Aproximando-se o final do ano, convém reflectir
incisivamente no que foi feito e no que se planeia para o
próximo. Isto não apenas obedece às oportunidades de
calendário, mas também às conveniências da realidade,
pois já em Dezembro se reunirá o Conselho Geral da INESC
Porto para apreciar o Plano e Orçamento para 2003.
2002 foi um ano complicado. A depressão económica da
economia real criou-nos uma situação de dificuldade, a
qual se somou ao hiato resultante da mudança de
programa-quadro na União Europeia e a alterações (e
atrasos) na política de pagamentos da Comissão Europeia.
Como a nossa actividade depende em parte da participação
em projectos europeus, o reflexo foi imediato.
Em situação de depressão económica, a relação entre
recebimentos de clientes e pagamentos a fornecedores
deteriora-se, muito em particular para instituições sem
fins lucrativos como o INESC Porto, que tem uma fracção
importante da sua actividade associada a contratos e
projectos que merecem financiamento público parcial. Para
receber o financiamento das despesas elegíveis, é em regra
necessário efectuá-las e apresentar o recibo respectivo -
o que significa que estas instituições não dispõem, com
a mesma amplitude, da almofada de sobrevivência que possuem
empresas com outro tipo de actividade, e que é atrasar
pagamentos. Por isso, continuamos a ser bons pagadores, mas
já não temos a mesma sorte como bons recebedores, porque
efectivamente se verificou uma acentuadíssima dilatação
dos prazos médios a que somos obrigados para conseguir
receber a facturação que emitimos. Isto refere-se não só
a contratos com empresas privadas como com a Administração
do Estado, central e local.
A depressão económica também implica retracção das
empresas relativamente a investimentos em tecnologia e
inovação. Nesse aspecto, o que se passou em 2002 não foi
mais do que característico. Como parte substancial das
decisões sobre estes tipos de investimentos se baseia em
expectativas, basta analisar o tipo de expectativa
pessimista que as sondagens sobre a conjuntura revelam no
país para entender outro dos motivos de retracção. O
nível de actividade, em 2002, situar-se-á, decerto, uns
furos abaixo de 2001.
Por outro lado, as condições particulares de
governação, neste ano, conduziram a que o próprio Estado
aparecesse a dar sinais de contracção, desde redução de
despesas até efectivos atrasos na tomada de decisões que
poderiam implicar despesa, inclusivé nos organismos
tutelares da ciência. Isto só pode aumentar o sentimento
de crise e o afundamento das expectativas - e agravar o
cenário de vida de diversos agentes económicos, como o
INESC Porto.
A consciência das dificuldades tem que ser assumida. O
INESC Porto necessita, diria exige, que os seus
colaboradores identifiquem todos os aspectos de
ineficiência e se empenhem em lhes dar solução.
Necessita, diria exige, um empenhamento dinâmico na
abertura de novas áreas de actividade para aumentar a
possibilidade de assegurar um volume de contratação
adequado. Necessita, diria exige, a identificação de novos
mercados de ciência e tecnologia e de novas oportunidades.
Necessita, diria exige, uma continuada concentração na
qualidade científica e seus indicadores externos para que o
que de positivo foi ganho (a avaliação elogiosa que nos
foi feita, a condição de Laboratório Associado) não
venha a perigar no futuro. Necessita, diria exige, uma
solidariedade forte entre todos, e uma justa repartição
entre todos dos esforços e sacrifícios necessários, na
certeza de uma compensação futura se assim for.
Toda esta envolvente nos deve colocar questões
inadiáveis sobre 2003.