda-se do apagão que lançou o caos em Moscovo em 2005 afectando cerca de dois milhões de pessoas? Para evitar situações extremas de falha de electricidade na Península Ibérica, a Unidade de Sistemas de Energia está a desenvolver um sistema inovador que ajudará as Redes Eléctricas de Portugal e Espanha a planearem reservas de energia até 2025.O grande estudo A Unidade de Sistemas de Energia (USE) iniciou, em Novembro de 2006, um grande estudo sobre as reservas operacionais a longo prazo nos sistemas eléctricos de Portugal e Espanha, num projecto contratado pela Rede Eléctrica Nacional (REN) e Red Eléctrica de Espanã (REE), os dois operadores de sistema da Península Ibérica.
O projecto, que deverá estar concluído em Outubro de 2007, tem por objectivo identificar as necessidades de reserva resultantes não só do crescimento do consumo e de alterações ao sistema produtor, mas também da progressiva integração de grandes quantidades de potência eólica.
Enquadramento Os sistemas de energia eléctrica de cada país dispõem de um conjunto de geradores para fornecerem a energia necessária. O problema é quando avariam e ficam indisponíveis. Nesses casos, é necessária mais potência para colmatar as falhas. Para além disso, os recursos hídricos e eólicos nem sempre estão disponíveis na totalidade da sua potência.
É fundamental dispor de uma reserva operacional em cada hora que seja capaz de compensar, não só a ocorrência de avarias e aumentos imprevistos de consumo, mas também as variações inesperadas de vento e outros recursos voláteis.
Análises de simulação A análise a longo prazo que está a ser feita pela equipa da USE consiste na simulação de diferentes condições no futuro com as possíveis variações do fornecimento/consumo e considera o aumento previsto dos consumos até 2025.
Como explica Manuel Matos, coordenador da USE e do projecto, simulam-se muitos anos possíveis com diferentes sequências de afluência hídrica e de vento, assim como possíveis avarias das máquinas, de acordo com os dados estatísticos que existem. “Calculando depois a média das horas por ano em que não conseguiríamos assegurar o consumo em todas estas simulações, podemos quantificar o risco”, afirma.
O risco e a segurança Os indicadores obtidos depois da análise permitirão apontar o risco de não satisfazer o consumo, decifra Manuel Matos, acrescentando que o objectivo é manter esse risco abaixo de valores considerados adequados.
Os resultados alcançados no final do estudo indicarão à REN e à REE se é necessário aumentar o parque produtor em relação ao previsto. Por outro lado, identificar-se-á a necessidade de disponibilizar mais máquinas para funcionar em situação de reserva operacional. “Temos de assegurar a segurança do abastecimento”, declara o coordenador da USE, precisando que “não se trata da segurança de pessoas em termos de acidentes, mas a garantia de que, a cada momento, é possível fornecer energia eléctrica a todos os consumidores”.
Um estudo multi-funcional Embora centrado num processo de simulação estabelecido, este estudo é inovador por se focar na análise a longo prazo da reserva operacional, que é por natureza uma matéria de curto prazo. De acordo com Manuel Matos, este estudo terá uma dupla função, pois analisará em simultâneo duas situações.
“A longo prazo verificaremos se as máquinas de que dispomos para fornecer electricidade são suficientes em termos gerais para fazer face às variações futuras do consumo”, revela o professor. Por outro lado, a reserva operacional deve ser rigorosamente planeada, uma vez que as máquinas que estiverem em reserva têm de estar a funcionar, o que implica custos adicionais.
O ponto de equilíbrio “Não podemos ter custos com máquinas que não são necessárias, mas também não podemos correr o risco de deixar um país às escuras”, garante o coordenador, assegurando que é esse difícil ponto de equilíbrio que as Redes Eléctricas de Portugal e Espanha precisam.
Este trabalho vai permitir que a REN e a REE estimem, nas condições previstas para o desenvolvimento do sistema gerador, o risco da falta de abastecimento. Esse risco nunca poderá ser igual a zero, mas deve estar abaixo de valores considerados aceitáveis. Manuel Matos considera que “este trabalho vai ajudar os operadores a encontrar medidas para assegurar que os níveis de risco sejam aceitáveis, permitindo-lhes optimizar os custos e garantir a segurança”.
Os recursos humanos A equipa do projecto inclui Manuel Matos e João Peças Lopes (coordenadores da Unidade), Mauro Rosa e Ricardo Ferreira, contando ainda com a colaboração de Armando Leite da Silva, antigo colaborador da USE no âmbito do contrato de Laboratório Associado, actualmente na Universidade de Itajubá, no Brasil.
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