Por Henrique M. Rendall Évora*
Foi em Junho de 1998, na cidade do Mindelo - Cabo Verde,
que pela primeira vez ouvi falar no INESC Porto, aquando da
realização do Elab-Especial, evento que teve lugar numa
unidade hoteleira desta cidade. As brilhantes comunicações
dos intervenientes, à volta do tema chave
"Electrificação e Integração em Redes de Sistemas
Eólicos e Fotovoltaicos" despertaram em mim um enorme
interesse pela área de Energia (uma vez que sou Engenheiro
da área de Sistemas Industriais - Automação) e fizeram-me
acreditar ainda mais que era possível explorar melhor as
potencialidades do meu país - Cabo Verde, particularmente a
nível de energias renováveis.
Em Junho de 1999 tive o prazer e a honra de assistir ao
3º ELAB realizado na maravilhosa cidade do Rio de Janeiro,
onde mais uma vez fiquei deslumbrado com as comunicações
dos palestrantes convidados, na sua maioria Professores e
Investigadores do INESC Porto, e ali pude contactar melhor
com muitos dos participantes ligados ao INESC Porto,
particularmente o Professor V. Miranda que prontamente se
disponibilizou para criar condições no INESC Porto, em
nome de futuros acordos de cooperação com instituições
cabo-verdianas, caso pretendesse fazer um mestrado na FEUP.
Em Outubro de 2000 comecei a trilhar mais uma etapa da
minha carreira académica e profissional, ao ingressar na
FEUP para fazer um curso de mestrado em E.E.C., ramo de
Sistemas de Energia, missão que agora chegou ao final, com
sucesso. Ao longo destes últimos 2 anos deparei com imensos
obstáculos, levando em conta que vinha da Licenciatura numa
área diferente da de Energia e após um interregno nos
estudos que durava já seis anos, sem falar da vertente
afectiva, ao deixar a família na minha terra natal. Mas a
maior dificuldade prendeu-se com o facto de querer fazer uma
dissertação que fundamenta numa tecnologia relativamente
nova - Teoria dos Conjuntos Difusos.
E para vencer estas barreiras contei a preciosa
colaboração do INESC Porto, instituição que me acolheu e
que prontamente colocou à minha disposição todo apoio
logístico, para além dos serviços de fotocópias, entre
outros. Mas os mais preciosos apoios vieram do pessoal da
unidade de Energia, desde os professores investigadores aos
estudantes estagiários da unidade, que colocou toda a sua
capacidade, conhecimento e experiência ao serviço das
minhas necessidades ou lacunas, coroado com todo o carinho e
a amizade que lhes são peculiares. Acredito que, sem estes
preciosos apoios, nunca conseguiria vencer as difíceis
barreiras encontradas e hoje não estaria a atravessar a
meta.
Mas posto impõem-se duas questões: primeiro, em que é
que se baseou o INESC Porto para me apoiar da forma como o
fez? Segundo, quais são ou foram os proveitos do INESC
Porto nisto tudo? Ora bem, penso que quando há muita
vontade nas pessoas podem-se perfeitamente dar oportunidades
e depois pôr o "preto no branco". Neste caso foi
o que aconteceu, ou seja, passado um ano após o meu
acolhimento no INESC Porto, este e o ISECMAR (Instituto de
Engenharia e Ciências do Mar - C. Verde) instituição a
que pertenço, assinaram um protocolo de cooperação em
domínios de interesse comum, entre os quais no apoio à
formação e à pós-graduação. Ainda sobre este
parágrafo espero uma ideia do "consultor do
leitor", para reforçar esta questão da cooperação.
Para terminar o relato do meu relacionamento com o INESC
Porto queria deixar apenas um reparo: durante o tempo que
estive nesta "minha casa no Porto" notei uma fraca
convivência, pouco convívio ou mesmo reduzidos
intercâmbios sociais e/ou profissionais entre as diversas
unidades da instituição, com excepção ao nível
desportivo onde pude dar a minha contribuição, dentro das
minhas capacidades, claro. Se estiver certo, então que
promovam estes tipos de contactos, pois, basta lembrar o
velho provérbio: A UNIÃO FAZ A FORÇA.
Agora, que me desculpe "a voz da razão" mas
vai falar "a voz do coração". Se me permitem vou
aproveitar este espaço para agradecer a todos aqueles que,
de uma forma ou de outra, me apoiaram com muita amizade ao
longo destes dois anos, especialmente a todo o pessoal da
unidade de Energia. Espero que isto não signifique o fim,
mas sim, o início de um longo relacionamento profissional e
de muita amizade, e quiçá, a curto ou a médio prazo, seja
criado o INESC Cabo Verde!!!
A todos um MUITO OBRIGADO, e um até sempre.
Ah, "Criolo" é uma designação normalmente
atribuído a um Cabo-verdiano.
* Colaborador da Unidade de
Sistemas de Energia (USE)
O CONSULTOR DO LEITOR COMENTA
É mesmo enternecedor, o tom amigo desta mensagem deixada
pelo Henrique Évora, na véspera do seu regresso ao Mindelo
e a Cabo Verde, terra de gente "sabe". Na
"hora di bai" o Henrique quis-nos deixar um
testemunho muito pessoal da sua experiência, e a nós
basta-nos dizer que o recebemos com muito amizade e o vemos
partir com mais ainda.
Isto não será o fim - se não o quisermos. Mas para uma
ponte se erguer, precisa de um apoio em cada margem. Do
nosso lado, cá vamos apostando na engenharia civil humana.
Do lado de S. Vicente, esperamos que faças o que te
compete, que é canalizar as energias e a imaginação para
reforçar a estrutura que nos pode manter a ligação.
O INESC Porto, em conjunto com a Faculdade de Engenharia,
estará disponível para cooperar com todos os projectos com
imaginação e ambição. Em particular, o INESC Porto
estará disponível para acordar com o ISECMAR num programa
faseado de acolhimento de bolseiros que se venham a envolver
em projectos concretos. E, certamente, estará disponível
para ajudar a construir uma relação continuada e que seja
vista como proveitosa pelo Instituto Cabo-Verdiano. Espero,
pois, que surjam as ideias e não morram os contactos.
Em especial a ti, Henrique Évora, não te deixes embalar
pelas mornas e não percas o gás. Vais, no teu regresso,
ser solicitado a executar muitas tarefas e terás que
compensar o teu período de ausência. É da tua
responsabilidade conseguir organizar o teu tempo para que o
objectivo de cooperação não fique secundarizado.
Finalmente, o teu ponto de vista sobre o convívio social
no INESC Porto é pertinente e seria interessante que se
formasse um debate sobre este tema: como é, no INESC Porto,
o acolhimento (social, não formal) aos que vêm de fora?
Não deixarei morrer o assunto.