Não sei se todos deram conta, mas já vamos
praticamente em "1 ano 1" sem decisões da FCT
sobre projectos de investigação em concurso.
E que dizer dos concursos para bolseiros?
A sensação amarga é que regressamos ao stop-and-go.
A desilusão resulta do desmaio da esperança.
De há alguns anos a esta parte, a comunidade científica
animou-se. Não se quer aqui esgrimir com números, mas
sublinhar um outro factor: nascera a sensação de que,
finalmente, havia algum profissionalismo na relação entre
o Estado e a comunidade científica.
Entre outros factores, esse profissionalismo implicara
uma substancial diminuição da incerteza - na gestão de
prazos, orçamentos, contratos, iniciativas e na
previsibilidade do futuro imediato.
A actividade de investigação científica e
tecnológica, ao nível de país desenvolvido, é cara e é
de risco. As unidades de investigação empenham-se em
envolver o país nos projectos europeus dos vários
programas mas, como se sabe, nada é garantido à partida.
Muita da investigação depende hoje de Institutos de
direito privado e sem fins lucrativos cuja sobrevivência
com saúde é politicamente relevante.
Os programas da FCT são um complemento necessário, um
instrumento indispensável para aumentar a estabilidade da
formação de massas críticas e know how crítico no nosso
ainda débil sector da investigação nacional.
Quando essa estabilidade não existe, dois efeitos
perversos surgem: a) a audácia diminui e as decisões de
investimento contraem-se, e perdem-se oportunidades, porque
a incerteza é insustentável; e b) dispensam-se recursos e
amputam-se valores, porque a percepção do risco vem
intensamente amplificada e é preciso minimizá-lo, a custo
de actividade reduzida.
Não há medida melhor de economia de recursos do que
manter uma programação estável ao nível de
responsabilidade da FCT. Também na condução da política
de investigação científica, o Estado tem que ser uma
pessoa de bem e confiável. Chega de terceiro mundismo.
O Governo tem que gerar confiança nos agentes do sistema
científico nacional. Infelizmente, vimos esperando em vão
sinais reconfortantes.