E D I T O R I A L
O PaÃs SICI Devemos interrogar-nos onde estão visíveis os modelos de comportamento positivos que queremos que as gerações sigam e imitem. Mas é difícil encontrar. Porque estamos no país SICI – silenciosos e cinzentos – e ninguém elogia ninguém.
É também o país SICI o do não-te-evidencies, claro, porque a pressão social em favor da mediocridade tem por base o raciocínio de que, por cada um que se saliente, outros ficam na sombra e convém fingir que todos apanhamos e merecemos pela mesma medida.
No país SICI não há retratos nem estátuas dos heróis comuns, apenas dos antigos e, de quando em quando, um estádio de futebol ou uma rua com o nome do cacique local, embora às vezes o pudor ataque como uma lepra lenta e se venha a mudar o tal nome trocando-o por outro mais asséptico. Os heróis comuns são os cidadãos que são excelentes na sua vida e trabalho e que influenciam para o bem a sua comunidade. Mas no país SICI não convém haver herói nenhum para que todos possam passar por um.
No país SICI fica bem ir à televisão e afirmar orgulhosamente que, quando em jovem, “também” não se tinha queda para a matemática – e, com isso, desculpar o insucesso numa área fundamental para o progresso e a riqueza colectiva. No país SICI é elegante contrapor a qualquer indicador positivo um “mas” que cita logo outro negativo, de forma a anular o efeito do primeiro. Não se aprecia o mérito deste, dilui-se logo para que não se tenha que reconhecer qualquer mérito a nada ou ninguém.
No país SICI quem não é pessimista é tolo, quem não se lamenta é cego.
É estranho, pois, que neste número do BIP apareça uma voz ao arrepio da cultura SICI. A nossa rubrica “A Vós a Razão”, que permite opiniões espontâneas dos nossos colaboradores, regista um rasgado e profundo elogio de alguém para alguém.
É tempo de a instituição reconhecer e elogiar melhor os seus, seguindo este exemplo.
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